Quem foi este Homem?
D. José Manuel da Câmara, segundo Patriarca de Lisboa, nasceu no dia 25 de Dezembro de 1686, era o segundo filho de D. Luís Manuel de Távora, (quarto Conde da Atalaia) e de D. Francisca Leonor de Mendonça. Estudou em Coimbra, como porcionista do colégio de S. Pedro, de onde passou a deão da insigne colegiada de S. Tomé, na capela real. Em 10 de Abril de 1747 foi criado Cardeal por Bento XIV.
Eleito Patriarca de Lisboa em 9 de Março de 1754, tomou posse por seu procurador o principal D. João de Melo, em 2 de Junho do mesmo ano, e foi sagrado a 25 de Julho na sua capela pelo núncio apostólico, assistido dos bispos de Constantina, D. José Henriques, e de Macau, D. Fr. Hilário de Santa Rosa. Dois dias depois foi-lhe imposto o palio pelo Arcebispo de Lacedemonia.
Fez a sua entrada solene na patriarcal no dia 7 de Setembro do mesmo ano.
Sobrevindo no ano seguinte o fatal terramoto que destruiu grande parte de Lisboa e reduziu a cinzas a igreja patriarcal, foi este prelado incansável em tomar da sua parte as possíveis providências para remediar tantos desastres que uns após outros se sucederam.
Os historiadores referem que o cardeal foi muito louvado pelo zelo com que acudiu, entre o ruir da cidade, às necessidades espirituais da população pois esta ajuizava com um castigo do Céu a imensa catástrofe.
Á data existiam graves acusações gravíssimas sobre os jesuítas, acusações que se baseavam em factos propositadamente excessivos para descrédito da Companhia de Jesus.
No fundo pretendia-se conseguir que o patriarca perseguisse os jesuítas. Certamente a instâncias do Marquês de Pombal que já lhes proibira que pregassem na igreja patriarcal, depois de serem proibidos de pregar na capela real. O patriarca D. José Manuel, pela sua parte, os não tinha em mau conceito. Isto infere-se do facto de nomear dois deles, os padres Machado e Romano, examinadores prossinodais, já depois daquela proibição. No princípio de Junho tentou-se arrancar ao patriarca uma ordem violenta de perseguição aos Jesuítas, a de suspender os jesuítas de confessar e pregar na diocese de Lisboa. O marquês de Pombal dirigiu-se ao paço patriarcal e ali instou por semelhante decisão, recorrendo a todos os meios que lhe inspirava a sua perversidade. Disse ao prelado que era aquela a vontade de El-Rei, e que seria irremediavelmente destituído da patriarcal se não cumprisse. D. José Manuel, mais de septuagenário e doente, hesitou perante a ameaça, e pediu tempo par deliberar. O ministro, vendo que ele fraquejava, redobrou de esforços, até que o obrigou, depois de cinco horas de resistência, a dar a ordem naquela mesma, tarde. Mesmo de noite a imprimiram, e na manhã seguinte apareceu afixada por toda a cidade de Lisboa.
Os próprios termos da ordem prelatícia acusam iniludivelmente a coacção em que foi dada. É do teor seguinte: “Por justos motivos, que nos são presentes e muito do serviço de Deus e do público, havemos por suspensos do exercício de confessar e pregar em todo nosso patriarcado aos Padres da Companhia de Jesus, por ora, enquanto não ordenarmos o contrário. E para que chegue a noticia de todos …”, etc. Esta ordem tem a data de 7 de Junho de 1758 ( Colecção dos Negócios de Roma, p. I, pag. 59). Vemos que o patriarca não especificava os motivos, e dava à sua resolução carácter temporário.
Esta coacção desgostou profundamente D. José Manuel e apressou-lhe talvez a morte.
Refere o autor das Anedotas do Ministério do Marques de Pombal que, por ocasião de receber o Sagrado Viático, o patriarca declarou publicamente a inocência dos jesuítas, e fez atesta-la num auto a que mandou dar toda a publicidade, para desengano dos povos e descargo da sua consciência. Será desnecessário acrescentar que tal documento nunca apareceu.
Os trabalhos a que se consagrou e as amarguras que sofreu contribuíram talvez para se lhe agravarem as moléstias que padecia. Finalmente abreviou-1he os dias da vida o desgosto das violências que o obrigaram a cometer contra os jesuítas. Foi a ares para o palácio da sua casa na vila da Atalaia.
Aqui, na Atalaia, a sua sobrinha, a Marquesa de Tancos, foi sem dúvida uma das pessoas que o amparou e confortou na dor e na doença durante um período de três anos vindo a falecer, nesta Vila, preparado com os sacramentos da Igreja, em 9 de Julho de 1758.
O túmulo de D. José da Câmara encontra-se no interior da Igreja da Atalaia junto à Capela-Mor.
Imputa-se a construção do monumento funerário a D. Constança Manuel, Marquesa de Tancos e sobrinha do patriarca e que na data da morte do prelado era herdeira da Casa da Atalaia.
A sua sobrinha para demonstrar a sua gratidão ao Patriarca honrou-o na morte com a construção de uma sumptuosa sepultura no lugar mais nobre da Igreja.
No monumento consta, em latim, a seguinte inscrição e da qual se dá a devida tradução:
"D. José Manuel I, Cardeal Presbítero da Santa Igreja Romana, Patriarca da Santa Igreja de Lisboa. Rege a Patriarcado durante 4 anos 1 mês e 19 dias, viveu 72 anos e 6 meses e 14 dias, faleceu no ano do Senhor de 1758, no dia 9 de mês de Julho, Sua Eminência faleceu em Atalaia e foi a 2° Patriarca de Lisboa, fora eleito em 1754 e foi cardeal em 1747”.
