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ATALAIA, Vila Nova da Barquinha, Portugal
Vivendo nesta terra há 30 anos vou perguntar à história e à tradição qual a origem desta localidade. Desejo saber quem neste atractivo sítio erigiu a primeira construção, quais as obras que foram nascendo, a sua idade e as mãos que as edificaram, quais os seus homens ilustres e os seus descendentes, quem construiu as estradas, os caminhos, as pontes e as fontes. Quão agradável será descobrir em cada pedra os nossos antepassados levantando com palavras o sonho do nosso futuro. Atalaia, 18-11-2007.

4.2.11

APTCNEWS – REVISTA DIGITAL

ENTREVISTA NA ÍNTEGRA À APTCNEWS – REVISTA DIGITAL - n.º 2, Janeiro de 2011

Fernando Manuel dos Santos Freire, de 50 anos, natural de Oleiros - Castelo Branco, Licenciado em Direito e Pós-Graduado em Estudos Europeus pela Faculdade de Direito de Lisboa, exerce actualmente as funções de Vereador da Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha, possuindo inúmeras funções institucionais, nomeadamente as de animação e gestão de projectos culturais, defesa e valorização do património, manutenção e modernização de equipamentos educativos, culturais e desportivos, entre outras.

Quais a estratégias políticas no âmbito do Turismo e da Cultura delineadas para o Concelho de Vila Nova da Barquinha (VNB)?

FF - É essencial para Vila Nova da Barquinha, e para os seus dirigentes, perceber que a valorização do património é um recurso económico que deve ser aproveitado. Neste contexto posso dizer que, decididamente, é uma das apostas do Município, para este mandato, colocar Vila Nova da Barquinha como concelho ligado arte e ao turismo.

À arte com a criação de uma galeria permanente de exposições regulares, com a construção de uma residência para artistas, com a dinamização do atelier de desenho e pintura, com a criação de workshops de fotografia e marionetes. Na escultura com a criação de um parque de esculturas ao ar livre com obras de prestigiados escultores portugueses (assinaturas de contratos a decorrer).

No turismo com a criação de um parque de auto caravanas (a inaugurar em Abril) e de um posto de turismo (a inaugurar em 2011). Outrossim, já foram adjudicados os “percursos ribeirinhos” que ligam o Barquinha Parque ao Castelo de Almourol, passando por Tancos, o que permite desenvolver passeios pedestres junto do rio e actividades de lazer. Há a recente aposta no turismo militar que, no que ao nosso território diz respeito, poder-se-á iniciar com a abertura das unidades ao público para revisitação de locais onde se prestou o serviço militar, dos seus museus “privativos, com o encontro de ex-combatentes e com actividades de competição e de lazer.

A estratégia passa por saber cativar os visitantes do Castelo de Almourol a entrar pela porta de outra “praça-forte”, Vila de Nova da Barquinha, ou seja, o Museu de Esculturas ao ar livre que ficará concluído no decorrer do ano de 2011, ligado por via pedonal ao castelo.

Entendemos que a cultura e o turismo têm um valor económico significativo, são um privilegiado campo de actuação, potenciadores de inovação e desenvolvimento pelo que não podemos, nem devemos ser negligentes, mas sim ambiciosos.

O Castelo de Almourol é uma das atracções turísticas de Portugal. Que mais pode o turista encontrar em VNB?

O concelho da Barquinha é rico em património arqueológico, edificado, móvel, integrado, imaterial e paisagístico.

O castelo é a maior atracção turística. Todavia, ninguém ama o que desconhece. Dar a conhecer os nossos recursos endógenos é um dever imperativo, melhor é uma obrigação de quem presta um serviço público.

O turista poderá passear no Parque ribeirinho, inaugurado em 2005, e Prémio Nacional de Arquitectura Paisagista em 2007, com cerca de 7 hectares de área de lazer pelos quais estão distribuídos diversos equipamentos desportivos, lúdicos, infantis, percursos ribeirinhos, parque de merendas e que está equipado com uma rede sem fios para ligação gratuita à Internet.

