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ATALAIA, Vila Nova da Barquinha, Portugal
Vivendo nesta terra há 30 anos vou perguntar à história e à tradição qual a origem desta localidade. Desejo saber quem neste atractivo sítio erigiu a primeira construção, quais as obras que foram nascendo, a sua idade e as mãos que as edificaram, quais os seus homens ilustres e os seus descendentes, quem construiu as estradas, os caminhos, as pontes e as fontes. Quão agradável será descobrir em cada pedra os nossos antepassados levantando com palavras o sonho do nosso futuro. Atalaia, 18-11-2007.

13.1.08

O terramoto de 1755 na Atalaia, Praia do Ribatejo (Paio de Pelle) e Tancos.


A Atalaia quase nada sofreu com o sismo de 1 de Novembro de 1755.
A nossa localidade está implementada numa zona correspondente à depressão do Tejo, limitada por falhas e permanece fora das principais “linhas sismo-tectónicas”.
Vejamos os efeitos do terramoto na escala de Mercalli:
Atalaia, abalo no grau 6;
Praia do Ribatejo, abalo no grau 7;
Tancos, abalo no grau 6 (?).
A seguir a um sismo é possível determinar - usando a escala de Mercalli por inquérito a várias testemunhas ou perante factos concretos - o grau do sismo com que ele se fez sentir. Na escala de Mercalli os sismos são classificados em 12 categorias:

Grau 6 - Cai a argamassa de muitas paredes, movem-se moveis pesados. Muitas pessoas saem de casa para a rua, onde o perigo é sempre menor.
Grau 7 - Os danos já são maiores, podendo causar completa destruição se as construções forem frágeis. Nas construções mais sólidas verificam-se pequenas rachas nas paredes. Algumas chaminés caem. Todas as pessoas fogem de sua casa. O abalo é também sentido nos automóveis em movimento.
Grau 8 - As construções mais sólidas sofrem fendas maiores. As mais frágeis são completamente destruídas. Chaminés, monumentos e colunas são derrubados. Móveis pesados caem e os automóveis em movimento são altamente dificultados na sua marcha.
Grau 9 - São consideráveis os danos produzidos em toda e qualquer construção, ficando danificadas as fundações assim como as tubulações subterrâneas.
Grau 10 - É grande a destruição dos edifícios. Os trilhos dos caminhos-de-ferro ficam torcidos e formam-se fendas no solo. Verificam-se deslizamentos de terras nas encostas mais abruptas ou nos vales dos rios. A agua das represas é derramada através das fendas que se abrem.

Grau 11 - Poucos edifícios permanecem em pé. As pontes são destruídas. Abrem-se grandes fendas no solo.
Grau 12 - A destruição é total, chegando a modificar sensivelmente a topografia do terreno. A violência é tal, que muitos objectos são lançados ao ar, tão forte é a vibração produzida pelas ondas sísmicas.

