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ATALAIA, Vila Nova da Barquinha, Portugal
Vivendo nesta terra há 30 anos vou perguntar à história e à tradição qual a origem desta localidade. Desejo saber quem neste atractivo sítio erigiu a primeira construção, quais as obras que foram nascendo, a sua idade e as mãos que as edificaram, quais os seus homens ilustres e os seus descendentes, quem construiu as estradas, os caminhos, as pontes e as fontes. Quão agradável será descobrir em cada pedra os nossos antepassados levantando com palavras o sonho do nosso futuro. Atalaia, 18-11-2007.

16.2.15

O atalaiense, Eng.º Luís Gomes de Carvalho

Nasceu em 15 de Abril de 1771, em Atalaia, Vila Nova da Barquinha, e faleceu em 17 de Junho de 1826, em Leiria.
Foi engenheiro militar. Efetuou levantamentos topográficos em Trás-os-Montes e nos castelos principais da fronteira portuguesa: Outeiro, Vimioso, Bragança, Montalegre e Monforte, e executou a “Carta topographica da parte da provincia de Trás os Montes compreendida entre o Douro e o Sabor até Bragança”. Completou a planta de Bragança e de Chaves, com muitas similitudes com a anteriormente levantada, que tinha anexa a do castelo, três vezes mais detalhada.
Foi responsável pela obra da Barra e do porto de Aveiro. O assoreamento estava a matar a cidade e provocava uma grave insalubridade nas áreas pantanosas que não deixam as águas do mar entrar no interior. Por estudos exaustivos levados por si levados a cabo, em 3 de Abril de 1808, abriu a Barra, num local estrategicamente definido. Com a construção do molho sul, sobre a sua direção, pretendeu normalizar as correntes, a fim de manter o canal de acesso à Ria sempre desimpedido, de modo a facilitar o escoamento das águas interiores. Estudou a bacia da ria quanto às marés, a sua cartografia, o movimento das ondas e dos ventos.
D. José I, a 27 de Maio de 1756, atendendo às reclamações dos nossos antepassados, resolveu criar a Superintendência da Barra e lançar o imposto do real para ser pago por todas as Câmaras da Comarca de Esgueira, a fim de se custearem as despesas com a abertura de uma nova barra em São Jacinto.
Os trabalhos não se puderam então fazer, devido a uma grande cheia: as ilhas e as salinas da ria, os campos do Vouga e os bairros baixos de Aveiro ficaram inundados por muito tempo; as águas represadas causaram enormes danos. Apenas em Janeiro de 1757 o  capitão-mor de Ílhavo, que era o aveirense João de Sousa Ribeiro da Silveira, foi autorizado a abrir um regueirão na areia, onde antes, na Vagueira, tinha estado a barra; mas tudo isto se tornava muito precário.
Doze anos após, o Senado Municipal representou a El-Rei sobre a falta de estabilidade e de segurança da barra; e a este pedido outros mais se seguiram, pois os infortúnios ocasionados sobressaltavam constantemente a região. Os aveirenses e a sua Câmara não desistiram das pretensões sobre a abertura de uma barra capaz; por isso, a 16 de Abril de 1794, a Câmara encarregava o Dr. Manuel Joaquim Lopes Negrão de conseguir do Príncipe Regente, mais tarde D. João VI, as providências necessárias para a efectivação das desejadas obras.
Ante a miséria geral e as doenças que dizimavam a população, a 2 de Janeiro de 1802, o ministro D. Rodrigo de Sousa Coutinho, depois Conde de Olivares, encarregava os engenheiros Coronel Reinaldo Oudinot e Capitão Luís Gomes de Carvalho de separadamente procederem a estudas para a abertura da nova barra, os quais desistiram do sítio da Vagueira e escolheram um outro perto de São Jacinto, próximo da anterior localização no século XVI, a 17600 metros a norte da barra velha. O Eng.º Oudinot enviaria ao Governo o seu projecto a 6 de Março; e a 17 de Abril o Eng.º Gomes de Carvalho remeteria a sua «Memória descritiva ou notícia circunstanciada do plano e processo dos efectivos trabalhos hidráulicos empregados na abertura da barra de Aveiro segundo as ordens de S. A. R. o príncipe Regente Nosso Senhor».
