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ATALAIA, Vila Nova da Barquinha, Portugal
Vivendo nesta terra há 30 anos vou perguntar à história e à tradição qual a origem desta localidade. Desejo saber quem neste atractivo sítio erigiu a primeira construção, quais as obras que foram nascendo, a sua idade e as mãos que as edificaram, quais os seus homens ilustres e os seus descendentes, quem construiu as estradas, os caminhos, as pontes e as fontes. Quão agradável será descobrir em cada pedra os nossos antepassados levantando com palavras o sonho do nosso futuro. Atalaia, 18-11-2007.

10.4.12

O CENSO LOCAL DE 1878

Por: António Luís Roldão

No princípio do ano de 1872, a Câmara Municipal da Vila Nova da Barquinha elaborou um mapa estatístico onde constavam, pormenorizadamente tratados, o número de fogos e o montante das populações residentes nos diversos lugares conhecidos do espaço concelhio. Tratou-se de uma tentativa mais abrangente e ambiciosa do que aquela que se fazia regularmente, contentando-se tão somente em conhecer a quantidade dos fogos e as populações das freguesias, levantamentos feridos de algumas grosseiras distorções e irregularidades fáceis de detectar por comparação, devidas por certo à insuficiente capacidade, à pouca competência e engenho das pessoas incumbidas dessa responsabilidade.

Esse realismo é evidente e ressalta da análise comparativa que se faz dos resultados inscritos nas tábuas para o efeito reduzidas a escrito e oficialmente remetidas ao Governo Civil, em obediência aos preceitos administrativos.

A organização do documento de 1872 pauta-se por uma mais ampla abrangência de resultados, ultrapassa os limites regulamentares das tábuas anteriormente referidas, pois que, desta vez, vai ao fundo da questão, identificando a natureza dos fogos e das populações residentes, não somente nas freguesias mas especificamente em todos os lugares publicamente conhecidos do território concelhio.

Constitui um instrumento de assinalado interesse documental pelo facto de demonstrar como se espalhava o povo de Deus neste assinalado espaço. É uma primeira e séria abordagem para o passo mais longo e complexo, que, por amadurecimento ao longo dos anos irá resultar no censo de 1878, naquilo que poderemos traduzir com toda a propriedade como o marco fundamental do conhecimento organizado e estruturado das potencialidades do concelho, nas vertentes sócio-económicas.

Apreciemos…

Lugares

Fogos

Habitantes

Atalaia

93

380

Moita

156

594

Vaginhas

64

263

Pedregoso

7

31

Lameira

1

10

Casal do Doutor

1

2

Casal do Médico

1

4

Vale do Seixo

1

4

Moinho do Bonito

1

4

Casal do Frade

2

5

Porto Beiçudo

1

7

Quinta do Amaro

1

5

Ponte da Pedra

1

44

Barquinha

230

953

Praia

69

307

Fonte Santa

4

20

Casal do Jacinto

3

13

Vale de Poços

6

24

Madeiras

1

2

Pintainhos

21

93

Fontainhas

3

8

Figueiras

5

24

Laranjeira

30

118

Portela

9

38

Limeiras

16

69

Outeiro

26

105

Caneiro

12

58

Matos

13

59

Casal do Rio

1

8

Acampamento

6

26

Tancos

57

246

Com naturais e ligeiras alterações quantitativas, quanto aos índices demográficos, relativamente ao esboço de 1872, são elucidativos das vivências da população na segunda metade do século XIX. Revisitam-se, ao pormenor, como espelho curioso e singular de uma época que o pó do tempo acabou por cobrir do esquecimento, sobrando-nos este memorial recordativo.

A realidade do concelho era, então, composta de duas realidades económicas distintas, nem sempre complementares no harmonioso dos resultados. A primeira, importante e absorvente do extracto de uma sociedade aburguesada tinha, nos proveitos fáceis e generosos da vila fluvial – o Tejo – nos negócios de água abaixo e água acima, a tentação fundamental e apetecida. Geradora de riquezas sem necessidade de grandes investimentos, agrupava o grosso dos negociantes estabelecidos com casa própria, cómoda e próspera. Segunda, traduzida no mundo rural – agricultura e pastorícia – constituía o complemento daquela, no rendimento que a terra era capaz de proporcionar, nas parcelas adaptadas ao cultivo da oliveira, da vinha e aos produtos de menor valia. A mata, propícia ao pastoreio do gado e produtora das madeiras e das lenhas para o aquecimento doméstico, associava-se aos proveitos. No capitulo do mundo rural e na vertente da agricultura e nas suas variantes, revele-se, já, a opulência da Quinta da Ponte da Pedra, impondo-se como potentado entre os seus pares, na diversidade e número dos seus rebanhos e no povo activo (44 elementos) para gerir, eficazmente, o tratamento das lides agrícolas. Os aspectos sócio-económicos são tratados ao pormenor, no parecer desses procuradores de coisas importantes e vitais para a subsistência, enraizamento e fixação das populações.

ANIMAIS DE CARGA E TRANSPORTE: é referida a existência de 26 cavalos e 16 muares, distribuídos pelos lugares mais concorridos, força capaz de movimentar as 37 viaturas de dois rodados, achadas pelos inquiridores. Parece-me insuficiente o número peca por defeito se avaliarmos o importante e valioso desempenho que o transporte desempenhava na movimentação das cargas do mundo agrícola e das mais apetecidas e reclamadas no tocante ao tráfego fluvial. Mas, é esse o número constante.

GADO VACUM: existia, apenas, um contingente de 50 unidades na Ponte da Pedra, elemento elucidativo, entre outros, da capacidade criadora e produtiva dessa casa.

GADO LANIGERO: foram contadas 1977 unidades, com particular relevância os efectivos encontrados na Moita – 200: Ponte da Pedra – 500: Barquinha – 700 e Tancos – 400.

GADO SUÍNO: dá-se conta de 229 unidades, com evidência nos efectivos da Ponte da Pedra – 40 e da Moita, com 50.

No respeitante aos MOINHOS DE VENTO, existiam dois, um na Barquinha e o outro em Tancos e quanto aos de ÁGUA, são 13 no total, 10 dos quais em Tancos e os restantes no Vale Seixo, no Porto Beiçudo e na Ponte da Pedra.

FORNOS: são eles 135, dispersos por todo o território, particularmente na Atalaia, com 20; Moita, com idêntico número; a Barquinha, com 30 e Tancos, com 10, os mais significativos.

POÇOS E CISTERNAS: encontram-se 53 ao longo do espaço concelhio, contribuindo para as necessidades do abastecimento de água das populações, obtendo nas fontes e nas correntes do Tejo e do Zêzere um contributo suplementar, sem perigos ou implicações de monta.

Não me alongo mais na análise deste interessante repositório de uma época de prosperidade concelhia, que, em certos aspectos, nos dá que pensar.

Publicado no Jornal Novo Almourol MAR12 n.º 371

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