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ATALAIA, Vila Nova da Barquinha, Portugal
Vivendo nesta terra há 30 anos vou perguntar à história e à tradição qual a origem desta localidade. Desejo saber quem neste atractivo sítio erigiu a primeira construção, quais as obras que foram nascendo, a sua idade e as mãos que as edificaram, quais os seus homens ilustres e os seus descendentes, quem construiu as estradas, os caminhos, as pontes e as fontes. Quão agradável será descobrir em cada pedra os nossos antepassados levantando com palavras o sonho do nosso futuro. Atalaia, 18-11-2007.

23.10.08

Maestro Arnaldo Gomes Coelho Zagallo Duarte Silva


Foi, manifestamente, o maior músico que passou pela Vila da Atalaia.
Na sua obra havia criatividade, dimensão e diversidade.
Um Homem que tinha a capacidade de compor música numa proximidade quotidiana com uma calma brilhante e sentido de vida.
Já em 1941 participava em diversos eventos musicais às vezes acompanhado da sua concertina e acordeão.
Aquando da sua presença em terras de África, nomeadamente em Nampula, Moçambique, a arte, para ele, não podia ser palavra fútil entre os seus pares e a sua família de Ferroviários.
Na final da década de 40 fazia-se ouvir com o seu piano em público e em variados concertos na sua terra adoptiva, Moçambique.
Parafraseando um seu velho amigo “Tinha uma excepcional paixão pela música clássica, culto, entusiasta pela vida, excepcional chefe de família, católico praticante, funcionário dedicado dos Caminhos de Ferro Moçambique, de educação esmerada, era enfim um homem com quem apetecia conviver. Era um homem de outros tempos, no nosso tempo.”Homem do mundo e para o mundo, não se estranhou a sua envolvência no Clube Ferroviário. Neste Clube existiam as secções de Orfeão, Banda de Música, Orquestra de Dança e Variedades, Grupo Bandolinista, Teatro, Coreografia e Educação Física.Maestro Arnaldo Duarte Silva, com a dinâmica que a todos contagiava, foi dirigente do Clube e um dos obreiros do seu Orfeão que ele muitas vezes ensaiou e dirigiu com brilhante proficiência.Associava sempre à sua enorme estrutura moral, francamente cavalheiresca – onde a nobreza de carácter, pendor cívico e dignidade impoluta avultavam – uma vasta cultura e boa formação intelectual.
Foi com a sua preciosa ajuda que o Cine-Clube de Nampula se tornou num pólo cultural do Norte de Moçambique.
Outra faceta peculiar do Maestro era o gosto pelos aviões pois cultivava o risco do perigo e espírito de aventura que o levavam a apaixonar-se pelas máquinas voadoras.
De regresso a Portugal foi vereador da Câmara Municipal de V.N.Barquinha e membro dos corpos sociais da Santa Casa da Misericórdia. Era a outra face do homem músico - homem cidadão.
Sabemos que a música é uma forma de potencializar determinadas expressões, aumentar a sensibilidade do homem e ao mesmo tempo perceber as suas próprias emoções. Com ela existe a alegria de conhecer os sons, e a alegria de transmiti-la é uma forma de liberdade. Foi isto que nos quis transmitir o Maestro.Diz a máxima latina “Mors omnia solvit” a morte tudo apaga, tudo faz desaparecer. Com a mistura maravilhosa de música, poesia e exemplo o Maestro Arnaldo contraria esta máxima.
Que o seu ensinamento vá passando de geração em geração. Que cada um de nós saiba perpetuar a sua memória para que no futuro se lhe dê apreço.
Homenagem, pois, a tão nobre Atalaiense.

1 comentário:

DUARTE SILVA disse...

Tenho a felicidade de ter sido seu filho. Quão grato é ouvir falar assim do meu pai.
Acrescento e a minha irmã Maria Luisa pode confirmá-lo, que não era pessoa que nos massacrasse com imposições. Ensinava-nos através do exemplo.
Quando queria transmitir-nos qualquer coisa, era através de uma conversa informal, tida às horas das refeições, que na nossa casa eram feitas sempre em comum e onde se trocavam opiniões, sempre em tom ameno de diálogo.
Muitas lições de vida aprendi com ele, sobretudo o cavalheirismo, a tolerância e a compreensão.
No dia em que partiu para Deus, deixou-me uma lacuna que nunca foi preenchida, por muito que o tempo passe. Existe sempre aquela dorzinha cá dentro. Aquela saudade.
Por vezes divergíamos em opiniões, mas a vida mais tarde viria a dar-lhe razão.
Não me posso esquecer que num dia 24 de Dezembro em Nampula, bateu à porta um funcionário negro, que trabalhava na sua repartição dos Caminhos de Ferro. Convidou-o para a sala, chamou a minha mãe ao quarto, falaram em particular e dirigiu-se novamente para a sala, fechando a porta.
Depois comentou conosco, olhando-nos frontalmente com aqueles olhos azuis, que ainda não tinham recebido, que ele era boa pessoa e que se sentia satisfeito em te-lo podido ajudar, pedindo-nos discreção.
Era o seu jeito de estar no mundo.
Foi um dia convidado pelo então Cônsul Geral do Brasil em Moçambique (Júlio Gomes Ferreira) para Cônsul Honorário do Brasil em Nampula e também para algo ligado à Justiça e defesa de menores, também em Nampula, não tendo aceite ambos os cargos porque, além do serviço, dividia o seu tempo com as direções do Clube Ferroviário e Aeroclube de Nampula, além do Cine-clube.
Como músico, tocou órgão na sagração da Catedral de Nampula, com Missa Solene e Te Deum, com a presença do então Presidente da Republica, Marechal Francisco Higino Craveiro Lopes.
Homem público, empenhava-se a sério no que fazia.
Obrigado amigo e Dr. Fernando por se ter lembrado do meu pai.
Sensibilisou-me ouvir falar nele.
Um abraço
Sérgio