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ATALAIA, Vila Nova da Barquinha, Portugal
Vivendo nesta terra há 30 anos vou perguntar à história e à tradição qual a origem desta localidade. Desejo saber quem neste atractivo sítio erigiu a primeira construção, quais as obras que foram nascendo, a sua idade e as mãos que as edificaram, quais os seus homens ilustres e os seus descendentes, quem construiu as estradas, os caminhos, as pontes e as fontes. Quão agradável será descobrir em cada pedra os nossos antepassados levantando com palavras o sonho do nosso futuro. Atalaia, 18-11-2007.

30.6.08

22JUN2008. O DESEJO DE PODER CONTAR COM OS APOIOS DAS AUTARQUIAS LOCAIS PARA MATERIALIZAR A FEITURA DE UM LIVRO

Depois de estar envolvido na iniciativa impar para as gentes da Atalaia, 250 Anos da Morte do Cardeal Patriarca D. José Monoel da Câmara, e de afazeres profissionais, volto à presença dos leitores para contar como decorreram as cerimónias.
Como era público procurava a comissão organizadora com este evento valorizar a memória do Patriarca, o seu legado histórico e a sua personalidade. Procurava-se, também, dar a conhecer a Igreja da Atalaia e a nossa terra a todos quantos nos quiserem visitar neste dia único para a nossa Vila.
De madrugada, pelas 6 horas da manhã do dia 22 de Junho, já a azáfama era intensa com a colocação de 417 vasos de flores junto da Igreja Matriz e ao longo da Rua Patriarca D. José. O Sr. António Vital e o Sr. Fernando disponibilizaram os meios de transporte, o Sr. João Caetano cedia todo a panóplia de flores das mais variadas qualidades e um grupo significativo de Atalainses (não faço a sua discriminação pois posso esquecer-me de alguém) a força braçal. Quando os Atalaienses saíram à rua encontraram-na enfeitada de mil cores. Pelas 9 horas já o meu amigo Zé Luís andava em bolandas com o protocolo e com o relatório da minudência em cima do pormenor não fossemos nós … “meter a pata na poça”. Socorro aqui, auxílio acolá, lá fomos resolvendo os pequenos detalhes do evento.
Pelas 15 horas, os gastos sinos da Igreja tocaram pela mão do Sr. António Vital. Recordo que nunca ouvi nesta terra um bater de sinos como aquele.
Passados breves instantes à nossa Vila chega Sua Eminência o Cardeal Patriarca D. José Policarpo. A população respondeu à sua presença aderindo, em grande número, às Comemorações. A Igreja estava cheia de fiéis e convidados. Todos queriam associar-se a este evento. O Pe. Laranjeira saudou os presentes. Referiu que é justo que nos orgulhemos do passado e das visitas Ilustres do presente, mas recordou que o orgulho, só por si, tende a separar, suscitando invejas e desconfianças. Ora o que se queria e quer é proporcionar encontro e estreitar laços. Encontro com o passado, avivando a memória e conhecendo a seiva que alimenta a alma comum de que somos herdeiros. E estreitar os laços no presente que nos é dado construir. Se assim for, ficaremos mais fortes e mais capazes de amar e servir a terra que nos coube em herança e que nos compete entregar aos vindouros, como casa comum, que queremos feita de Fraternidade, Justiça e Paz. O coro de Tancos cantou e encantou.
Pelas 17 horas tivemos um recital de música barroca e clássica pela Academia de Ordem de Cristo de Tomar. Momento de descontracção e de beleza pois os artistas foram sublimes. Desde já o meu agradecimento ao meu amigo e insigne músico José Soares.
Posteriormente, fomos chamados a ouvir e a estudar o património religioso, cultural, social e espiritual desta Vila da Atalaia. Quão agradável foi descobrir em cada palavra dos comunicantes os nossos antepassados, as suas obras e as pedras que aqueles moldaram.
Os conferencistas da 1.ª parte foram o Dr. João Soalheiro, membro do Centro de Estudos de História Religiosa, da Universidade Católica Portuguesa, e a Dr. Celina Bastos, investigadora do Museu Nacional da Arte Antiga. Demonstraram, por palavras, o seu contentamento por poderem fazer uma intervenção sobre D. José Manoel. Referiram que tinham ainda maior alegria por poderem contar com a presença tão distinta do Sr. Cardeal Patriarca de Lisboa D. José Policarpo. Em intróito exprimiram o desejo de poder contar com os apoios das autarquias locais para materializar a feitura de um livro que englobasse os temas das intervenções: “ A Vida e a obra do II Cardeal Patriarca de Lisboa” e “a Igreja da Atalaia”. (Desejo que é corroborado pela feitor do presente blog pelo que todos devemos diligenciar para que as palestras sejam publicadas.)
