Mão amiga fez-me chegar o n.º 1 do Boletim da Junta de Província do Ribatejo. Do mesmo retirei o texto abaixo que dou a conhecer ao público em geral e, em especial, aos moitenses e atalaienses.
Eis mais factos para as memórias destas duas localidades, Atalaia e Moita do Norte.
A freguesia de Atalaia, que tem a sua sede na vila do mesmo nome, tem por orago Nossa Senhora da Assunção. No ano de 1600 a sede da freguesia já tinha a categoria de vila. A freguesia é de 2.ª ordem, supondo-se que a sua criação remonta ao século XI.
A freguesia de Atalaia, que tem a sua sede na vila do mesmo nome, tem por orago Nossa Senhora da Assunção. No ano de 1600 a sede da freguesia já tinha a categoria de vila. A freguesia é de 2.ª ordem, supondo-se que a sua criação remonta ao século XI.
População - 1.068 habitantes, sendo 532
varões e 536 fêmeas. O número de famílias é de 445.
Correios, telégrafos e telefones - Tem caixa posta rural na sede da
freguesia, o mesmo se dando em Moita do Norte. Não há telégrafo nem telefone.
Localização - A vila de Atalaia está situada
num monte. Dai lhe provém o nome porque deriva do árabe: Ata-laã, isto é, monte
donde se pode vigiar (Atalaiar).
Lugares e lugarejos - Lugar: Moita, a 1.900 metros.
O
maior aglomerado de habitações existe na sede da freguesia.
Feiras - No dia 20 de Janeiro tem lugar, na
sede da freguesia, a chamada Feira da Atalaia. vulgarmente conhecida pela Feira
dos Porcos por nela só se transaccionar gado suíno. Os velhos almanaques (os de
1700 e 1702, por exemplo). já mencionavam a Feira da Atalaya.
Mercados - Não se realizam.
Festas tradicionais - Em Atalaia há uma festa anual ao
Senhor Jesus da Ajuda, comemoração imemorial. Esta imagem era, em tempos idos,
muito venerada pelos habitantes. O tempo diluiu esse culto. As festas são
organizadas por uma comissão de festeiros nomeada no terceiro dia da festa.
Constam de arraial, reminiscência dos tempos primeiros, talvez da Igreja
antiga, onde o culto tinha sempre uma parte profana de folguedos populares, de
fogo de artificio, de jogos e cavalhadas. Influência árabe não era certamente,
nem a aconselharia; temos de aceitar a influência romana que dominou na
Península, culto a Ceres (festas religiosas e profanas), a Diana, etc. Estas
festas, que duram três dias, realizam-se em Agosto, em dias variáveis.
Há
outra festa tradicional no lugar da Moita, a Senhora dos Remédios, em dia
variável, festa religiosa com folganças populares (bazares, jogos, chá, etc.).
Vias de comunicação - Não é sede de estação de
caminho-de-ferro. As estações que lhe ficam mais próximas são as de
Entroncamento, a 3 quilómetros, e a de Barquinha, a 2,5 quilómetros, e para as
quais não há carreiras de camionete.
Distância às povoações mais próximas - A Tomar, 16,500 quilómetros; à
Barquinha, sede do concelho, 2,5 quilómetros; à Golegã, 9 quilómetros; a Moita
do Norte, 1.900 quilómetros; a Torres Novas, 9 quilómetros, e ao Entroncamento,
3 quilómetros. Na área da freguesia passa uma estrada nacional. a n.º 60, que
se destina a Tomar. Portos fluviais, não tem. O Tejo fica à distância de 3
quilómetros e meio, tomando a direcção da Barquinha. Não tem automóveis de
aluguer.
Produção - A sua principal produção agrícola
é o azeite. Como produção industrial há algumas oficinas de olaria; a
manipulação dos artefactos é ainda produzida pelos meios rudimentares,
ancestrais mesmo; a única roda de pé sobre a qual assentam o barro amassado.
Estas olarias existem desde tempos longínquos, exportando para as feiras e
mercados de Tomar, Barquinha, Constância, Golegã, Torres Novas, etc. Há na
freguesia duas azenhas (tipo primitivo) e 9 lagares de azeite, 2 na Moita e 7
na Atalaia. Possui também oficinas de pirotecnia que muito se têm desenvolvido.
A produção que mais se tem desenvolvido e que predomina é a da oliveira. Não
tem muitos terrenos incultos. A agricultura é feita por processos primitivos (o
arado e a cava manual). Não existem baldios.
Comércio - A principal natureza do seu
comércio é a olaria. Predominam os estabelecimentos mistos. As localidades com
que mantém mais relações comerciais são Tomar; (olaria) e Barquinha (comércio
em geral). Não tem farmácia.
Instrução - Em Atalaia há escolas para os dois
sexos. Em Moita do Norte há uma escola mista com horário alternado. A freguesia
de Atalaia é a que contém número menor de analfabetos entre as freguesias do
concelho; se extrairmos as pessoas maiores de 55 anos, cuja educação primária
foi descurada, nota-se que o número de analfabetos é sensivelmente inferior ao
das outras freguesias do concelho.
