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ATALAIA, Vila Nova da Barquinha, Portugal
Vivendo nesta terra há 30 anos vou perguntar à história e à tradição qual a origem desta localidade. Desejo saber quem neste atractivo sítio erigiu a primeira construção, quais as obras que foram nascendo, a sua idade e as mãos que as edificaram, quais os seus homens ilustres e os seus descendentes, quem construiu as estradas, os caminhos, as pontes e as fontes. Quão agradável será descobrir em cada pedra os nossos antepassados levantando com palavras o sonho do nosso futuro. Atalaia, 18-11-2007.

30.3.13

Igreja da Atalaia - monumento funerário de D. José Manoel da Câmara


Igreja da Atalaia - monumento funerário de D. José Manoel da Câmara
No altar-mor da Igreja da Atalaia podemos apreciar o monumento funerário de D. José Manoel da Câmara, segundo patriarca de Lisboa.
Mas quem foi este insigne conterrâneo?
D. José era nono filho de D. Luiz Manoel de Távora, quarto Conde de Atalaia e senhor de Tancos e de D. Francisca Leonor de Mendonça. Nasceu em 25 de Dezembro de 1685 segundo relato de Bernardo Marques de Carvalho, prior da vila da Atalaia, conforme consta das Inquirições paroquiais de 1758. Foi batizado na Igreja da Atalaia no dia 6 de Janeiro de 1686. Estudou em Coimbra e foi provedor da Santa Casa da Misericórdia da Atalaia, fundada por alvará de D. Filipe I, de 15 de Fevereiro de 1588, e foi designado Patriarca de Lisboa em 7 de Março de 1754.
Fez a sua entrada solene na patriarcal, na baixa de Lisboa, no dia 7 de Setembro de 1754. Durante 3 noites consecutivas acenderam-se todas as ruas da cidade de Lisboa para celebrar este acontecimento. Viria a ser eleito Cardeal, por Papa Bento XIV, a 10 de Abril de 1747.
Na sequência do terramoto de 1755, que destruiu Lisboa, deixa o palácio dos Marqueses de Tancos, para se instalar num palácio onde hoje é a Igreja de S. Roque. A seguir ao terramoto, dedica-se ao auxílio material e espiritual da população. Ao ser informado dos muitos cadáveres insepultos nos templos, nas ruas e entre as ruínas dos edifícios, mandou o cardeal patriarca D. José Manoel às comunidades e aos párocos que «acudissem com toda a diligência a sepultar os mortos», tendo-se visto empregues nestes «santos fins» e a trabalhar «com devotíssimo fervor», de «enxadas às costas e nas mãos», os «mais autorizados» religiosos que se esforçavam por «dar sepultura aos mortos e preservar os vivos do contágio». Não faltou o socorro material garante o religioso franciscano arrábido Fr. Cláudio da Conceição, autor do Gabinete Histórico, às «milhares de pessoas, que vagavam pelos campos vizinhos da cidade e pelo lugares do termo de Lisboa, sem casas, sem roupa, sem dinheiro para o preciso alimento», pelo que, contam os relatos, «ninguém morreu de fome». Sebastião de Carvalho e Melo, mais conhecido por Marquês de Pombal, interroga o Cardeal Patriarca se os mortos devem ser enterrados em valas comuns ou metidos em batelões e lançados ao mar. O Cardeal num gesto de grande sabedoria e de saúde pública advoga pela última hipótese pois se os corpos fossem sepultados em valas comuns contaminariam as águas do subsolo e tal facto, certamente, geraria elevado número de mortos. O Cardeal opta, à época, por uma solução sanitária, lúcida e determinada. Em confronto com algumas posições assumidas com o Marquês de Pombal, mormente a perseguição à Companhia de Jesus, e gravemente doente, retira-se para a Atalaia “para tomar ares” onde veio a falecer em 8 de Julho de 1758.
À data existiam graves acusações sobre os jesuítas, denúncias que se baseavam em factos propositadamente excessivos para descrédito da Companhia de Jesus. No fundo pretendia-se alcançar que o patriarca perseguisse os jesuítas. Certamente a instâncias do Marquês de Pombal que já lhes proibira que pregassem na igreja patriarcal, depois de serem proibidos de pregar na capela real. O patriarca D. José Manoel, pela sua parte, não os tinha em mau conceito. Isto infere-se do facto de nomear dois deles, os padres Machado e Romano, examinadores prossinodais, já depois daquela proibição.
