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ATALAIA, Vila Nova da Barquinha, Portugal
Vivendo nesta terra há 30 anos vou perguntar à história e à tradição qual a origem desta localidade. Desejo saber quem neste atractivo sítio erigiu a primeira construção, quais as obras que foram nascendo, a sua idade e as mãos que as edificaram, quais os seus homens ilustres e os seus descendentes, quem construiu as estradas, os caminhos, as pontes e as fontes. Quão agradável será descobrir em cada pedra os nossos antepassados levantando com palavras o sonho do nosso futuro. Atalaia, 18-11-2007.

19.3.08

Atalaya - Inquirições Paroquiais de 1758

A mando de D. José I e de Sebastião José de Carvalho e Melo (mais conhecido por Marquês de Pombal) no ano de 1758 foram efectuados os interrogatórios ou inquéritos paroquiais a todas as vilas e aldeias de Portugal, documentos que actualmente se encontram no Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Lisboa. As questões eram as seguintes:
1º. Em que Provincia fica? a que Bispado, Comarca, Termo, e Freguesia pertence?
2º. Se he del Rei, ou de Donatário, e quem he ao presente?
3º. Quantos visinhos tem, e o numero das Pessoas.
4º. Se está situado em Campina, valle, ou Monte; e que Povoações se descobrem della e quanto dista?
5º. Se tem termo seo: que lugares ou aldeas comprehende: como se chamão: e quantos visinhos tem?
6º. Se a Parochia está fora do Lugar, ou dentro d'elle ? e quantos Lugares ou aldeas tem a Freguesia, e todos pelos seos nomes?
7º. Qual he o seo Orago: quantos altares tem, e de que Sanctos: quantas Naves tem: Se tem Irmandades: quantas, e de que Sancto?
8º. Se o Parocho he cura, vigario, ou Reitor, ou Prior, ou Abbade e de que appresentação he, e que renda tem?
9º. Se tem Beneficiados: que renda tem; e quem os apprezenta?
10º. Se tem Conventos, e de que Religiosos, ou Religiosas; e quem são os seos Padroeiros?
11º. Se tem Hospital: quem o administra; e que renda tem?
12º. Se tem casa de Misericordia, e qual foi a sua origem, e que renda tem? e o que houver de notavel em qualquer destas cousas.
13º. Se tem algumas Ermidas, e de que Sanctos; e se estão dentro, ou fora do Lugar, e a quem pertencem?
14º. Se acodem a ellas Romagens sempre, ou em alguns dias do anno, e quaes são estes?
15º. Quaes são os fructos da terra, que os moradores recolhem com maior abundancia.
16º. Se tem Juis Ordinario da Camara: ou se está sujeita ao governo das Justissas de outra terra; e qual he esta?
17º. Se he couto, cabesa de Conselho, Honra, ou Behetria?
18º. Se ha memoria de que florecessem, ou della sahissem alguns homens insignes em virtude, Letras, ou armas?
19º. Se tem Feira, e em que dias, e quantos dura, e se he Franca, ou Captiva?
20º. Se tem correio, e em que dias da semana chega, e parte? e se o não tem, de que correio se serve; e quanto dista a terra aonde elle chega?
21º. Quanto dista da Cidade Capital do Bispado; e quanto de Lisboa, Capital do Reino?
22º. Se tem alguns privilegios, antiguidade, ou outras couzas dignas de memoria.
23º. Se ha na terra, ou perto della, alguma fonte, ou Lagoa celebre; e se as suas aguas tem alguma especial virtude.
24º. Se for Porto do mar; descreva-se o sitio, que tem por arte, ou por natureza; as embarcações que o frequentão, e que pode admittir?
25º. Se a terra for murada, diga-se a qualidade de seos muros, se for Praça d'armas descreva-se a Fortificação; se ha nella ou seo destricto algum Castello, ou Torre antiga, e em que estado se acha ao presente.
26º. Se padeceo alguma ruina no Terremoto de 1755, e em que: e se está já reparada.
27º. E tudo mais, que houver digno de memoria, de que não faça menção o presente Interrogatorio.

