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ATALAIA, Vila Nova da Barquinha, Portugal
Vivendo nesta terra há 30 anos vou perguntar à história e à tradição qual a origem desta localidade. Desejo saber quem neste atractivo sítio erigiu a primeira construção, quais as obras que foram nascendo, a sua idade e as mãos que as edificaram, quais os seus homens ilustres e os seus descendentes, quem construiu as estradas, os caminhos, as pontes e as fontes. Quão agradável será descobrir em cada pedra os nossos antepassados levantando com palavras o sonho do nosso futuro. Atalaia, 18-11-2007.

30.10.10

A QUINTA DA PONTE DA PEDRA - PARTE I

As zonas junto dos rios, desde os tempos mais longínquos, constituíram um pólo de atracção para os povos primitivos devido à abundância de alimentos. A Ponte da Pedra encontra-se próxima do Rio Tejo e no seu território corriam as Ribeiras da Atalaia, da Cardiga e de Santa Catarina. Toda esta zona foi frequentada pelo homem de Neandertal, 300 mil anos, como atesta as provas arqueológicas recolhidas na Ribeira da Atalaia, em pleno território da Quinta. Posteriormente foram estas terras romanizadas e conquistadas aos mouros. Numa terra fértil e abundante seria fácil a fixação de população.

A Ponte da Pedra, no século XVI, tinha uma importância estratégica fundamental uma vez que era ali que confinavam os concelhos de Santarém e da Atalaia (1). No numeramento de 1527 é referida a existência de uma ponte, certamente romana, que dividia, ao tempo, os 2 concelhos. Como é sabido foram os legionários (soldados) romanos que, com a ajuda das populações locais, iniciaram a construção de uma rede de estradas e pontes para unir as cidades mais importantes e permitir uma ligação rápida a Roma. Muitas dessas estradas e pontes ainda hoje existem. Recorda-se que o Itinerário de Antonino ligava Braga (BRACARA), ao Porto (CALE) e a Lisboa (OLISIPO), tinha CCXLIIII milhas, o equivalente a 361.5 km e passaria por Atalaia, calçada na Rua Luís Picciochi, onde foi possível ver um miliário e fonte centenária e daqui derivava a via Tomar-Évora, atravessando o rio Tejo em Tancos. No itinerário de Antonino são referenciados 6 miliários na cidade de Tomar e mais 2 na periferia, o miliário de Sta. Catarina em Delongo e o miliário de Santos Mártires em Curvaceiras, o que atesta a continuação da via rumo à Ponte da Pedra (antiga Ponte da Cardiga que atravessa a ribeira da Ponte da Pedra), ao Entroncamento e à Golegã (na Qta. dos Álamos fica a villa de S. Miguel). Interesse é ainda poder ver restos do itinerário romano de Antonino na Rua Luis Picciochi e, segundo mera hipótese do signatário, dentro da Quinta da Ponte da Pedra onde se poderá contemplar estrada toda feita a pedra junto ao portão do lado norte.

No maço 30 dos "Conventos de Tomar, Ordem de Cristo", existentes na Torre do Tombo, em Lisboa existe um documento com o nº 5 denominado "Ponte da Cardiga" e congrega em si todo o processo de construção de uma nova ponte, à data de 1623, para substituir a chamada "Ponte da Cardiga" que se encontrava muito velha e em ruína eminente. Assim, em petição dirigida a Sua Majestade, de 27 de Março de 1623, o D. Prior do Convento de Tomar, Fr. Pedro Moniz, conta-nos que junto à Quinta da Cardiga, comarca da "vila" de Santarém, existia uma ponte antiquíssima e muito necessária para o serviço comum de todos os habitantes e povos do reino e ainda de Castela por ser estrada Real e mui seguida. Nesse ano a ponte estava a ruir (os alicerces estavam velhos) de tal modo que se não se lhe acudisse a tempo cairia totalmente. D. Prior do Convento de Cristo, de Tomar, solicitava a Filipe III que lhe concedesse uma provisão para se proceder ao arrecadamento da finta (imposto) necessária à reparação ou construção de uma nova ponte para a qual contribuiu a região de Castelo Branco e Portalegre, o que atesta a sua importância estratégica. Esta nova ponte será, portanto, construída depois de 1625 e era de cantaria com três olhais (2).

Deste documento, depositado na Torre do Tombo, pode retirar-se um novel facto: existia uma outra ponte a cerca de 2 léguas (cerca de 9 a 10 Km) da Ponte da Pedra e para a nascente da ribeira. Vejamos o relato “Se arruinar e cair …. não terem outra passagem …sem torcerem cousa de duas léguas”.

Portanto, a ponte romana que ainda hoje existe na Ribeira da Atalaia (debaixo do viaduto da A23 e que vemos na figura acima dista para nascente cerca de 2 Km) deverá ser de outra época que não a romana para mágoa de todos nós. A prova documental aponta nesse sentido.

(1) A. Braamcamp Freire, Archivo Histórico Português. vol. VI, n.º 7, Lisboa, Julho de 1908. O "Numeramento de 1527" . Primeiro recenseamento que se fez cm Portugal, no reinado de D. João III. Transcrição: "Esta vila de Santarém tem de termo, a saber: ( ... ) Pera a parte de Tomar tem 5 léguas de termo, que é de Santarém até à ponte d’Atalaya, isto é para a parte do norte".

(2) Inquérito Paroquial de 1758, do Cura de Olaia.


BIBLIOGRAFIA: A QUINTA DA PONTE DA PEDRA, Luís Miguel Preto Batista, Edição da Câmara Municipal do Entroncamento, 1998.

2 comentários:

augusto caldeira disse...

Fiquei mais esclarecido.

carlos vicente disse...

Nos, já alguns anos trabalhando em cultura, é a primeira vez que sinto um vereador da mesma, como tal.
É refrescante saber do seu interesse pelo passado. Assim tenho a certeza que todos os projectos para o futuro, serão deveras alicerçados, e disso é do que mais precisamos neste momento. Pessoas que não tenham uma popinião clubista, mas sim de acordo com as raizes, com o bom senso e com o saber.

Grande abraço