Bibliografia:
ALMEIDA, FORTUNATO (1970) - História da Igreja em Portugal, Academia de Ciências de Lisboa, Volume II, Livraria Civilização, Porto e Lisboa.
Boletim da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (1941), n.º 24, Ministério das Obras Públicas e Comunicações.
Eleito Patriarca de Lisboa em 9 de Março de 1754, tomou posse por seu procurador o principal D. João de Melo, em 2 de Junho do mesmo ano, e foi sagrado a 25 de Julho na sua capela pelo núncio apostólico, assistido dos bispos de Constantina, D. José Henriques, e de Macau, D. Fr. Hilário de Santa Rosa. Dois dias depois foi-lhe imposto o palio pelo Arcebispo de Lacedemonia.
Fez a sua entrada solene na patriarcal no dia 7 de Setembro do mesmo ano.
Sobrevindo no ano seguinte o fatal terramoto que destruiu grande parte de Lisboa e reduziu a cinzas a igreja patriarcal, foi este prelado incansável em tomar da sua parte as possíveis providências para remediar tantos desastres que uns após outros se sucederam.
Os historiadores referem que o cardeal foi muito louvado pelo zelo com que acudiu, entre o ruir da cidade, às necessidades espirituais da população pois esta ajuizava com um castigo do Céu a imensa catástrofe.
Á data existiam graves acusações gravíssimas sobre os jesuítas, acusações que se baseavam em factos propositadamente excessivos para descrédito da Companhia de Jesus.
No fundo pretendia-se conseguir que o patriarca perseguisse os jesuítas. Certamente a instâncias do Marquês de Pombal que já lhes proibira que pregassem na igreja patriarcal, depois de serem proibidos de pregar na capela real. O patriarca D. José Manuel, pela sua parte, os não tinha em mau conceito. Isto infere-se do facto de nomear dois deles, os padres Machado e Romano, examinadores prossinodais, já depois daquela proibição. No princípio de Junho tentou-se arrancar ao patriarca uma ordem violenta de perseguição aos Jesuítas, a de suspender os jesuítas de confessar e pregar na diocese de Lisboa. O marquês de Pombal dirigiu-se ao paço patriarcal e ali instou por semelhante decisão, recorrendo a todos os meios que lhe inspirava a sua perversidade. Disse ao prelado que era aquela a vontade de El-Rei, e que seria irremediavelmente destituído da patriarcal se não cumprisse. D. José Manuel, mais de septuagenário e doente, hesitou perante a ameaça, e pediu tempo par deliberar. O ministro, vendo que ele fraquejava, redobrou de esforços, até que o obrigou, depois de cinco horas de resistência, a dar a ordem naquela mesma, tarde. Mesmo de noite a imprimiram, e na manhã seguinte apareceu afixada por toda a cidade de Lisboa.
Os próprios termos da ordem prelatícia acusam iniludivelmente a coacção em que foi dada. É do teor seguinte: “Por justos motivos, que nos são presentes e muito do serviço de Deus e do público, havemos por suspensos do exercício de confessar e pregar em todo nosso patriarcado aos Padres da Companhia de Jesus, por ora, enquanto não ordenarmos o contrário. E para que chegue a noticia de todos …”, etc. Esta ordem tem a data de 7 de Junho de 1758 ( Colecção dos Negócios de Roma, p. I, pag. 59). Vemos que o patriarca não especificava os motivos, e dava à sua resolução carácter temporário.
Esta coacção desgostou profundamente D. José Manuel e apressou-lhe talvez a morte.
Refere o autor das Anedotas do Ministério do Marques de Pombal que, por ocasião de receber o Sagrado Viático, o patriarca declarou publicamente a inocência dos jesuítas, e fez atesta-la num auto a que mandou dar toda a publicidade, para desengano dos povos e descargo da sua consciência. Será desnecessário acrescentar que tal documento nunca apareceu.
Os trabalhos a que se consagrou e as amarguras que sofreu contribuíram talvez para se lhe agravarem as moléstias que padecia. Finalmente abreviou-1he os dias da vida o desgosto das violências que o obrigaram a cometer contra os jesuítas. Foi a ares para o palácio da sua casa na vila da Atalaia.
Aqui, na Atalaia, a sua sobrinha, a Marquesa de Tancos, foi sem dúvida uma das pessoas que o amparou e confortou na dor e na doença durante um período de três anos vindo a falecer, nesta Vila, preparado com os sacramentos da Igreja, em 9 de Julho de 1758.
O túmulo de D. José da Câmara encontra-se no interior da Igreja da Atalaia junto à Capela-Mor.
Imputa-se a construção do monumento funerário a D. Constança Manuel, Marquesa de Tancos e sobrinha do patriarca e que na data da morte do prelado era herdeira da Casa da Atalaia.
A sua sobrinha para demonstrar a sua gratidão ao Patriarca honrou-o na morte com a construção de uma sumptuosa sepultura no lugar mais nobre da Igreja.
No monumento consta, em latim, a seguinte inscrição e da qual se dá a devida tradução:
"D. José Manuel I, Cardeal Presbítero da Santa Igreja Romana, Patriarca da Santa Igreja de Lisboa. Rege a Patriarcado durante 4 anos 1 mês e 19 dias, viveu 72 anos e 6 meses e 14 dias, faleceu no ano do Senhor de 1758, no dia 9 de mês de Julho, Sua Eminência faleceu em Atalaia e foi a 2° Patriarca de Lisboa, fora eleito em 1754 e foi cardeal em 1747”.
Bibliografia:
ALMEIDA, FORTUNATO (1970) - História da Igreja em Portugal, Academia de Ciências de Lisboa, Volume II, Livraria Civilização, Porto e Lisboa.
Boletim da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (1941), n.º 24, Ministério das Obras Públicas e Comunicações.
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