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ATALAIA, Vila Nova da Barquinha, Portugal
Vivendo nesta terra há 30 anos vou perguntar à história e à tradição qual a origem desta localidade. Desejo saber quem neste atractivo sítio erigiu a primeira construção, quais as obras que foram nascendo, a sua idade e as mãos que as edificaram, quais os seus homens ilustres e os seus descendentes, quem construiu as estradas, os caminhos, as pontes e as fontes. Quão agradável será descobrir em cada pedra os nossos antepassados levantando com palavras o sonho do nosso futuro. Atalaia, 18-11-2007.

6.5.09

175.º Aniversário da Batalha da Asseiceira

As ligações históricas entre os habitantes da Atalaia e da Asseiceira são de tempos ancestrais.
Recordo, só a título de exemplo, que já em 20 de Novembro de 1253, por documento ordenado por D. Afonso III, (pai de D. Dinis), deu este rei vários privilégios aos habitantes de Atalaia e de Ceiceira (Asseiceira). Este enorme elo histórico entre estas duas populações adjacentes levou-me a rever a história da Batalha da Asseiceira ocorrida no dia 16 de Maio de 1834. Desde já quero fazer um singular reparo, o texto apresentado abaixo, em sinopse e adaptado, é da autoria do Marquês de Fronteira e de Alorna e é a história contada dos vencedores.
… Chegámos (a Tomar) na tarde de 14 de Maio. O belo Convento estava ocupado por uma considerável força miguelista e, no prado, para lá da vila de Tomar, descobriam-se seis belos esquadrões de cavalaria, doze bocas de fogo e uma grande força de infantaria que se não podia calcular bem por causa do arvoredo que a encobria.
O Convento ficava-nos no flanco direito quando avançávamos para Tomar, e o Marechal avançou sempre sobre a vila, sem lhe importar aquela força. Com espanto nosso, o inimigo abandonava a bela posição do Convento e a força concentrou-se no prado junto à vila e nas posições sobre a estrada de Asseiceira e Barquinha.
A nossa cavalaria esteve a tiro de pistola, em linha, em frente da cavalaria inimiga, mais forte dois esquadrões do que a nossa, e a nossa infantaria, em coluna, foi colocada na retaguarda da cavalaria, e a artilharia na retaguarda da infantaria.
Ao anoitecer, o inimigo retirou sobre a estrada de Asseiceira e o Marechal mandou colocar os seus postos avançados, estabelecendo o seu Quartel-General em casa do Superior do Convento de Cristo, o cavalheiro Athayde. Pela manhã fizemos um reconhecimento em força e o Marechal coligiu que o General Guedes (defensor da causa Miguelista) ocupava as belas posições da Asseiceira para nos dar batalha.
O General Guedes tinha reunido as consideráveis forças, com que saíra de Santarém, ás colunas dos Generais Cardoso e Ricardo. O Duque deu um descanso de vinte e quatro horas ás forças do seu comando e preparou-se para a grande batalha ...
Ao romper do dia, o Corpo de Exército do Marechal Duque da Terceira formou no belo campo junto á vila de Tomar e de que me não lembra o nome. A Brigada do Coronel Queiroz formava a vanguarda do pequeno Corpo de Exército; seguiam-se os seis esquadrões de Cavalaria do General Fonseca, a Brigada do General João Nepomuceno e a Brigada do Coronel Vasconcellos.
Próximo à posição de Asseiceira, num bosque que corta a estrada real, encontrámos, em força, o inimigo, com uma considerável linha de atiradores. Engajou-se logo em fogo a Brigada do General Queiroz e parte da Brigada do General João Nepomuceno, ocupando a cavalaria, em coluna, a estrada, ficando em reserva parte da Brigada do General João Nepomuceno e a Brigada do Coronel Vasconcellos; a nossa artilharia fez alto na estrada, a grande distância da retaguarda da cavalaria.
A força inimiga que ocupava o bosque era uma força que o General Guedes fizera avançar das suas belas posições para nos reconhecer, a qual se retirou fazendo-nos sempre frente, e depois, protegida por uma bela bateria de seis bocas de fogo muito bem servidas, conseguiu reunir-se ao seu Corpo de Exército.
