A Igreja de Nª Srª da Assunção, na Atalaia, Vila Nova da Barquinha, é monumento nacional por Decreto n.º 11453, de 19 de Fevereiro de 1926. A data, gravada numa pilastra do lado esquerdo do arco da capela-mor, remete-nos para o acerto da data da sua construção, ano de 1528. Este belo edifício reflecte a orientação da escola de João de Castilho e de João de Ruão que enriqueceu entre nós “a arte da pedraria” com visibilidade acentuada no pórtico principal, verdadeira obra-prima da arte Renascentista. Para além do seu pórtico, dos painéis de azulejo do Séc. XVII, de duas cores combinadas, azul e amarelo, e do honorífico túmulo de D. José Manuel da Câmara, 2.º cardeal patriarca de Lisboa, a Igreja tem outros segredos que importa desvendar. Vamos então ao seu encontro …
Diversas marcas de cantaria encontram-se gravadas na Igreja da Atalaia (1). Localizam-se as mesmas em vários sítios do monumento nacional e que escaparam, até agora, à sua extinção. Podemos vislumbrá-las, entre outros locais: na torre sineira da igreja, na parede e contraforte de cunhal da fachada principal, na cabeceira do lado norte e também no seu interior, na arcaria do lado esquerdo e do lado direito da nave central. As marcas de canteiro ou siglas, Gliptografia (2), surgem nas superfícies interior e exterior das pedras e as que estão na Igreja da Atalaia, iguais às da figura ao lado, exprimem, afinal, o quê? Existem várias teses com o objectivo de clarificar o significado e a função destas marcas de cantaria havendo quem defenda que: “ - Constituem o alfabeto de uma língua mágica e esotérica de origem caldaica, destinando-se a exercisar toda a casta de malefícios;
- Não passariam de sinais utilitários gravados pelos canteiros para indicar a exacta posição, colocação, localização e altura, bem como o adequado ajustamento dos silhares aparelhados;
- Seriam marcas feitas pelos canteiros como assinatura pessoal com o fito de assinalar o trabalho realizado por cada um e permitir a contabilização do salário em conformidade;
- São marcas individuais, reportando-se ao nome de cada pedreiro (inicial ou monograma), às respectivas crenças e devoções (objecto simbólico ou alegórico), ao seu estado social (instrumento profissional), à data da realização do trabalho (signo astrológico), etc.
- Reproduziriam sinais franco-mações adoptados pelos pedreiros para seu mútuo reconhecimento;
- Poderiam corresponder, em certos casos, concomitantemente ou não com os significados enumerados supra, à assinatura do doador de uma pedra, coluna, abóbora, etc.” (3).
O certo é que estas marcas constituem um mistério que dá lugar a todo tipo de teorias que vão desde as iniciais do nome do canteiro, a indicadores de qualidades da pedra, à assinatura do canteiro para cobrar o preço do seu trabalho, a pedras dadas em doação para a sua construção, a interpretações astrológicas, etc. etc.
A opinião maioritária defende que as marcas de cantaria são para justificar o trabalho realizado na obra. Pelo levantamento dos sinais gravados nas pedras da Igreja da Atalaia verificamos que as marcas de identidade são de fácil execução e de traço simples pelo que me parece, salvo melhor parecer, que estas demonstram o apuramento do valor funcional incorporado tendo o objectivo de assinalar o trabalho realizado por cada um dos canteiros permitindo, assim, a contabilização do seu salário.
A gliptografia em Portugal constitui um caso de estudo dos mais notáveis casos da Europa mas, inexplicavelmente, esta permanece uma área que menos atenção tem despertado aos nossos investigadores.
(1) Investigação do Dr. João Ramalhete: “A Gliptografia na Igreja de Nª Srª da Assunção, Atalaia, Vila Nova da Barquinha, Agosto de 2011”. O trabalho encontra-se para consulta na Biblioteca Municipal do Município.
(2) Griptografia – gravação na pedra por incisão ou relevo.
(3) Gandra, Manuel J., Cadernos da tradição, siglas e marcas lapidares, subsídio para o Corpus Lusitânico, Ano I, n.º 2, 2001.
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