Respostas ao Inquérito sobre a Villa de Atalaya (texto adaptado):
“Desta vila de Atalaia que pertence ao Patriarcado de Lisboa, está situada num monte distante do Rio Tejo quase meia légua ao Norte, e da Corte que é a sua Capital, dezanove léguas. Foi da Coroa até o ano de mil quinhentos quarenta e dois, em que o Sr. Rei D. João III fez troca com o Sr. D. Fradique Manoel ascendente dos Exmos. Sr.s Condes de Atalaya, hoje Donatários dela, dando-lhes Sua Majestade as vilas de Atalaya, Tancos, Aceyceyra, e o Cazal de St. Marta (de Monção no termo de Santarém) com todas as suas rendas, privilégios, e isenções de juro, e herdade que são muito amplos, pela villa de Salvaterra de Magos.
É governada por um Ouvidor, e dois Juízes Ordinários que apresentam os Ex.mo Sr. Marques de Tancos, D. João Manoel de Noronha (6.º Conde de Atalaia e 1.º Marques de Tancos, mercê com que foi agraciado a 22 de Outubro de 1751. Era filho de D. Pedro Manoel de Ataide e de D. Margarida Coutinho. Foi general de batalha e mestre de campo general, governador e capitão general de Angola, governador da Torre de Belém, alem de outros títulos e cargos.) É termo das comarcas de Tomar. Desta vila se avistam as da Golegã que é a uma légua, a da Chamusca que são duas, a de Santarém que são cinco e tão bem se avistarão as labaredas do fogo em Lisboa na ocasião do Terramoto que houve no ano de mil, e setecentos, e cinquenta, e cinco, e a vila de Ourém que dista desta três léguas. A sua Igreja Matriz se acha dentro da mesma vila tem por Orago Nossa Senhora da Assunção. Com três naves e cinco Altares colaterais, uma com o Nome de Jesus, outro de Nossa Senhora do Rosário da parte do Evangelho, com a Epistola, uma do Espírito Santo, e outro de St.° António. Tem um Prior apresentado pelo Ex. Sr. Marques de Tancos, e um Cura, que apresenta o mesmo Prior, e tem de renda quinhentos réis ao todo. Tão bem tem casa de Misericórdia de que são Provedores alternativos o Exmo. Sr. Cardeal Patriarca, e o Exmo. Sr. Marques de Tancos, e tem anexo um Hospital (albergaria, local de abrigo e hospedagem) para os passageiros, e Casa para todo o Religioso que vai de passagem pedir para pernoitar, cuja renda liquida é cada ano trinta mil reis e teve seu principio no ano de mil, quinhentos, oitenta, e oito.
Estão dentro da vila a Ermida de S. Sebastião que algum dia serviu de Matriz, e uma Capela de Nossa Sr.ª da Esperança de que é administradora no presente Isabel Godinho do lugar da Moita desta Freguesia. Junto à mesma vila, nos seus arrabalde, estão duas Ermidas, uma de S. Luís (já desaparecida) de que são administradores os Exmo. Srs Condes de Atalaya; e outra de Nossa Sr.ª da Ajuda, em que se venera a Milagrosa Imagem do Sr. Jesus, com uma romagem todas as sextas feiras do ano, da qual foi Instituidor um homem particular chamado Nuno Velho desta mesma freguesia. Além destas há mais quatro Ermidas dispersas pelos povos donde se administra o Sacro Viático aos enfermos, uma de S. João no lugar da Baginhas (Entroncamento), outra de Nossa Sr.ª dos Remédios no lugar da Moita, outra de St.° António no lugar da Barquinha, e outra de Nossa Sr.ª do Recamadouro (N.ª Sr.ª do Rocamador) entre o lugar da Mouta e Barquinha. Nesta freguesia se achão os Lugares da Barquinha, que é um grande porto de comércio por ficar junto ao Rio Tejo, o Lugar da Moita, Baginhas, Pedregoso, Tojeira e Laveiros, e contarão em si todos com a vila seiscentos, e dois fogos, e mil nove centos, noventa, e sete pessoas de confissão. Os frutos que há na terra em maior abundância é azeite que só deste comerciarão os seus moradores, porque o pão, e vinho é muito pouco, e muitos anos não chega para a terra. Nesta mesma villa nasceu dos Exmos. Sr.s Condes de Atalaya, o Sr. D. José Manoel que hoje se acha elevado a Sagrada Purpura de Cardeal Patriarca de Lisboa. Por ela passa o correio quando vai para a Beira às terças-feiras e nas quartas quando volta para Lisboa todas as semanas, mas não tem saco fixado, e se usa de um particular em que o estafeta leva as cartas dos moradores deste termo.
Há só uma feira nesta villa a vinte de Janeiro, três dias franca, e no Terramoto de 1755 não experimentou ruína notável. O Rio Tejo que nasce em Castela, com os rios Nabão e Zêzere que se juntam"em Punhete (Constância) é navegável de Abrantes até o mar, aonde em Valada perde o nome. Há em todo ele muitas pescarias de sável de Janeiro até ao S. João, fataça e mugem em todo o tempo, de cuja pescaria vive a maior parte dos moradores desta freguesia. Dentro deste termo se achão doze lagares de azeite, dois de seco, e dois de água, e sete moinhos de pão, em duas ribeiras que só quando chove muito são arrebatadas, e de Verão muitas vezes lhe falta a água, e tão bem quatro moinhos de vento. Tem muitas excelentes águas de fonte, e muitas abundantes, porém mal estimadas pela incúria dos seus moradores. Estas são as coisas que se achão na minha freguesia de que posso dar relação e as mais de que o folheto pede nota, e eu aqui não toco, é porque as não há neste termo. Deus Vos Guarde e Abençoe. Atalaia 2 de Abril de 1758. O Prior Bernardo Marques de Carvalho

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