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ATALAIA, Vila Nova da Barquinha, Portugal
Vivendo nesta terra há 30 anos vou perguntar à história e à tradição qual a origem desta localidade. Desejo saber quem neste atractivo sítio erigiu a primeira construção, quais as obras que foram nascendo, a sua idade e as mãos que as edificaram, quais os seus homens ilustres e os seus descendentes, quem construiu as estradas, os caminhos, as pontes e as fontes. Quão agradável será descobrir em cada pedra os nossos antepassados levantando com palavras o sonho do nosso futuro. Atalaia, 18-11-2007.

1.6.08

D. José Manuel da Câmara, II Cardeal Patriarca de Lisboa

Quem foi este Homem?
D. José Manuel da Câmara, segundo Patriarca de Lisboa, nasceu no dia 25 de Dezembro de 1686, era o segundo filho de D. Luís Manuel de Távora, (quarto Conde da Atalaia) e de D. Francisca Leonor de Mendonça. Estudou em Coimbra, como porcionista do colégio de S. Pedro, de onde passou a deão da insigne colegiada de S. Tomé, na capela real. Em 10 de Abril de 1747 foi criado Cardeal por Bento XIV.
Eleito Patriarca de Lisboa em 9 de Março de 1754, tomou posse por seu procurador o principal D. João de Melo, em 2 de Junho do mesmo ano, e foi sagrado a 25 de Julho na sua capela pelo núncio apostólico, assistido dos bispos de Constantina, D. José Henriques, e de Macau, D. Fr. Hilário de Santa Rosa. Dois dias depois foi-lhe imposto o palio pelo Arcebispo de Lacedemonia.
Fez a sua entrada solene na patriarcal no dia 7 de Setembro do mesmo ano.
Sobrevindo no ano seguinte o fatal terramoto que destruiu grande parte de Lisboa e reduziu a cinzas a igreja patriarcal, foi este prelado incansável em tomar da sua parte as possíveis providências para remediar tantos desastres que uns após outros se sucederam.
Os historiadores referem que o cardeal foi muito louvado pelo zelo com que acudiu, entre o ruir da cidade, às necessidades espirituais da população pois esta ajuizava com um castigo do Céu a imensa catástrofe.
Á data existiam graves acusações gravíssimas sobre os jesuítas, acusações que se baseavam em factos propositadamente excessivos para descrédito da Companhia de Jesus.
No fundo pretendia-se conseguir que o patriarca perseguisse os jesuítas. Certamente a instâncias do Marquês de Pombal que já lhes proibira que pregassem na igreja patriarcal, depois de serem proibidos de pregar na capela real. O patriarca D. José Manuel, pela sua parte, os não tinha em mau conceito. Isto infere-se do facto de nomear dois deles, os padres Machado e Romano, examinadores prossinodais, já depois daquela proibição. No princípio de Junho tentou-se arrancar ao patriarca uma ordem violenta de perseguição aos Jesuítas, a de suspender os jesuítas de confessar e pregar na diocese de Lisboa. O marquês de Pombal dirigiu-se ao paço patriarcal e ali instou por semelhante decisão, recorrendo a todos os meios que lhe inspirava a sua perversidade. Disse ao prelado que era aquela a vontade de El-Rei, e que seria irremediavelmente destituído da patriarcal se não cumprisse. D. José Manuel, mais de septuagenário e doente, hesitou perante a ameaça, e pediu tempo par deliberar. O ministro, vendo que ele fraquejava, redobrou de esforços, até que o obrigou, depois de cinco horas de resistência, a dar a ordem naquela mesma, tarde. Mesmo de noite a imprimiram, e na manhã seguinte apareceu afixada por toda a cidade de Lisboa.
Os próprios termos da ordem prelatícia acusam iniludivelmente a coacção em que foi dada. É do teor seguinte: “Por justos motivos, que nos são presentes e muito do serviço de Deus e do público, havemos por suspensos do exercício de confessar e pregar em todo nosso patriarcado aos Padres da Companhia de Jesus, por ora, enquanto não ordenarmos o contrário. E para que chegue a noticia de todos …”, etc. Esta ordem tem a data de 7 de Junho de 1758 ( Colecção dos Negócios de Roma, p. I, pag. 59). Vemos que o patriarca não especificava os motivos, e dava à sua resolução carácter temporário.
Esta coacção desgostou profundamente D. José Manuel e apressou-lhe talvez a morte.
Refere o autor das Anedotas do Ministério do Marques de Pombal que, por ocasião de receber o Sagrado Viático, o patriarca declarou publicamente a inocência dos jesuítas, e fez atesta-la num auto a que mandou dar toda a publicidade, para desengano dos povos e descargo da sua consciência. Será desnecessário acrescentar que tal documento nunca apareceu.
Os trabalhos a que se consagrou e as amarguras que sofreu contribuíram talvez para se lhe agravarem as moléstias que padecia. Finalmente abreviou-1he os dias da vida o desgosto das violências que o obrigaram a cometer contra os jesuítas. Foi a ares para o palácio da sua casa na vila da Atalaia.
Aqui, na Atalaia, a sua sobrinha, a Marquesa de Tancos, foi sem dúvida uma das pessoas que o amparou e confortou na dor e na doença durante um período de três anos vindo a falecer, nesta Vila, preparado com os sacramentos da Igreja, em 9 de Julho de 1758.
O túmulo de D. José da Câmara encontra-se no interior da Igreja da Atalaia junto à Capela-Mor.
Imputa-se a construção do monumento funerário a D. Constança Manuel, Marquesa de Tancos e sobrinha do patriarca e que na data da morte do prelado era herdeira da Casa da Atalaia.
A sua sobrinha para demonstrar a sua gratidão ao Patriarca honrou-o na morte com a construção de uma sumptuosa sepultura no lugar mais nobre da Igreja.
No monumento consta, em latim, a seguinte inscrição e da qual se dá a devida tradução:
"D. José Manuel I, Cardeal Presbítero da Santa Igreja Romana, Patriarca da Santa Igreja de Lisboa. Rege a Patriarcado durante 4 anos 1 mês e 19 dias, viveu 72 anos e 6 meses e 14 dias, faleceu no ano do Senhor de 1758, no dia 9 de mês de Julho, Sua Eminência faleceu em Atalaia e foi a 2° Patriarca de Lisboa, fora eleito em 1754 e foi cardeal em 1747”.
Bibliografia:
ALMEIDA, FORTUNATO (1970) - História da Igreja em Portugal, Academia de Ciências de Lisboa, Volume II, Livraria Civilização, Porto e Lisboa.
Boletim da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (1941), n.º 24, Ministério das Obras Públicas e Comunicações.

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