Pudémos então descobrir as posições ocupadas pelo inimigo; o seu centro cortava a estrada de Tomar para a Barquinha, a direita ocupava a pequena aldeia de Asseiceira, e a esquerda, que era o fraco da sua posição, estava protegida pela cavalaria, que era superior á nossa, e pela artilharia, que o era também; por esta forma as posições do General Guedes eram excelentes e toda a probabilidade de vantagem devia ser a favor das armas do Usurpador (epíteto que os liberais designavam o Rei D. Miguel).
O Marechal Duque da Terceira fez entrar logo as forças do seu comando em ordem de combate. O Coronel Queiroz fez um movimento sobre a direita, ficando desde logo a ala direita em ordem de batalha; o Marechal avançou pelo centro com a Brigada do General Nepomuceno, e o Coronel Vasconcellos fez um movimento sobre a nossa esquerda e direita do inimigo. O General Fonseca, com a cavalaria, ocupava a estrada real, ficando, pouco mais ou menos, no centro da nossa linha, excepto os dois esquadrões organizados no Porto pelo Coronel Luiz Filipe e Major António de Mello, os quais seguiam o movimento da Brigada do Coronel Queiroz. O Marechal tinha ordenado a dois dos seus oficiais de ordens, o capitão Casimiro e o alferes D. Manuel de Sousa que ficassem debaixo das imediatas ordens do Coronel Queiroz.
A nossa artilharia colocou-se na melhor posição que o Marechal e o seu Chefe de Estado-Maior puderam encontrar, mas que era muito inferior á bela posição que ocupavam as baterias inimigas, tornando-se portanto, muito desigual o combate para a nossa artilharia. A artilharia inimiga não perdeu tempo: abriu desde logo um fogo terrível sobre as nossas colunas, principalmente contra o centro, que foi fulminado e batido em brecha por seis bocas de fogo, incluindo um obuz, que muito estrago fizeram nas nossas fileiras.
Os nossos atiradores avançaram com coragem: no centro, onde estava o Marechal Duque da Terceira, uma formidável linha de atiradores de Voluntários de D. Maria II avançou por tal maneira, fazendo um fogo mortífero, que levou á retaguarda os atiradores inimigos e as suas reservas, tentando tomar de frente á baioneta a formidável posição; o inimigo, porém, em força, em posições muito vantajosas e protegido pela sua artilharia que estava a tiro de fusil dos nossos atiradores e que fez uso da metralha, repeliu o ataque dos nossos Voluntários, sendo necessário que o Marechal Duque da Terceira e o General Nepomuceno avançassem com o resto de Voluntários de D. Maria II e com o Regimento 18, em força de três batalhões, para sustentar a nossa linha de atiradores.
O combate, no centro, tornou-se muito sério e mortífero. Vi muitas vezes o Marechal Duque da Terceira e o General Nepomuceno envolvidos em nuvens de poeira, em consequência de ricochetearem ao lado deles as balas da artilharia; as balas davam nos valados e muros, que cortavam as terras, e derrubavam-nos, fazendo cair uma quantidade de estilhaços que nos faziam perder muita gente, ferindo-a e matando-a.
Por três vezes, os dois Generais, o Coronel Mesquita do 18 e o Comandante de Voluntários de D. Maria II tiveram que se colocar á frente das suas colunas, para repelir o inimigo, que queria desalojar-nos das nossas posições. Na nossa direita, o Coronel Queiroz lutava com imensas dificuldades; os dois esquadrões de cavalaria que ele tinha, apesar de serem, como já disse, muito bem comandados, não estavam no caso de repelir uma carga de cavalaria inimiga comandada, no flanco direito, pelo Brigadeiro francês, Conde de Puiseux, que cobriu a retirada da Divisão do General Cardoso e que, por diferentes vezes, ousou carregar a Brigada do Coronel Queiroz, que, ora formando quadrado, ora em linha, repeliu as cargas com firmeza e resolução.
O Coronel Queiroz a todos os momentos requisitava um reforço de cavalaria, dizendo que a sua Brigada estava comprometida completamente, se não lhe aumentassem a força.