No princípio de Junho tentou-se arrancar ao patriarca uma ordem violenta de perseguição aos Jesuítas, a de os suspender de confessar e pregar na diocese de Lisboa. O marquês de Pombal dirigiu-se ao paço patriarcal e ali instou por semelhante decisão, recorrendo a todos os meios que lhe inspirava a sua perversidade. Disse ao prelado que era aquela a vontade de El-Rei, e que seria irremediavelmente destituído da patriarcal se não cumprisse. D. José Manoel, mais de septuagenário e doente, hesitou perante a ameaça, e pediu tempo par deliberar. O ministro, vendo que ele fraquejava, redobrou de esforços, até que o obrigou, depois de cinco horas de resistência, a dar a ordem naquela mesma, tarde. Mesmo de noite a imprimiram, e na manhã seguinte apareceu afixada por toda a cidade de Lisboa. Os próprios termos da ordem prelatícia acusam iniludivelmente a coacção em que foi dada. É do teor seguinte: “Por justos motivos, que nos são presentes e muito do serviço de Deus e do público, havemos por suspensos do exercício de confessar e pregar em todo nosso patriarcado aos Padres da Companhia de Jesus, por ora, enquanto não ordenarmos o contrário. E para que chegue a noticia de todos …”, etc. (conforme, Edital do Cardeal Patriarca de Lisboa José Manoel da Câmara de Atalaia de 7 de Junho de 1758, em que proíbe os Jesuítas de confessar e pregar no seu patriarcado. Lisboa : s.n., 1758. Portugal, Torre do Tombo, SP 3558 -10).
A sua sobrinha, a Marquesa de Tancos, foi uma das pessoas que o amparou e confortou na dor e na doença durante um período de três anos vindo a expirar na sua Atalaia. O túmulo de D. José da Câmara encontra-se no interior da Igreja da Atalaia e os seus restos mortais encontram-se sepultados por debaixo do altar-mor.
Imputa-se a construção do monumento funerário a D. Constança Manuel, Marquesa de Tancos e sobrinha do patriarca e que na data da morte do prelado era herdeira da Casa da Atalaia. A sua sobrinha para demonstrar a sua gratidão ao Patriarca honrou-o na morte com a construção de uma sumptuosa sepultura no lugar mais nobre da Igreja. Para João Soalheiro e Celina Bastos que fizeram ume rigorasa investigação sobre a vida do nosso Cardeal, a obra poderá ser do arquitecto Mateus Vicente de Oliveira ou do arquitecto Joaquim de Oliveira, a quem é atribuído a obra da Igreja das Mercês em Lisboa, construída entre 1753-1803.
O túmulo é em pedra da região, em forma de capela, envolvendo um argo cego de fundo talhado onde encrava a pequena arca tumular. Sobre o arco há um agradável conjunto com o símbolo de armas do patriarca, arma dos manoeis, com a teara e dois ramos patriarcais. Nas histolibatas leões rompantes. No monumento consta, em latim, a seguinte inscrição e da qual se dá a devida tradução: “D. José. Manoel I, Cardeal Presbítero da Santa Igreja Romana, Patriarca da Santa Igreja de Lisboa. Regeu o Patriarcado durante 4 anos, 1 mês e 19 dias. Viveu 72 anos, 6 meses e 14 dias. Faleceu no ano do Senhor 1758, no dia 9 do mês de Julho. Descanse em paz.»
Os restos mortais do nosso cardeal repousam na Atalaia e não no Panteão dos Cardeais, ao lado dos demais cardeais da Igreja Católica, no Mosteiro de S. Vicente de Fora, em Lisboa. É o único que aí não se encontra.

Bibliografia
Marques, João Francisco. A acção da Igreja no terramoto de Lisboa de 1755: ministério espiritual e pregação. Lusitania Sacra. 2006
Arquivo Distrital de Santarém, Vila Nova da barquinha, Freguesia da Atalaia, Batismos 2 (1674-1741).
Os Patriarcas de Lisboa, João Soalheiro e Celina Bastos, Alêthea, 2009

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