Poderá visitar o Museu etnográfico, Bar 21, na sede de concelho, perto da Loja do Cidadão, para beber o belo abafado servido pelo Sr. Joaquim Vieira e, em seguida, visitar o Centro de Interpretação de Arqueologia do Alto Ribatejo (CIAAR) aí podendo observar todo o seu rico espólio retirado das escavações efectuadas durante 2 décadas no concelho. Posteriormente, poderá visitar a Praça de Touros, a segunda mais antiga de Portugal, construída no século XIX, no ano de 1853. Deslocando-se mais para oeste poderá visitar a Ribeira da Atalaia, ao lado da Quinta da Ponte da Pedra, local ao ar livre onde se encontram vestígios de instrumentos líticos que vão do homem de Neandertal, 300 mil anos, ao homem Moderno, 24 mil anos. Esta datação da presença humana neste lugar demonstra o seu interesse no contexto ibérico e a atenção para a sua conservação. Este é o sítio arqueológico em Portugal com uma datação absoluta mais antiga. (foi pedido a classificação deste sítio à entidade competente).

Na Atalaia poderá visitar a sua Igreja Matriz, Monumento Nacional, com pórtico renascentista do Séc. XVI e no seu interior realce para os azulejos do princípio do séc. XVII e para o monumento funerário do II Cardeal Patriarca de Lisboa.

Em Tancos poderá visitar a Igreja Matriz fundada no início do século XVI, bem como a Igreja da Misericórdia, construída em 1585 e implantada junto às margens do Tejo, transformada no Centro Cultural de Tancos.

Na Praia do Ribatejo poderá observar a Igreja Matriz, descendo até ao rio poderá descobrir a junção do Zêzere com o Tejo, subindo pelas Madeiras - Limeiras, no meio rural, poderá, no lugar de Cafuz, apreciar a paisagem magnífica sobre o Zêzere e o Nabão.

Qual o posicionamento do Castelo de Almourol em relação a essas atracções mencionadas?

O castelo de Almourol é o ex-libris do Concelho e detém posição privilegiada face ao restante património edificado.

É um castelo de sonho, no meio de uma ilha do Tejo.

Fortaleza reconstruída por Gualdim Pais, mestre da Ordem dos Templários, em 1171, constitui um dos exemplos mais representativos da arquitectura militar da época, evocando simultaneamente os primórdios do Reino de Portugal e a Ordem dos Templários, associação que lhe reforça a aura de enigma e romantismo.

É, sem dúvida, o local mais visitado do nosso concelho. Com uma nova estratégia poderemos prolongar a permanência de turistas no concelho.

Constata-se que o Castelo de Almourol carece de uma estratégia de interpretação turística e cultural adequada. Que propostas se podem sugerir para contribuir significativamente com uma melhor apresentação do monumento para o turismo?

O castelo é hoje, como foi ontem, um recurso turístico que ainda não se conseguiu afirmar como produto turístico.

A simbiose entre o castelo, o parque ribeirinho da Barquinha, o museu de escultura, a galeria de arte e o Centro Integrado de Educação e Ciência (CIEC) é um incentivado para criar esse produto turístico.

A apresentação do monumento passa por uma intervenção minimalista, mas essencial, na torre de menagem, com implementação de conteúdos multimédia. O castelo fala por si próprio, assim como a paisagem envolvente pelo que não existe necessidade de fazer intervenções profundas sob pena de provocar danos irreparáveis.

Convém assegurar, desde já, uma melhor qualidade de serviço bem como classificar a zona como paisagem protegida. Feitas estas medidas cautelares, importa criar condições para a iniciativa privada apostar no aumento de camas disponíveis e na hotelaria.

Cremos que com o posto de turismo e com a implementação do Mercado das Artes, percursos ribeirinhos e CIEC, já em 2011, através de uma estratégia de comunicação e realização de actividades de âmbito imaterial podemos contribuir para uma melhor apresentação do castelo e do território.

Alguma vez esteve no horizonte do município a proposta do Castelo de Almourol a Património da Humanidade UNESCO?