O Coronel Vasconcellos, na esquerda, não lutava com menos dificuldades. Não carecia de cavalaria nem receava da inimiga, porque o terreno era muito montanhoso, mas as perdas que tinha tido eram imensas: os atiradores inimigos e duas peças de artilharia faziam grande desfalque nas fileiras da Brigada. O Duque, com, repugnância, anuía ás requisições do Coronel Queiroz, porque via na sua frente uma grande força de cavalaria inimiga e poupava o melhor da sua cavalaria, debaixo das ordens imediatas do General Fonseca, para uma ocasião decisiva.
O combate estava duvidoso em toda a linha. O Coronel Vasconcellos declarava que lhe era impossível avançar e tomar as posições, e o Coronel Queiroz continuava a reclamar reforços de cavalaria, não ocultando o receio que tinha de ser forçado a vir á retaguarda. O Marechal Duque da Terceira, com o seu Chefe de Estado-Maior, observaram com os seus óculos a força do inimigo e os seus movimentos, e apearam-se, assim como nós todos, para tomar uma decisão sobre o movimento que tinham a fazer, porque não havia tempo a perder. Quando o Marechal e o seu Estado-Maior formavam um grupo e o Coronel Loureiro, fazendo uso do óculo, examinava o inimigo com toda a atenção, uma bala de fusil veio feri-lo gravemente no peito, donde lhe saiu um jorro de sangue, julgando todos nós e o próprio que a ferida era mortal. Levámo-lo em braços para traz de um muro, onde o supúnhamos ao abrigo das balas, e de aí foi conduzido à ambulância, acompanhado pelo cirurgião da Divisão, Libanio.
O Duque montou logo a cavalo e dispunha-se para atacar de frente e ordenar ás colunas da direita e esquerda que avançassem sobre o inimigo, quando o Coronel Queiroz, em pessoa, a grande galope, seguido do capitão Casimiro e do alferes D. Manuel de Sousa, veio dizer ao Marechal que, pela terceira vez, tinha sido carregado pela cavalaria inimiga que tinha sido reforçada por mais um esquadrão, e que, se lhe não mandasse um reforço considerável de cavalaria, lhe era impossível avançar. Nesta ocasião, o Marechal e todos nós observámos que a cavalaria inimiga, na nossa frente, fazia um movimento sobre o nosso flanco direito e que um numeroso Estado-Maior precedia a cavalaria, devendo nós presumir que era o General Guedes. O Marechal mandou-me logo levar ordem ao General Fonseca para que fizesse um movimento, a trote, sobre a direita e seguisse os movimentos da Brigada do Coronel Queiroz.
Dirigi-me a grande galope ao encontro do General, que executou logo a ordem, e o esquadrão de D. Carlos Mascarenhas fazia a frente da coluna que estava formada por divisões. Avançamos, a grande trote, sobre a direita. D. Carlos, chegando á esquerda da Brigada do Coronel Queiroz e encontrando-se com ele, recebeu ordem deste para fazer ombros esquerdos frente carregar dois esquadrões que tinha no flanco direito. O Coronel não via o General Guedes á frente de seis esquadrões e a pequena distancia dele na sua frente. D. Carlos, em lugar de dar a voz de ombros esquerdos, deu a de ombros direitos frente e meteu em linha o seu esquadrão, colocando-se á frente dele, tudo a galope, dando vivas à Rainha e gritando: Abaixo o General Guedes, que via de sabre na mão, á frente dos seus seis esquadrões para o carregarem.
A carga do nosso esquadrão foi brilhante. A rapidez dos seus movimentos foi como um raio que caiu sobre o General Guedes: os seis esquadrões e as seis bocas de fogo, que tinha na sua retaguarda, tudo ficou morto, ferido ou prisioneiro, e as seis bocas de fogo ficaram, desde logo, em poder do bravo D. Carlos. O seu arrojo não parou aqui: vendo diante de si inumeráveis mortos e feridos, seis esquadrões aniquilados e um parque de artilharia fora de combate, estando mortos, ao lado das peças, quase todos os artilheiros e os machos, seguiu o General Guedes, que, acompanhado dalguns dos seus Ajudantes de campo e de algumas ordenanças, tratava de salvar a vida, seguindo o caminho da Atalaia e da Barquinha, perseguindo-o até perto desta ultima vila.