Entretanto, os homens de Aveiro estavam impacientes por via da insalubridade das águas pantanosas da laguna, pelo prejuízo na feitura do sal e pelas inundações na cidade. A própria Confraria de S. Miguel resolveu a 7 de Fevereiro de 1802, já após aquela decisão superior, que, no primeiro ano depois da abertura da barra nova, se desse a Sua Alteza Real a terça parte líquida do sal das suas marinhas, «como prova de gratidão pela munificência que por essa obra havia tido aquele Príncipe». E a 8 de Abril o Príncipe Regente ordenava a demolição das antigas muralhas de Aveiro, que ameaçavam ruína, devendo utilizar-se a pedra nas obras da barra; diríamos hoje que foi uma triste decisão que as condições do tempo obrigaram a tomar.
Os planos definitivos dos dois engenheiros, essencialmente idênticos, foram aprovados pelo Príncipe D. João; recebida a comunicação em aviso régio de 5 de Julho do mesmo ano, logo se começaram a executar os trabalhos. Em Dezembro de 1803, estando eles em andamento, Oudinot foi transferido para a Ilha da Madeira, onde faleceu em 1807; continuou a dirigir as obras o citado Eng.º Luís Gomes de Carvalho.
Após porfiados esforços, não sem graves desgostos e contrariedades, a abertura final da barra nova, facto de excepcionaI importância para o progresso de Aveiro, realizou-se no dia 3 de Abril de 1808, às sete horas da tarde. Do acontecimento lavrou-se um auto, que tem a data de 15 de Abril e foi subscrito por Miguel Joaquim Pereira da Silva; depois de referir os trabalhos preparatórios e a maneira como se deu o rompimento da duna de areia, lê-se no documento: – «As águas que cobriam as ruas da praça, desta / 28 / cidade, e os bairros do Alboi e da Praia, abaixaram três palmos de altura dentro de vinte e quatro horas e outro tanto em o seguinte espaço, e em menos de três dias já não havia água pelas ruas [...] e toda a cidade ficou respirando melhor ar por estas providências com que o Céu se dignou socorrê-la e a seus habitantes com esta grande obra da barra». (1)
Existe uma rua em Aveiro com o seu nome: Eng.º Luis Gomes de Carvalho.
Tem publicados vários projetos, estudos e obras.
Em 1820 fez um plano de melhoramento das condições de acesso à barra do Douro e dirigiu a construção de um dique de 600 metros, na extremidade norte do Cabedelo, hoje designado pelo seu nome (2).
Um notável engenheiro nascido na nossa terra e que pelo presente escrito dou a conhecer a sua obra.

(1) Pe. João Gonçalves Gaspar, Aveiro e o seu Distrito, n.º 19, Junho de 1975
(2) Jesus, Maria Eduarda Rodrigues Vieira. Morfodinâmica do Cabedelo da Foz do Rio Douro. Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, 2003


Mapa da Biblioteca Nacional de Portugal - CARVALHO, Luís Gomes de, fl. 1803-1829 - Mappa da Ria de Aveiro para intelligencia do plano da abertura da nova barra / por Luiz Gomes de Carvalho ; sculp. Queiroz. - Escala [ca 1:59000], 3000 Braças = [11,20 cm]. - [Lisboa : na Impressão Regia, 1813]. - 1 mapa : gravura, p&b ; 23,70x67,20 cm, em folha de 26,60x69,50 cm

1 comentário:

Anónimo disse...

Luís Gomes de Carvalho não morreu em Leiria mas no Porto, no Quartel do Ouro, na data indicada (assento na freguesia do Lordelo do Ouro, fl. 62 v), sendo aí sepultado.
Maria Helena Dias