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ATALAIA, Vila Nova da Barquinha, Portugal
Vivendo nesta terra há 30 anos vou perguntar à história e à tradição qual a origem desta localidade. Desejo saber quem neste atractivo sítio erigiu a primeira construção, quais as obras que foram nascendo, a sua idade e as mãos que as edificaram, quais os seus homens ilustres e os seus descendentes, quem construiu as estradas, os caminhos, as pontes e as fontes. Quão agradável será descobrir em cada pedra os nossos antepassados levantando com palavras o sonho do nosso futuro. Atalaia, 18-11-2007.

25.2.08

Os últimos oleiros da Atalaia



A palavra oleiros deriva da palavra latina “olla” que significa aquele de fabrica loiça grosseira. Nos terrenos da Atalaia havia e há abundância de greda (argila), material próprio para tal fabrico.
Por censos de 1882, e conforme publicação das Memórias da Academia Real das Ciências de Lisboa, existiam as seguintes construções e número de oleiros na Atalaia:
Construções ou fogos na Atalaia = 307. Oleiros= 19.
A Atalaia detinha, à data, um elevado número de pessoas dedicadas à olaria, certamente devido à abundância de greda na nossa região.
A abundância deste produto reflectia-se no tipo de edificação das casas, pois segundo Picciochi, Margarida Gomes Coelho, Ata-laâ, Atalaya, Atalaia, Ed. Notícias do Entroncamento, 1987: “Antigamente, as casas da Atalaia eram de um só piso, constituídas em adobe, porque o solo era rico em greda. Esta era amassada e deitada dentro dos moldes rectangulares de 35 por 30 cm que, depois de secos ao sol, formavam blocos de argamassa. Com eles se formavam as paredes e as casas ficavam à prova de humidade e bastante confortáveis … provavelmente também o chão era de adobe”. São ainda hoje visíveis algumas construções deste tipo junto à estrada nacional 110 na Rua Patriarca D. José. Segundo a mesma autora “ O primeiro oleiro que aqui se estabeleceu foi no século XVIII, no Rossio da vila e chamava-se Estanislau, de apelido. O filho, João Maria teve uma olaria muito grande, a qual foi passando dos filhos para os netos, até que acabaram com o negócio em 1954.” Mais adiante refere que: “Só existem – em 1987 – três firmas deste ramo, as quais não terão continuação. E assim, acabar-se-ão os oleiros da Atalaia. São seus proprietários – e os últimos de uma geração tão antiga: Moisés, filho e neto de oleiros, João e Amadeu Maia Faria, Francisco Manuel, João Caetano e Fernando Rosário Silva (irmãos).”
O vaticínio da autora há 20 anos era, infelizmente certo.
Neste momento o negócio já não gera rendimento para uma economia de estrutura familiar, consequência da concorrência e da introdução de novas tecnologias e empresariação do barro e das importações de países asiáticos.
Um dos últimos oleiros é o Sr. João. Trabalha na oficina, e na profissão, desde os seus 8 anos de idade. Conhece o ofício como poucos. Aprendeu essa profissão com os seus antepassados todos eles também oleiros. Pessoa de cultura e cidadão do mundo, por todos conhecido pela sua capacidade de acção a nível cultural e recreativo, sempre em prol das instituições do concelho e da freguesia. Uns dias é dirigente, noutros actor, por vezes comediante e sempre organizador. Mil disfarces para um homem onde a arte e o carinho de moldar o barro se confunde com a arte da encenação.
Seja-me, pois, permitido prestar a minha homenagem a todos os oleiros que perpetuaram esta arte na Atalaia . Tenho a certeza que a sua obra será deliciada pelos vindouros até porque sei, por conhecimento próprio, que existe espólio para expor.
Contemplai os últimos oleiros, hoje eles ainda aí estão, certo é que se encontram em extinção!
Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara” (Livro dos Conselhos).

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