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ATALAIA, Vila Nova da Barquinha, Portugal
Vivendo nesta terra há 30 anos vou perguntar à história e à tradição qual a origem desta localidade. Desejo saber quem neste atractivo sítio erigiu a primeira construção, quais as obras que foram nascendo, a sua idade e as mãos que as edificaram, quais os seus homens ilustres e os seus descendentes, quem construiu as estradas, os caminhos, as pontes e as fontes. Quão agradável será descobrir em cada pedra os nossos antepassados levantando com palavras o sonho do nosso futuro. Atalaia, 18-11-2007.

5.3.12

A RESTITUIÇÃO DOS BENS DA IGREJA DA ATALAIA EM 1931

Por: António Luís Roldão

A perseguição movida pelos detentores do movimento republicano em ordem à instauração de um modelo político capaz de dar satisfação às legítimas aspirações do povo, saldou-se por um evidente fracasso. O mal da nação não estava na igreja Católica nem na sua doutrina, antes na incapacidade das cabeças pensantes e politizadas chamadas a corrigir os erros, os desvios, os abusos e o autoritarismo que minavam o país, sendo impotentes para obter um êxito sustentável. Essa incapacidade leva-os a ver fantasmas onde quer que fosse, obstáculos aos seus propósitos de governação, olhando a Igreja Católica e tendo-a como principal inimiga e impecilho do processo reformista pensado para a salvação da Pátria. O arrolamento dos bens da Igreja ocorrido em 1911 e a suspensão do culto católico até 1917, foram das principais medidas de coação tomadas, tendo por objectivo a asfixia da religião. A Atalaia, a sua Igreja e as Capelas que se estavam sob a sua alçada, a do Senhor Jesus da Ajuda; a da Moita; das Vaginhas e S. Caetano, viram-se espoliadas e impedidas do uso regular dos seus bens durante muitos anos. É a restituição desse espólito feito em 10 de Janeiro de 1931, como peça histórica que agora se revisita, dando conta dos actores presenciais e autorizados em acto tão importante; Francisco Monteiro da Silva; Joaquim José Vieira; João dos Santos Gil; Manuel Rodrigues Maia; Bernardino Gomes; Luís Falcão de Somer e Luís Augusto da Costa Ramos.

TEOR DO DOCUMENTO

Inventário ou arrolamento da Igreja da Atalaia – Igreja Paroquial ( Monumento Nacional ) sacristia, casa da Irmandade, e dependências. Casa e dependências foram demolidas na ocasião das obras de restauração da Igreja (Monumento Nacional – 1939). Uma custódia de prata, com pedras; um cálice rico, de prata dourada, com pixide (vaso do sacrário) de prata dourada; uma dita de metal dourado; uma cruz de prata para a extrema unção; dois pequenos resplendores de prata; duas pequenas caixas de prata para os santos; três lâmpadas de latão amarelo; dois turibulos e suas gavetas com colheres, tudo de metal amarelo; uma pequena campainha; três sinos na torre e um no relógio; uma caldeirinha para água benta de metal amarelo; ambulas de estanho para os santos óleos; uma concha de metal para os baptismos; uma chave de sacrário com fita encarnada; trinta e dois castiçais de pau dourado para os altares; quatro crucifixos de pau dourado, dois tocheiros na forma de castiçais para junto do altar-mor; seis varas do palio douradas; duas lanternas para junto do páleo; uma cruz processional; dois tocheiros processionais; duas cadeiras de couro (velhas); sete bancos de madeira de pinho; uma credencia, um banco com três assentos e almofadas; uma escada para as lâmpadas; um pequeno arcaz para arrecadação de roupas e alfaias; dois confessionários volantes, uma estante de missal; dois missais e três sacras; cinco pedras de ara, vinte jarras de porcelana; um berço do Menino Jesus; um sudário; uma capa de asperges de damasco roxo; uma capa de asperges de damasco branco, duas dalmáticas, estolas e cingulos de damasco branco; uma casula de damasco branco com estola e cingulo; mais duas idênticas; uma encarnada; uma verde; uma roxa; uma preta; cinco bolsas de corporais de diferentes cores; seis véus do cálice de diferentes cores; um pequeno véu de damasco para a estante do missal; uma estola paroquial de damasco branco e roxo; uma estola paroquial de damasco preto; uma manga de cruz de damasco branco; uma manga de cruz de veludo preto; um pavilhão de damasco branco do sacrário (velho); um pavilhão de damasco encarnado; um pavilhão de damasco do esquife, branco; um palio de damasco branco para seis varas; um frontal de damasco branco, com ramos; outro do mesmo tecido, sem ramos; um frontal de damasco branco/encarnado (velho); uma umbela de damasco branco; um reposteiro de damasco encarnado da porta principal; duas pernas de sanefas do arco do cruzeiro – de damasco encarnado; dez sanefas de damasco encarnado (bastante rotas); doze pernas de damasco encarnado; uma sanefa e pernas de algodão encarnado; cinco capas de lã encarnada (velhas); cinco capas de lã branca; treze toalhas de linho dos diferentes altares; dez toalhas de algodão; três alvas de linho; três amitos de linho; três cingulos para as alvas; oito sanguíneos; três manustergios; uma sobrepeliz; um Ritual de Paulo V; cinco coberturas de chita para os altares; Imagens = Nossa Senhora da Assunção - padroeira da freguesia; S. Francisco de Assis; Nossa Senhora do Rosário; Santo António; Menino Jesus; um quadro em tela (N. Srª da Piedade) um dito – S. João Baptista. O processo de onde é possível extrair a presente peça histórica contempla a restituição das alfaias litúrgicas e paramentaria das referidas Capelas dispersas pela paróquia Atalaense, curioso e exemplar documento na minúcia do inventário e na preocupação de restituir inteiramente os espólios arrolados em 1911. De salientar, como nota final, a presença, no rol dos figurantes a quem cabe a responsabilidade de receber de volta, os pertences da Igreja, a presença de políticos coniventes com os comissários da República, creio que por aproveitamento e segurança dos estatutos sociais mais do que por convicção.

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