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ATALAIA, Vila Nova da Barquinha, Portugal
Vivendo nesta terra há 30 anos vou perguntar à história e à tradição qual a origem desta localidade. Desejo saber quem neste atractivo sítio erigiu a primeira construção, quais as obras que foram nascendo, a sua idade e as mãos que as edificaram, quais os seus homens ilustres e os seus descendentes, quem construiu as estradas, os caminhos, as pontes e as fontes. Quão agradável será descobrir em cada pedra os nossos antepassados levantando com palavras o sonho do nosso futuro. Atalaia, 18-11-2007.

12.8.09

Leia em tempo de férias e, de preferência, a obra “A Princesa do Corgo", de Emílio Miranda, escritor residente em V. Nova da Barquinha


Do tempo de férias intermitentes que estou a usufruir aproveito para, após uns belos banhos, colocar em dia a leitura que por dever de ofício olvidei.

1. A Princesa do Corgo, Emílio Miranda, Ed. Planeta Editora, 1.ª Edição, 2009.
Compulsando a estante do supermercado Modelo vejo este livro recomendado. Perspicaz como sempre a minha prima Lina dá-me conhecimento que o autor é militar e vive em Vila Nova da Barquinha. Interesse redobrado e ... aquisição imediata.
Romance histórico deslumbrante onde o autor, num misto de ficção e realidade, nos mostra a dura vivência da época do reinado de D. Dinis.
Nas personagens de Simão da Cruz, foragido da lei por homicídio de Fidalgo, que se recrimina a miudamente e que foge a sete pés da área de jurisdição do senhor feudal, até Maria da Conceição que acompanhada do seu pai José e 2 irmãos, também foragido por furto de arado e crime de deserção da terra e do senhor onde forneciam a sua mão de obra como servos, todos vão para outras terras em busca de uma vida melhor, quais emigrantes dos nossos tempos. Passando pelas figuras de Manuel Mestre-de-obras, Zacarias, Adosinda, Bruxa do Corgo e Robalo (o tolo que de tolo não tinha nada), esta obra faz-nos recuar aos tempos primórdios da nacionalidade, das desigualdades vigentes nas classes sociais, dos critérios de justiça reinantes à época, da luta pela posse das terras, da discrepância entre sentimentos e atitudes dos homens e mulheres de antanho, muitas vezes de singular solidariedade e humanidade, dos seus usos e costumes e dá-nos a imagem da criação de uma cidade nos tempos de El-Rei D. Dinis.
Uma obra, de escritor residente no nosso concelho, que aconselho vivamente a ler.
Já agora esteja atento, em breve será publicado o seu próximo romance: “Teppô-Ki – O Livro dos Mosquetes”.

2. A escriba, António Garrido, Porto Editora, 1.ª edição, Janeiro de 2009.
Os factos descritos na escrita de António Garrido, escritor espanhol, ocorrem no ano de 799 d.c. É uma narrativa encantadora que nos transporta para a vivência das gentes no centro da Europa na Idade Média no tempo em que reinava Carlos Magno. Investigação dedicada com a busca de rigorosas fontes permite-nos conhecer a feitura dos pergaminhos da época, os ofícios das populações Alta Francónia / Alemanha, a vida das suas cidades e estrutura da sociedade. Saboreei a vida das personagens e os inesperados acontecimentos da história. Desde Theresa, que segue o oficio do pai Gorgias, a Alcuino de York, o frade protegido do Imperador, até à generosidade da mulher que pratica a profissão mais velha do mundo. A simbiose entre o rigor das fontes históricas e a prosa oscilante torna este romance, baseado em factos reais, numa obra inesquecível e convida o leitor a retroceder no tempo e a visitar as cidades, as abadias, os mercados e a conhecer os usos e costumes da época.

3. A Viagem do Elefante, de José Saramago, Editorial Caminho, 2008.
Aquando das primeiras leituras deste escritor, mormente "Evangelho Segundo Jesus Cristo", não me senti atraído com o seu verbo e fazia-me confusão a falta de pontuação. Todavia, devido à perseverança do meu amigo Augusto Santos, que todos os anos me oferta com obras assinadas pelo escritor, sou agora um assíduo leitor do Nobel da Literatura.
É impressionante como de um singelo facto - a oferta do rei D. João III ao arquiduque Maximiliano II da Áustria de um elefante indiano, na viagem da entrega de tão precioso animal, quase racional, e no percurso entre Lisboa e Figueira de Castelo Rodrigo, entrando por terras de Espanha até Viena - o escritor brinca com a realidade e a ficção, mistura ironia com sarcasmo, mostra o nu da condição humana sempre com uma primorosa imaginação. Disse Saramago: “O que me fez escrever o livro não foi saber que um elefante foi a Viena, mas sim o facto de depois de morrer, lhe terem cortado as patas para fazer delas um bengaleiro. Achei que era indecente, o elefante merecia outro respeito”.Pois, digo eu, ninguém foge ao seu destino.

4. Máscaras de Salazar, de Fernando Dacosta, Ed. Casas das Letras, 24.ª edição, 2007
Livro que analisa a pessoa e a vida de António de Oliveira Salazar personagem que governou o nosso país durante 42 anos.
A crónica pessoal desta figura faz-se a partir da recolha de testemunhos, confidências e segredos de vários protagonistas (defensores e opositores do regime) uns que viveram junto de Salazar, outros que tiveram contactos directos com a estrutura e funcionamento desse mesmo regime. A leitura desta obra permite-nos conhecer muito da nossa história contemporânea desde as obras realizadas, a sustentação do regime, as tradições e as personagens mais intervenientes na Nação e na cidade de Lisboa.
Amado por uns odiado por outros é essencial, nas palavras de Eduardo Lourenço “ conhecer a alma que o seu regime nos deu e nos tirou”.
Do livro retirei a seguinte máxima:
Quando desancado pela crítica: não responda. Não há nada que valha a dignidade do silêncio. Quanto mais você subir, mais detestado, mais insultado será. Eduque o seu espírito na lição da serenidade, que tudo vence, da generosidade que tudo perdoa.”

Boas leituras.

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