In Jornal Público de 25.11.2007, artigo do jornalista Manuel Fernandes Vicente
Faz hoje 200 anos que o general francês Junot, à frente do grosso das tropas que concretizaram a primeira invasão de Portugal a mando de Napoleão Bonaparte, chegou a Constância. Nesta vila, então ainda designada por Punhete, aconteceu um imprevisto que pode ter mudado decisivamente a história.
É certo que Junot comandava já um grupo de homens a que dificilmente se podia ainda chamar um exército. A coluna de militares franceses pouco mais era que um grupo de soldados famintos, cansados, esfarrapados, semidescalços e desmoralizados, que procurava avançar contra as inclemências do tempo por montes sinuosos e vales alagados. Mas foi em Punhete que, pelo efeito das forças do acaso, a história não se escreveu da forma que Napoleão tinha já traçado nos seus mapas - e continuou a haver um reino independente em Portugal.
Junot chegou a Punhete numa quarta-feira com o objectivo absoluto de chegar a Lisboa no mais curto espaço de tempo, que lhe permitisse a entrada na capital antes de a família real concretizar a intenção de partir para o Brasil, o que frustrava o objectivo de Napoleão subjugar Portugal. Mas é na vila que acolhera Camões que Junot esbarra com o obstáculo que iria tornar a sua missão impossível. O rio Zêzere ia com um caudal enorme e forte turbulência, juntando-se ao Tejo, igualmente a transbordar das suas margens. A travessia tornava-se terrivelmente difícil e demorada. Só em 27 de Novembro de 1807, Junot e os primeiros militares da coluna invasora conseguiram transpor a corrente do Zêzere para atravessar um Ribatejo alagado e chegar a Lisboa. Se o tempo o permitisse ainda veriam ao longe as últimas embarcações que conduziam o regente, futuro D. João VI, e a família real rumo ao Brasil.
"Quando os franceses chegaram a Constância, mais pareciam o que o povo chama uma tropa fandanga, era mais um bando de famintos e salteadores de estrada que pilhavam o que encontravam para matar a fome. E não traziam infantaria nem engenharia, que lhes permitiria construir, embora com dificuldades, uma ponte sobre o Zêzere e chegar mais depressa à capital do reino", sublinha António Matias Coelho, assessor cultural da Câmara de Constância.
"Depois de passarem por Castelo Branco, encontraram uma série de ribeiras cheias que dificultaram a sua travessia. Além disso, havia falta de estradas e de pontes, que, somando ao Outono chuvoso, retardou muito a progressão do exército", refere o investigador. E acrescenta: "Em Punhete havia uma ponte de barcas que era montada na Primavera, mas quando Junot chegou já estava desmontada, como sempre acontecia no Outono." Junot ainda procurou reorganizar o exército em Abrantes. Uma guarda avançada atravessou depois pelos campos alagados da Golegã, mas só chegou a Lisboa no dia 30.
O investigador salienta que "as invasões francesas são ainda hoje dos episódios que mais alimentam a fantasia popular". E mesmo ditos e expressões populares como "tudo como dantes, quartel-general em Abrantes" ou "foi para o maneta" resultam da passagem das tropas napoleónicas pela região.
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- Fernando Freire
- ATALAIA, Vila Nova da Barquinha, Portugal
- Vivendo nesta terra há 30 anos vou perguntar à história e à tradição qual a origem desta localidade. Desejo saber quem neste atractivo sítio erigiu a primeira construção, quais as obras que foram nascendo, a sua idade e as mãos que as edificaram, quais os seus homens ilustres e os seus descendentes, quem construiu as estradas, os caminhos, as pontes e as fontes. Quão agradável será descobrir em cada pedra os nossos antepassados levantando com palavras o sonho do nosso futuro. Atalaia, 18-11-2007.
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