Na sequência do apresamento de 70 navios mercantes alemãs que se tinham refugiado no Rio Tejo para fugir à esquadra inglesa deixou Portugal de ser um país neutro para entrar em guerra. A Inglaterra precisava de tais navios e pediu-nos que os aprisionássemos para serem colocados ao seu serviço. Este facto originou que a Alemanha nos viesse a declarar a guerra, acontecimento amplamente desejado pelo Partido Democrático Português que defendia a nossa participação e alinhamento no bélico contexto europeu.
Logo, importava preparar as nossas tropas para esta nova situação. Com a publicação da Ordem do Exército n.º 4, de 25 de Março de 1916, projectasse a criação de um corpo expedicionário para a Europa.
O Ministro da Guerra Norton de Matos faz concentrar a preparação da força no concelho de Vila Nova da Barquinha. Tal, cria-se em Tancos a “divisão de instrução”, obra preferida do então Ministro. Um grupo activo de oficiais, embora reduzido, é encarregado de tal tarefa, foram os designados “jovens turcos”. Serão os políticos do pós guerra. Entre eles estão: Jaime Cortesão, Álvaro de Castro, Ribeiro de Carvalho, Cunha Leal, Sá Cardoso, Álvaro Pope, Fernando Freiria, Hélder Ribeiro, etc.
Norton de Matos e estes oficiais conseguem em tempo reduzido dar treino básico de combate a um corpo expedicionário. Deste CPE fazem parte 2 divisões com 55000 mil homens que marcham para França no início de 1917 e ali se mantiveram até ao Armistício de Novembro de 1917.
A formação do CEP foi um grande esforço de mobilização de cidadãos portugueses tendo havido, por parte de algumas correntes ideológicas, forte oposição à sua participação.
Segundo testemunho de António Vital participaram na 1.ª guerra 2 Atalaienses: Constantino Bento e Joaquim Lamoroso. Curioso é que estes militares logo que entraram no campo de batalha foram feitos prisioneiros. Sérgio Duarte refere que o Constantino, trabalhador do Dr. Estáquio Picciochi, veio a ser "gaseado" na I Guerra Mundial.
Recorda-se que existe, em Vila Nova da Barquinha, um monumento em homenagem aos mortos deste conflito. Referência nacional é António Gonçalves Curado, militar mobilizado pelo RI 28, da Figueira da Foz, natural de V.N. Barquinha e que embarcou para França em 22 de Fevereiro de 1917. Foi o primeiro militar português do CEP a morrer em combate !
Nas fotografias acima podemos ver o aprontamento das forças no campo de Tancos e a passagem da Cavalaria pela ponte das barcas (Tancos - Arripiado). Nesta fotografia (clicar na mesma para ampliar) é ainda visível a Igreja Matriz de Tancos e a Igreja da Misericórdia.
POST SCRIPTUM: Em documento que o autor teve acesso em Dez09, Biblioteca da Câmara Municipal de V.N.Barquinha, participaram na I Guerra os seguintes Atalaienses: Manuel Marques Amoroso, Joaquim Marques Amoroso, Raimundo Ferreira Teodósio (prisioneiro), Francisco Serigado, Constantino Bento (prisioneiro), Artur da Silva Mendes, Adelino Rosa Tormenta, Américo Barbosa e Florêncio Rosa Esperança. (In Revista "Sangue de Heróis" N.º único, Barquinha 18-08-1929)
Fontes: Medina, João. História de Portugal “ Dos tempos pré-históricos aos nossos dias”, Vol. XV, artigo de António Telo “ A República e as Forças Armadas”.
Fotografias do Arquivo Municipal de Lisboa
1 comentário:
Tenho uma vaga recordação do Constantino.
Lembro-me de o ver nos seus afazeres e de ouvir contar em família que tinha sofrido bastante na Primeira Guerra Mundial, onde adquirira traumas e inclusive fora gazeado.
Era estimado pelos meus tios, como gente da casa.
Já agora...
A Primeira Guerra Mundial foi inevitável.
O Velho Mundo estava dividido com a formação da Tríplice Aliança (Alemanha, Império Austro-Húngaro e Itália) e a Tríplice Entente (Rússia, França e Inglaterra)
A coisa já vinha do Século XIX.
A partilha de África e da Ásia, como fonte rica de matérias primas e a exclusão da Alemanha e da Itália e outras causas.
Bastou o estopim da Bósnia.
Nós é que talvez nunca tivéssemos necessidade de entrar nela, se não estivéssemos amarrados à Aliança Luso-Britânica desde 1373.
Sempre perdemos com tal negócio.
Se ganhamos Aljubarrota, perdemos quando D. João VI se viu obrigado a pagar a peso de ouro, ido de Minas Gerais, às tropas inglesas que combateram Bonaparte.
A coroa inglesa arrecadou, aliás como habitualmente.
Perdemos novamente com o Ultimato, devido à questão do Mapa Cor de Rosa.
Perdemos território em África e perdemos um dos melhores reis que Portugal já teve – D. Carlos.
Voltamos a perder, quando os ingleses negaram que aviões militares portugueses poisassem para reabastecimento em bases inglesas, donde não pudemos fazer nada, quando o Neru nos encostou a faca à garganta.
Mau negócio.
Se não fosse essa Aliança, que virou tratado em 1386, teríamos dito não aos ingleses, o que talvez até tivesse sido mau e miséria da Flandres se tivesse estendido ao nosso território. Só Deus o sabe.
Ser-nos-ia difícil mantermo-nos neutros numa Europa inflamada pela cobiça.
Adiante...
O que passo a relatar encontra-se num livro em posse da minha irmã e não é ficção.
Tem até a foto da tumba.
Decorria essa guerra feroz (aliás, como todas), onde pereceram tantos soldados portugueses.
Numa posição portuguesa os alemães encontraram forte resistência.
Levou tempo para tomar, tal era o poder de fogo de nosso lado.
Acabaram por vencer e quando lá chegaram, apenas encontraram um soldado português, já morto.
Ficaram surpreendidos por um único homem lhes ter resistido com tal gana.
Embora inimigo e impressionados pela sua bravura (e desespero, claro) recolheram o seu cadáver à retaguarda, onde foi sepultado com honras militares.
Isto é História, História de Portugal.
Fico-me por aqui e
Aquele abraço.
Sérgio
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