A República, como modelo político em oposição ao Monárquico, pode dizer-se, sem excessos de sabedoria, que antes de o ser já o era na Vila da Barquinha. Despropositado e leviano comentário? Talvez não tanto assim! A proclamação da República aconteceu aqui, para todos os efeitos, com os ingredientes possíveis e imaginários do pacifismo e da naturalidade. Não foi tumultuosa, tão teve substanciais enredos, não se revestiu de fracturas na sociedade, não causou vítimas, nada teve de original. Numa abordagem simplista e escorreita de pensamento é esta a leitura convicta e convincente que a documentação disponível da época nos transmite”.
Foi este o intróito de António Luís Roldão na palestra subordinada ao tema: “A proclamação da República e a Barquinha em 1910", a segunda palestra do ano de 2010 "Sábados às cinco com ... " que aconteceu no auditório do Centro Cultural de Vila Nova da Barquinha no pretérito dia 2 de Outubro de 2010.
Para este historiador e investigador da história local, “ Mudaram, ou melhor dizendo, baralharam-se os trunfos, acomodaram-se no poder os rostos da visibilidade política da Barquinha, nada de importante, passando aligeiradamente de um para o outro posto do regime sem oposições ou estéril contestação, na plena paz dos anjos. Fixaram-se na distribuição dos pelouros e no contentamento relativo que beneficiava cada um desses actores principais. No fundo, prosseguiram um rumo, só politicamente diferente, adivinhado por aqui e sentido desde há muito. Pode dizer-se, com segura convicção, que o sistema monárquico estava moribundo, apodrecido, à espera da morte anunciada, principalmente a partir do episódio sangrento do regicídio, sucedido em 1908. Essa esperança já era aqui sentida.
Foi assim que, no dia 2 de Fevereiro de 1907, se anunciou para a Praça de Touros desta Vila, com a presença de vultos tão prestigiantes como os dos Drs. Bernardino Machado e António José de Almeida e do publicista Dr. Brito Camacho. Este acto, visto com indiferença e acentuada tolerância pelos elementos instalados, significa um fechar de olhos do poder instituído, que, ao fazê-lo, deixava a mensagem de se rever naqueles episódios. O historiador recorda-nos que em Janeiro de 1908, o administrador da Quinta da Cantiga dispunha-se doar à Câmara Municipal valor financeiro para ajudar as famílias mais pobres e em maiores dificuldades, propondo-se a receber jornaleiros para trabalharem as terras da Quinta, pelo que pudemos ver como se encontrava o país em 1908, ou seja, assistia-se a um estado dramático de míngua e fome. Os ideais da Revolução Francesa estavam de há muito firmemente enraizados e presentes no espírito da sociedade em geral e a mudança do regime era apenas uma questão temporal. Aconteceu em 1910 como poderia ter sido um sucesso consequente algum tempo antes. As causas que levaram à queda da Monarquia são sobejamente conhecidas, não adianta recordá-las para lhes perceber os efeitos e as consequências a nível nacional. Nem é essa a imagem de marca que pretendemos recolher, antes a local, a que nos diz directamente respeito, particularmente nas diversas nuances dos seus acontecimentos. Pode afiançar -se, com a segurança que as fontes documentais nos permitem, ter sido de natural aceitação, sem ponta de reservas, sem constrangimentos ou oposição a mudança de regime na Barquinha, como facto previsível a prazo, como esperada ressurreição e aspiração de melhoria das condições de vida da população. Dela emergiram, de pronto, duas magnas e principais questões: a primeira, de natureza política, como não podia deixar de ser, de acerto primário de contas, da dominância das posições quanto aos vultos que abraçavam o poder local: Câmara, Administração do Concelho e Juntas Paroquiais, onde legalmente se encontravam. A segunda de natureza também política e económica, a posse de terras da Coroa situadas a Àgua Tesa e Barquinha. Que os ideais da Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade e Fraternidade) estavam iluminadamente presentes nas cabeças pensantes chamadas a governar os povos do Concelho da Barquinha pós Monarquia, provam-se pela alteração do estilo e formulário epistolar quanto ao final das mensagens oficialmente manuscritas, quando expressamente passam a vincular a proclamação da República nestes termos: Saúde e Fraternidade. Sem mais! Por dever de oficio, por convicção ou jeito apressado de agradar e de colher dividendos ante os preclaros salvadores da Pátria, os novos e velhos comissários políticos manifestam-se sem arrependimento, sem incomodidade pelo percurso do passado recente.”
Os festejos do 5 de Outubro de 1910, conhecido por telegrama do Excelentíssimo Governador Civil comunicando o assassinato de EI-Rei D. Carlos, decorreram com pacifismo e naturalidade, não causando rupturas.
Dia 6 de Novembro de 2010 - Os professores Teresa e João Serrano, do Instituto Politécnico de Santarém abordam os temas "A Cultura Avieira" e "Centenário da morte do pintor Torquato Ferreira falecido em Vila Nova da Barquinha no ano de 1910".
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