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ATALAIA, Vila Nova da Barquinha, Portugal
Vivendo nesta terra há 30 anos vou perguntar à história e à tradição qual a origem desta localidade. Desejo saber quem neste atractivo sítio erigiu a primeira construção, quais as obras que foram nascendo, a sua idade e as mãos que as edificaram, quais os seus homens ilustres e os seus descendentes, quem construiu as estradas, os caminhos, as pontes e as fontes. Quão agradável será descobrir em cada pedra os nossos antepassados levantando com palavras o sonho do nosso futuro. Atalaia, 18-11-2007.

5.3.13

A Vila de Tancos e os seus templos.


A Vila de Tancos está situada na encosta do vale do Tejo, a dois quilómetros a jusante do Castelo de Almourol e defronte da povoação do Arrepiado. 
          Segundo Pinho Leal o antigo nome de Tancos tem origem no topónimo Francos pois, para este autor, a localidade teria sido fundada por cavaleiros francesas que vieram ajudar D. Afonso Henriques na reconquista cristã, acreditando-se que o nome Tancos seja uma deturpação de Francos, ou franceses. Não é de admirar ele silogismo uma vez que a localidade está perto do Castelo de Almourol e do Castelo Ozezere, pontos estratégicos nos primórdios da nacionalidade.
            O traçado urbano de Tancos, tal como em Vila Nova da Barquinha, cresceu junto do rio e em volta do seus cais. Em Tancos, o cais, chegou a ser de alvenaria. A partir do rio estruturavam-se todas as outras ruas da Vila.
          A construção na zona ribeirinha é feita à base de granito, tal como o cais, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição e a sua Misericórdia. O granito era explorado, ali bem perto, nas pedreiras da margem esquerda e direita junto de Almoroul. É precisamente junto à margem do Rio Tejo que nasce a Misericórdia de Tancos. Sabemos que a Misericórdia de Tancos foi instituída em 1582. “ Num alvará régio, de 30 de Agosto de 1582, regista-se o pedido dos oficiais da Câmara e do povo da dita vila: os officiais da Camara da vila de Tancos me enviaram dizer que elles com o povo da dita vila ordenarão e instityrão ora novamente a Confraria da Misericórdia e ellegerão provedor e irmãos della…”  Nesse mesmo documento é solicitado ao rei que outorgue o regimento da misericórdia de Lisboa à recém criada Irmandade de Tancos”.
Em Março de 1583 existe outro “ Alvará régio autorizando a Misericórdia da vila de Tancos, por um período de três anos, a pedir esmola “no tempo das novidades” nas vilas da Atalaia, Asseiceira e Carregueira”.
          O pórtico renascentista da Misericórdia ostenta o escudo de armas dos Condes da Atalaia, Manóeis, a quem se deve a sua edificação. Outrossim, em Maio de 1590 aparece um Alvará régio pelo qual ordena que se anexe à Misericórdia de Tancos o seu Hospital. Na mesma não haveria roda dos expostos a que não será alheio o esplendor comercial que se verificou no Século XVI e XVII devido ao seu excelente porto com transações comercias e comunicação com as províncias do norte e Alentejo. Da Beira vinha azeite, madeiras, carne de porco, frutos, etc. e do Alentejo vinha o trigo.
          Grande deveria ser a sua azáfama naqueles tempos pois ainda hoje é possível vislumbrar, a norte da Vila, os colossais rastos das rodas de carros de bois insertos na rocha granítica.
          A sua decadência, no Séc. XVIII e XIX, deveu-se a um imposto de 50 rs por pipa, e 30 rs por carga, uma Provisão Régia com destino à sua Misericórdia, imposto que não era quebrado nos outros portos e que foi uma das causas do desvio do comércio fluvial para a Barquinha, Punhete e Abrantes.
          O relatório do governador civil, João Rocad da Costa Cabral, no século XIX, sentenciou a morte da Misericórdia de Tancos:  “Na villa da Barquinha não há um hospital nem misericórdia, porém em cada uma das duas freguezias ruraes deste concelho, Atalaia e Tancos, há uma irmandade da misericórdia, cujos rendimentos são ténues, porém mais ténues são ainda os serviços que prestam à humanidade”. Nas conclusões do relatório mais refere que a misericórdia de Tancos, tal como na da Atalaia, em 1867, eram gastos rendimentos em inutilidades e muitas das vezes a capricho dos mesários, podendo converter-se em proveito da humanidade de forem incorporadas nos hospitais do concelho.