O reconhecimento de um bem e sua sequente inserção na Lista do Património da Humanidade é um procedimento complexo e rigoroso.

Ao que tenho conhecimento nunca esteve nas ambições do Município fazer tal proposta. O interesse turístico do monumento é catalisador para novos desafios.

Todavia, estamos cientes que com a intervenção que se irá realizar na envolvente do Castelo, nos percursos ribeirinhos (ligação da Barquinha ao Castelo por percursos pedonais) e sempre junto do rio, bem como a intervenção na torre de menagem (novas escadas e implementação de conteúdos multimédia) damos passos seguros para podermos ir mais além.

O que representa para o município o novo projecto do “Mercado das Artes” e qual o impacto esperado?

“Mercado das Artes” tem como objectivo apresentar um conjunto integrado de operações de valorização ambiental, patrimonial e urbana com incidência territorial no centro urbano de Vila Nova da Barquinha e na frente ribeirinha adjacente.

No edifício do Centro Cultural irá ser criada uma loja do museu de escultura, também, um posto de informação turística.

A nascente do parque será construído um edifício para residência de artistas e ao lado funcionará o ateliê de desenho e pintura. Dentro destas operações destaca-se o projecto “Esculturas no Parque”, o qual se constitui como um projecto de referência a desenvolver no âmbito da estratégia encetada pelo Município aquando do ordenamento da frente ribeirinha e consequente implementação do parque urbano.

O Centro de Escultura ao Ar Livre, a implementar no Parque Ribeirinho, irá contemplar um conjunto de esculturas, dos artistas: Ângela Ferreira, Carlos Nogueira, Cristina Ataíde, Fernanda Fragateiro, Joana Vasconcelos, José Pedro Croft, Pedro Cabrita Reis, Rui Chafes, Xana, Alberto Carneiro e Zulmiro de Carvalho, conjugando a arquitectura paisagista no contexto espacial do Parque, enriquecendo todo o elemento circundante, a água, o rio e a Galeria de Arte.

A galeria ficará instalada no antigo edifício dos paços de concelho e aí irão realizar-se várias exposições durante o ano. Para este projecto há um relevante parceiro, a Fundação EDP.

O objectivo é o de dinamizar o tecido económico e urbano de Vila Nova da Barquinha e atrair à Barquinha parte dos turistas que visitam o Castelo de Almourol.

Quais as futuras valências do novo Centro Escolar e suas implicações no Turismo e na Cultura?

A estrutura Centro Integrado de Educação e Ciência – Centro Escola (CIEC) é parte integrante de uma escola concebida pelo Arqt.º Aires Mateus, em forma de paralelepípedos, mas está arquitecturalmente concebida de forma a tornar-se uma estrutura independente e autónoma, o que permite continuar aberta ao público para além do horário escolar.

A ciência é uma cultura caracterizada por maneiras de pensar e de causar, que, à semelhança com outras culturas, só se alcança com a prática e com a participação em actividades que simulam a investigação.

Os conteúdos didácticos experimentais presentes no CIEC estão inseridos em temáticas regionais e nacionais o que será apelativo para o turista e para os seus filhos. Os seus conteúdos estão ancorados nas realidades locais, onde a compreensão da coerência do conjunto implica um conhecimento e um sentir do território. Não se trata, portanto, de um espaço temático nem tão pouco de uma mera selecção de módulos interactivos avulsos, trata-se de criar um espaço de ciência com módulos e actividades que visam a compreensão de conceitos e fenómenos científicos globais, mas a partir da realidade e contexto local, como por exemplo: Rio Tejo, barca, ponte romana, Castelo de Almourol, pára-quedismo e arqueologia.

Aos visitantes da região proporcionará a exploração de conceitos e fenómenos científicos contextualizados no seu próprio território (lançamento de balões, de pára-quedas, escavações, etc.) e aos visitantes das restantes localidades do país, para além dessa exploração, dá-lhes ainda a possibilidade ficaram a conhecer todo o nosso território e a sua grandiosa história.

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