Contaram-nos os conferencistas que D. José Manoel da Câmara nasceu em Lisboa, segundo a opinião da maioria dos historiadores mas por testemunho, aparentemente incontroverso, do prior ao tempo desta terra, Bernardo Marques de Carvalho, conforme consta das Inquirições paroquiais de 1758, nasceu na Vila da Atalaia no dia 25 de Dezembro de 1686. Era o segundo filho de D. Luís Manuel de Távora, quarto Conde da Atalaia, e de D. Francisca Leonor de Mendonça. Estudou em Coimbra. Em 10 de Abril de 1747 foi criado Cardeal por Bento XIV. A partir deste momento não utilizaria mais o apelido “Câmara”. Foi eleito Patriarca de Lisboa em 7 de Março de 1754. Segundo o jornal “Gazeta de Lisboa”, D. José fez a sua entrada solene na patriarcal no dia 7 de Setembro de 1754 e durante 3 noites sucessivas iluminaram-se todas as ruas da cidade de Lisboa para celebrar este acontecimento.
Após ser nomeado Cardeal de Lisboa, no início de Setembro, deixa o Palácio da sua família, o palácio dos Marqueses de Tancos, para se instalar num palácio onde hoje é a Igreja de S. Roque que fora destruído pelo terramoto de 1755. Aquando do terramoto D. José encontrava-se neste palácio, no seu quarto e sentado numa cadeira. O telhado caiu. Dois criados transportaram-no para fora do quarto e logo após terem saído do edifício o mesmo veio a ruir, não o atingindo milagrosamente. O Patriarcado, após o terramoto, é mudado para uma barraca de madeira com oratório e mais tarde é deslocado para o Palácio da Junqueira juntamente com o núncio apostólico. D. José manda construir a Patriarcal no Príncipe Real e para aí muda, mas mais tarde este edifício irá ser destruído pelo fogo. A seguir ao terramoto presta auxílio espiritual à sua população. Um dia o Ministro do Rei, Sebastião de Carvalho e Melo, mais conhecido por Marquês de Pombal, interroga o Cardeal Patriarca se os mortos devem ser enterrados em valas comuns ou metidos em batelões e lançados ao mar. O Cardeal num gesto de grande sabedoria e de saúde pública advoga pela última hipótese pois se os corpos fossem sepultados em valas comuns contaminariam as águas do subsolo e tal facto, certamente, geraria elevado número de mortos. O Cardeal opta, à época, por uma solução sanitária, lúcida e determinada. Em confronto com algumas posições assumidas com o Marquês de Pombal, e gravemente doente, retira-se para a Atalaia onde veio a falecer em 8 de Julho de 1758.
A Mestre Amélia Casanova e o Mestre Horácio Peixeiro contaram-nos toda a história da edificação da Igreja da Atalaia mandada construir, cerca de 1528, por D. Pedro de Meneses, conde de Cantanhede. Falaram da sua traça, elaborada por João de Castilho, da decoração do portal principal e do arco cruzeiro, da autoria de João de Ruão, e foram até ao mais ínfimo pormenor do templo. Desde o simples capitel até à minúscula imagem gravada na pedra dos altares laterais. Uma investigação que apanhou de surpresa todas as pessoas que julgavam conhecer este belo monumento nacional e que afinal tem tanto para contar. Abreviando, foram preclaras investigações dignas de serem publicadas para memória futura, assim os homens tenham querer.
Posteriormente, serviu-se um Porto de Honra na Casa do Patriarca, aberto a toda a população. A D. Luísa, o Sr. Manuel e os seus incansáveis filhos receberam-nos num ambiente acolhedor e pleno de carinho. Decoraram o belo jardim e apresentaram lindas iguarias. A antiga casa de D. José Manoel da Câmara estava belíssima para receber o actual Cardeal de Lisboa e os convidados que assinaram o livro de honra.
Perante tamanha despretensiosa efeméride a Atalaia cresceu e escreveu mais uma página na sua História.
Aos homens e mulheres Atalaienses que colaboraram no evento, aos amigos que tudo fizeram para que o evento decorresse sem reparos, expressa a Comisão os seus sentidos agradecimentos. Pela minha parte, tive muito orgulho e honra em participar e em fazer o caminho juntos. Com a serenidade que fluí do trabalho realizado e com a consciência de que faremos sempre o melhor que nos for possível com os meios disponíveis, estou certo de que iremos prosseguir as nossas vidas procurando levantar uma Atalaia mais bela.

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