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ATALAIA, Vila Nova da Barquinha, Portugal
Vivendo nesta terra há 30 anos vou perguntar à história e à tradição qual a origem desta localidade. Desejo saber quem neste atractivo sítio erigiu a primeira construção, quais as obras que foram nascendo, a sua idade e as mãos que as edificaram, quais os seus homens ilustres e os seus descendentes, quem construiu as estradas, os caminhos, as pontes e as fontes. Quão agradável será descobrir em cada pedra os nossos antepassados levantando com palavras o sonho do nosso futuro. Atalaia, 18-11-2007.

30.3.09

O castelo da Atalaia (?)

A nossa geração deve procurar reviver os passos dos nossos antepassados.
Se assim procedermos poderemos compreender aquilo que somos e relativizar muitos dos nossos desgostos da actualidade. Recordando os duros tempos de antanho iremos buscar força e alento ao exemplo dos nossos antecedentes por tudo o que fizeram em prol da Pátria.
Os desafios agora são outros! Dir-me-ão. É verdade ! Todavia, sabendo como os nossos antecessores reagiram no passado estamos mais capazes de enfrentar as dificuldades e os escolhos da vida.
Imaginemo-nos no ano de 1139 …
« A Guerra quase contínua, dura há quase quatro séculos, entre sarracenos e cristãos. Paulatina, mas tenazmente, vai progredindo a Reconquista.
Lutas internas violentas rompem a unidade muçulmana no conjunto dos territórios hispano-marroquinos. Desguarnecendo arriscadamente a Península acodem fortes contingentes almoravidas a Marrocos, procurando sufocar o crescente poder da rebelião almoada (a).
Aproveitando tão favorável oportunidade redobram os reinos cristãos de esforço em sua ofensiva.
Corre ao tempo, segundo Viterbo, até hoje não desmentido, a fronteira sul portuguesa de Leiria por Ourém, ao Tejo, cerca do actual Entroncamento, acompanhando, em percurso reduzido o rio até a confluência de Zêzere. Daqui, subindo este último, inflecte depois para leste, procurando o Alto Côa.
Entre as duas fronteiras, moura e cristã, intercala-se, em léguas de largura, a terra de ninguém.
Estende-se a zona de guerra portuguesa do Mondego para o sul e, nela, baliza a sua primeira linha de resistência os castelos de Leiria, Ourém, Cera, Seia e Celorico, o terceiro dos quais hoje destruído, duas léguas ao norte da actual Tomar.
Á frente, como postos destacados de vigilância estratégica, parece erguerem-se já sobre o Tejo Médio, num sector de 10 Km , os três pequenos castelos de Cardiga (senão, talvez na Atalaia), de Almourol e de Zêzere, este ultimo, a cavaleiro da foz do mesmo rio e em frente do local onde depois se levantará Constância. Figuram esses castelos saliente agudo da cobertura estratégica de Afonso Henriques, apontando sobre o Alentejo. Facto interessante ê incluir este saliente dois vaus do Tejo, um, a leste, o da Praia, outro a oeste, o da Barquinha. Separado do primeiro pelo pego do Almourol, comunica o segundo com o mouchão entre o Tejo e a estreita vala do Tejo Velho, vinda do Arrepiado.” (1)
Não me custa admitir que li, sem espanto, no texto supra referido e noutros textos, a possibilidade da existência de uma fortificação ou castelo na Atalaia.
Ainda recentemente numa conversa com o Dr. Paulo Picciochi o tema foi abordado.
É muito bom saber que há quem, doutamente, como Ludovico Menezes, coloque esta hipótese histórica.
O facto é que este assunto está no limbo, como muitos outros da nossa terra.
Não existem dúvidas que a Atalaia foi conquistada aos Mouros por D. Afonso Henriques e que em 1159, o castelo e o território de Ceras foram doados pelo rei à Ordem do Templo com vista à defesa e povoamento do reino. Em 1169, juntava-se o dos castelos de Cardiga e Zêzere, e o de Almourol, reconstruído em 1171. A ordem do Templo passava a deter importantes posições estratégicas na margem direita do Tejo, com o controlo de acessos vitais a Coimbra, a Santarém e controlo das incursões dos povos vindos do sul do rio Tejo.
Poder-se-á questionar se no actual Picoto, local onde de avista o Castelo de Ourém, Cardiga e Santarém, ou em lugar próximo, existia uma torre, fortificação ou um castelo. Não existem vestígios de tal infra-estrutura embora haja quem suponha que no sítio denominado as Barrosas existem restos de paredes de um antigo castelo (2)
Sempre se dirá que este tema não é matéria de fácil esclarecimento, consabido que, por exemplo, e para não irmos mais longe, dos castelos de Cera (b) e do Zêzere (c), referidos nos texto supra, não restam quase nenhuns vestígios da sua presença.
Se existiu fortificação na Atalaia a sua construção seria, provavelmente, anterior à fundação da nacionalidade. Igualmente, se existiu, a fortaleza teria sofrido grandes estragos no decorrer dos séculos, além das devastações que, certamente, os sarracenos lhe aplicaram. Lembra-se, por exemplo, que o castelo de Torres Novas, é tomado pelos Mouros em 1184, e passado pouco tempo estes o abandonaram em grande estado de ruína.
Os Atalaienses gostam de histórias. Espero que também gostem de História e, essencialmente, que este tema nos estimule a todos, bem como aos arqueológicos, a tentar apreender melhor o que desapareceu nesta Vila extraindo daí um entendimento acerca de quem somos e para onde vamos.
a) Tendo conquistado o Norte de África até ao Egipto, apercebendo-se do insucesso dos Almorávidas em revigorar os estados muçulmanos na Península Ibérica, bem como em suster a Reconquista cristã, ocuparam sucessivamente grande parte do Al-Andalus.
b) Ceras, freguesia de Alviobeira.
c) Praia do Ribatejo.
BIBLIOGRAFIA
(1) Menezes, Ludovico de, “O Feito de Ourique “, Revista de Estudos Históricos, vol. 3, nº. 1/3, 1926.
(2) Picciochi, Margarida Gomes Coelho, Ata-laâ, Atalaya, Atalaia, Ed. Notícias do Entroncamento, 1987.

1 comentário:

DUARTE SILVA disse...

Bom Amigo Dr. Freire
Tenho observado com agrado o carinho com que está a descobrir coisas sobre a Atalaia.
Não há fumo sem fogo e as lendas, embora por veses fantaziadas, têm algo de real.
O pessoal mais velho sabe onde fica a célebre mina, que em moço ouvi dizer que ligava a Atalaia ao Almourol. Sei que a entrada fica uns cem a trezentos metros para a esquerda da Capela, quem está virado para ela, a nascente daquele caminho que vai da capela e sai perto do cemitério.
Talvez tenha para lá alguma informação interessante. O pessoal da Arqueologia da Barquinha, se calhar, nem nunca ouviu falar nela.
Aquele abraço.
Sérgio