O Brigadeiro francês, Conde de Puiseux, carregou com ímpeto, pela quarta vez, a Brigada do Coronel Queiroz, mas foi repelida a carga e morto o Brigadeiro. O Duque da Terceira ignorava completamente a bela carga e o resultado dela. Atacou de frente a posição e foi levando o inimigo de posição em posição, aprisionando e pondo fora de combate muita da sua força, até que se apoderou de todas as posições, pondo o inimigo em completa derrota, a ponto de abandonar armas e bandeiras. O Coronel Vasconcellos não foi menos feliz do que o Marechal Duque da Terceira e General Nepomuceno. Apoderou-se da posição, aprisionando três batalhões ao inimigo e grande quantidade de armas, pólvora e bandeiras. As forças do General Guedes não foram só derrotadas: ficaram completamente aniquiladas na famosa batalha de Asseiceira. Poucos foram os soldados miguelistas que puderam reunir-se ás bandeiras do seu Rei …
O Quartel General do Duque estabeleceu-se na Atalaia; todos os grandes lavradores da Golegã, Relvas, Honorio e outros muitos, vieram felicitar o Duque e fazer-lhe os seus oferecimentos.
As tropas de D. Miguel, segundo alguns historiadores, entre feridos e prisioneiros tiveram baixas de 2915 homens, sendo os prisioneiros mais de 1.400. Por sua vez as tropas de D. Pedro tiveram baixas de 344 homens, 34 mortos, 288 feridos e 22 desaparecidos.
A vitória pelas tropas de D. Pedro, em 16 de Maio de 1834, na batalha de Asseiceira, abriu o caminho para a ocupação da cidade de Santarém, o derradeiro baluarte das tropas de D. Miguel. Com a vitória das tropas liberais na Asseiceira, auxiliadas por tropas estrangeiras (1), no dia 26 de Maio de 1834, na Convenção de Évora Monte, é colocado termo à guerra civil com a rendição de D. Miguel e exílio deste Rei para a Alemanha, país onde viria a falecer.
Por último recordo que 6 dias depois da batalha, em 22/5/1834, do AUTO DE CÂMARA DA ATALAIA, consta que:“ Presentes o Juiz Ordinário, vereadores e mais oficiais da Câmara e outras pessoas. Foi dito que sendo restabelecidos os direitos da Senhora Dona Maria II e o Trono da Monarquia Portuguesa era chegado o momento de se fazer nesta Câmara a devida aclamação e reconhecimento ao Governo Legítimo da mesma Augusta Senhora … o que foi unanimemente acordado ... havendo por ilegítimo todo outro Governo que não seja desta Senhora estabelecido conforme a Carta Constitucional."
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(1) A designada Quádrupla Aliança, tratado assinado em Londres a 22 de Abril de 1834 entre os governos de Guilherme IV do Reino Unido, Luís Filipe de França, D. Pedro IV de Portugal , regente em nome de sua filha D. Maria II, e a regente de Espanha D. Maria Cristina de Bourbon, tinha para as partes contratantes um objectivo essencial o da imposição de regimes liberais nas monarquias ibéricas.
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Cartaz: Linhaceira Digital: http://linhaceira.net/?p=255
Bibliografia: Memórias do Marquês de Fronteira e d'Alorna D. José Trazimundo Mascarenhas Barreto ditadas por ele próprio em 1861 / rev. e coord. por Ernesto de Campos de Andrada. - Coimbra : Impr. da Universidade, 1928-1932. Biblioteca Nacional

2 comentários:

afigaro disse...

A batalha desenrolou-se talvez já com os "artistas" em fuga, na rua que dá acesso ao cemitério da Asseiceira, que segundo a minha avó, referindo-se a "contares" da sua bisavó dava pelo nome da rua dos Ourives: ficou destruída e a mortandade foi tanta que as valetas correram vermelhas, inundadas de sangue. O local da batalha, penso que nada tem a ver com o traçado do IC3 ou da Estrada Nacional, mas sim com a rua da fonte que passa pelo Grou em direcção à Atalaia e com bifurcação algures para os lugares das Rodas-Manholas...Penso que é um dado para para.Deixo a sugestão.

afigaro disse...

Reformulo a frase:" penso que é um dado para pesquisa".