          Se conseguimos saber a data da criação da Misericórdia de Tancos  questão mais difícil é precisar a construção da sua Igreja Matriz.
          Recuemos até ao censo de 1527, referente à província da Estremadura que existe na Torre do Tombo e que tem por título: “Registo das cidades, vilas e lugares que há nesta Comarca da Estremadura e dos moradores que há em cada um deles. O qual se fez por mandato de El Rei nosso Senhor. Feito por Jorge Fernandes escrivão da Chancelaria da dita Comarca. Foi começado aos 15 dias de Agosto na cidade de Coimbra no ano de Nosso Senhor jesus Cristo de 1527 anos.     Deste censo retiramos os seguintes elementos relativos a Tancos: Vila de Tancos, a 24 de Setembro de 1527 anos, estando eu Jorge Fernandes na vila de Tancos que é de D. Jorge de Menezes, com o juiz e outras pessoas, me informei no certo dos moradores e termo da vila de Tancos, e achei o seguinte:
          A vila de Tancos tem 118 vizinhos no corpo da vila, dos quais 3 são escudeiros e 10 viúvas, e o mais povo.
          O Casal do Torrões 2 vizinhos.
          Não tem mais nenhum termo povoado.
          Tem de termo um quarto de meia légua para a parte de Atalaia e Ceiceira.
          Parte com a ribeira que é da Ordem de Cristo, e com as vilas da Atalaia e Ceiceira.
          E eles assinaram no próprio.
          Soma 120 vizinhos”.
          A construção da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, de Tancos, deverá andar muito perto da data do censo de 1527, ou seja início do Século XVI, uma vez que existem lajes de sepulturas, desta época, no solo do templo.             
Os Inquéritos Paroquiais de 1758, contam-nos a sua rica história: "A Parochia esta dentro da villa em alto. (O seu?) orago he Nossa Snr.ª da Conceyção. Tem sinco Altares dos quaes o mayor, que esta está na boca ( ... ) esta o Tabernacullo do Santíssimo Sacramento, tem no meyo a Imagem de Nossa Snr.ª da Conceyção de vestir e aos lados o Snr. S. Pedro e o Snr. S. Sebastião. (oo.) O Snr. S. José, e o Snr. S. Vicente Ferrer.
Tem quatro Altares colaterais, da parte direyta esta colocado nc seu altar o Snr. St.º António, e aos lados o Snr. S. Francisco, e o Snr. St.º  Amaro, e logo abayxo da mesma parte, porem no corpo da Igreja, esta  o  altar das almas (com?) seu retabulo de pintura antiga, e nele hua crux, com hua pintura de (hum? Cristo?) crucificado a poucos annos posta.
Da parte da Epistolla esta o altar de nossa Snrª. do Rozario  (…) seus lados a Snr.ª St.ª Marta, e a Snrª. St.ª Luzia o qual tem sua ( ...) dourada. Logo mais abayxo da mesma parte, em o corpo da Igreja esta o altar do Snr. S. Thomaz Arcebispo de Cantuaria e nelle hum retabullo antigo, com excelente pintura dos passos do mesmo Senhor e no meyo hum com imagem do mesmo Santo de vulto.
          A Igreja he de huma so nave, e de abobeda antiga. Dize que fora mandada Jazer pello Snr. Rey D. Manoel, como bem a Igr.ª da Mizericordia, e hum famoso caes, tudo o antiga, maz muito segura, a parece ser do mesmo autor, do mesmo tempo; a Igreja tem torre, e dous sinos, mas não Beneficiados, posto que tem hum grande coro.
Tem a Igreja três Irmandades: a do Santíssimo, e a de nossa Snrª. da Conceyção padroeyra, e das almas, todas seus compromissos, os quaes hoje mal se observão ou pella demenuição em que hoje se acha a terra por falta de cabedais, ou frieza de devoção.
O Parocho chamace Prior, a quem apresenta o Illmo. Exmo. Marquez de Tancos, e redem da Igreja quanto a dizimas, mal chegava, hum anno (vinte?) e quatro a vinte e sinco mil reys, que unidos ao pe de altar podem chegar alguns annos a pouco mais de cem mil reys".
Esta igreja matriz, ca merece uma vista demorada, a ter em conta pelo seu património, arquitectura e história. No seu interior podemos apreciar paredes cobertas de azulejos com painéis do Séc. XVII-XVIII. É monumento classificado como Imóvel de Interesse Público, por Decreto n.º 2/96, DR, I Série-B, n.º 56, de 6-03-1996.

Bibliografia:
Mação, Helder Vitória Mação. Tancos : ecos do passado no presente /. 1a ed. Vila Nova da Barquinha : Câmara Municipal, 1995.
Serões de Tancos, n.º 8, Gazeta dirigida por Júlio Costa, 1926.

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