...
Enquanto as freguesias de Atalaia e de Tancos terão sofrido fracos danos com o sismo de 1755, já na de Praia do Ribatejo os efeitos terão sido significativos. Observemos o que nos diz Sousa (1919), transcrevendo uma descrição muito pormenorizada do pároco de Payo de Pelle:
“Nesta freguezia de Nossa Senhora da Conceição de Payo de Pelle Prelazia de Thomar se sentio principiar o Terremoto primeiro de Novembro, pellas nove horas e quarenta minutos da manhã pouco mais, ou menos; e duraria sinco ou seis minutos. Fes dois intervalos, e sempre hia crescendo com violencia mayor, athé que de repente findou.
Não se percebeu, se foi mayor o impulso da parte do Sul, ou se da parte do Norte, mas alguns telhados de cazas expecialmente o da Igreja Matriz desta freguezia, se vem damnificados da parte do sul, e sem damno da parte do Norte. Nesta freguezia não se arruinou caza alguma, só na Igreja Matriz abrirão algumas rachas nas paredes e se descompos o telhado com pouca perda da parte do Sul. O convento dos religiosos Capuchos de Nossa Senhora do Loreto padeceo algum damno. A sanchristia se acha quasi arruinada e especada, e na abobeda da Igreja abrio huma racha pello meio desde o frontespicio athé o altar mor. Defronte do mesmo convento para a parte do Sul ; e no meyo do Rio Tejo está situado o Castello de Almourol que antigamente foi grande fortaleza e habitação dos Comendadores de Almourol, porem já está haverá cem annos dezabitado e arruinado por muitas partes; e com o impulso do Terremoto lhe caio da parte do Sul hum bocado de parede que teria duas braças; e alem das ruinas antigas não se lhe conheceo mais que esta.
Ainda que todas as pessoas desta freguezia sintirão o grande avalo, e ficarão como atonitas com o susto nenhuma morreo nem perigou.
O Rio Tejo que corre da parte do Sul huma grande legoa ao redor desta freguesia por espaço de seis ou sete dias se vio muito turvo estando o tempo sereno, e se julgava seria effeito de alguma trovoada, que haveria no Reyno de Castella; mas experimentando-se no fim deste tempo o Terremoto se julga foy effeito delle. E na ocasião do mesmo Terremoto (...) saltarão as agoas do Rio tanto e se moverão de modo que chegarão a cobrir as prayas, como se houvera alguma cheia. E o mesmo se observou no Rio Zezere, que tambem pella parte do nascente corre ao longo desta freguezia quazi de huma legoa e se mette no Rio Tejo ao pé da Igreja Matriz.
Não se observou sinal nas fontes antes do Terremoto e depois algumas lanção mais agoa que a custumada, e secarão outras de todo e entre ellas secou huma copiosa fonte que lançava mais de huma telha de agoa na cerca dos religiosos Capuchos de Nossa Senhora do Loreto, e lhe servia nos misteres do convento e de regar a sua horta de cuja falta experimentão seu damno.
Depois do primeiro Terremoto tem repetido muitos mais pequenos que por continuados se lhe não dá numero só se observa que sucedem mays de noute, que de dia, e são mais frequentes quando a lua faz quarto e nenhum damno tem causado. Antes do primeiro Terremoto ninguem se lembra de outro semelhante.
(...)
De 18 de Fevereiro de 1756.
O Vigario, Fr. Antonio José da Assumpção.”
Esta descrição dos factos ocorridos tem vários aspectos brilhantes, alguns dos quais apontados por Sousa (1919) e por F. Gonçalves et al. (1979). Vejamos:
a) O sismo teve uma duração bastante elevada (cerca de seis minutos, o que só é comum em sismos de grande magnitude) e grande número de réplicas;
2) O rio Tejo correu turvo durante seis dias e as águas, na ocasião do terramoto, saltaram tanto que se espraiavam como se fosse cheia; fenómeno similar terá sido observado no rio Zêzere;
3) Depois do terramoto, nalgumas fontes aumentou o caudal, enquanto outras secaram, como aconteceu à que existia na cerca do antigo convento do Loreto, situado na margem direita do Tejo, junto ao castelo de Almourol e hoje pertencente à Escola Prática de Engenharia.

Bibliografia
GONÇALVES, F., Zbyszewski, G., Carvalhosa, A., & Coelho, A. P. (1979) - Carta Geológica de Portugal à escala 1:50.000
POLIDORO, F. (2002) – Aspectos didácticos da geologia na região de Abrantes. Tese de mestrado. Universidade de Coimbra.
SOUSA, F. L. P. (1919) - O terramoto do 1º de Novembro de 1755 em Portugal e um estudo demográfico. Vol. II, Distritos de Santarém e de Portalegre. Mem. Serv. Geol. Port., Lisboa.
SILVA, M. e CASTRO, J. (1978) – Forma, dimensão e estrutura terrestre, Porto Editora, Porto.

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