Associações e instituições - Na Moita do Norte há uma Casa do
Povo, criada em 28 de Março de 1934, que tem um grupo musical e uma instituição
de assistência e previdência que lhe está anexa e cuja acção se tem feito
sentir benéfica e valiosamente. Em Atalaia há um grupo musical e uma sociedade
de recreio, na qual se têm realizado récitas, que vive de recursos próprios,
isto é, de cotas mensais e do produto das diversões que organiza.
Monumentos - A belíssima igreja quinhentista
de Atalaia (monumento nacional por decreto n.º1\1.453, de 19 de Fevereiro de
1926, é de três naves. No lado do Evangelho está o túmulo de D. José Manuel,
9.° filho de D. Luiz Manuel de Távora, 4.° Conde de Atalaia, com um epitáfio em
latim de que a seguir se dá a tradução: D. José. Manoel I, Cardeal Presbítero
da Santa Igreja Romana, Patriarca da Santa Igreja de Lisboa. Regeu o
Patriarcado durante 4 anos, 1 mês e 19 dias. Viveu 72 anos, 6 meses e 14 dias.
Faleceu no ano do Senhor 1758, no dia 9 do mês de Julho. Descanse em paz.» Este
senhor faleceu na Atalaia e foi o 2.° Patriarca de Lisboa. Fora eleito em 1754
e feito cardeal em 1747. Na coluna do arco do cruzeiro da capela mor está a data
1528. O púlpito tem a data de 1674.
Factos notáveis - A freguesia de Atalaia foi uma
das maiores vítimas das invasões francesa. Em 1810 e 1811, épocas dolorosas e
amargas, foram assassinadas mais de 400 pessoas, segundo se verifica nos
assentos paroquiais. Os soldados franceses cometeram imensos assassinatos na
vila de Atalaia e no lugar da Moita. Todavia as guerrilhas não ficaram
inactivas. Muitos soldados inimigos jazem nas charnecas e olivais assassinados
por todas as formas. Tão importantes foram esses recontros que mereceram a
investigação do Coronel de Engenharia Garcez Teixeira e do antigo Secretário da
Administração do Concelho da Barquinha, Júlio de Sousa Costa, que publicaram
nos Serões de Tancos.
“A.B.C”
de Rocha Martins e na imprensa, crónicas interessantes sobre o assunto. A
invasão francesa deu mais de 200 crónicas históricas ao segundo daqueles
senhores. Os Serões de Tancos são um repositório dos grandes acontecimentos de
então, sem auxl1io algum particular ou oficial.
As
lutas do Constitucionalismo tiveram também a sua repercussão e foram publicadas
crónicas sobre essas épocas em vários jornais do distrito. Tão importante é
esse manancial que já estão completos três volumes, que ainda não viram a luz
por falta de auxílio. É seu autor autor Júlio de Sousa Costa e parece que ainda
se colherão apontamentos para mais um volume documentado. Pela Atalaia, na
tarde de 16 de Maio de 1834, passaram fugidos da Asseiceira, onde se havia
travado a batalha entre miguelistas e liberais, soldados derrotados nesse
prélio. Vinham esfomeados, cansados e temendo as represálias. A alguns deram os
habitantes de comer e beber mas tanto medo traziam que recebiam as vitualhas e
iam comendo e sempre a fugir.
Também
a freguesia não ficou insensível aos movimentos políticos do tempo de D. Maria
II (1846·1848). Daí para o futuro não mais se interessou nas lutas partidárias.
Só em 1908 e 1909 é que acompanhou o movimento republicano com muito
entusiasmo.
Livros
que se referem à freguesia - Ribatejo Histórico e Monumental de F. Câncio, e
crónicas dispersas em jornais, artigos nos jornais da Chamusca, Entroncamento e
outros.
Águas - Na Atalaia o abastecimento de
águas é feito por uma fonte pública e um poço. Na Moita, por um chafariz a 800
metros. Está-se construindo um depósito de cimento armado para um poço, além de
poços para a colheita da água para usos e lavagens.
Não
tem qualquer água com propriedades medicinais. Na freguesia não há rede de
esgotos nem é obrigatória a construção de fossas.
Luz eléctrica - Na Moita do Norte há iluminação
eléctrica, ao preço de 2$00 o Kilowate, fornecida pela Câmara Municipal da
Barquinha e produzida pela Empresa Hidro-Eléctrica do Alto Alentejo. Na sede da
freguesia a iluminação pública é a petróleo.
Condições geológicas - Terras: barrentas (80% a 85%)
donde se extrai o barro para a indústria que é a única na terra: a olaria.
Rios e ribeiros - Cursos de águas dignos de
figurarem nos mapas não há. Apenas ribeiros que secam no verão e que nem figuram
nos mapas do Estado-maior.
Igrejas e capelas - Atalaia - A igreja matriz merece
ser visitada. Possui belíssimos azulejos, século XVII.
Moita
- A capela da Senhora dos Remédios, sem arquitectura. Reedificada, talvez, nos
princfpios do século XVIII; sem ornamentação e estilo. Nesta capela deu-se,
segundo a tradição oral dos velhos Barbosas e Farinhas um desacato que indignou
a população da Moita. Soldados franceses, acenderam as velas dos altares e
deram lá um baile. O que se passou depois com as pobres raparigas da Moita, que
os franceses foram buscar à força às suas casas, é tudo quanto há de mais
indigno. Há uma crónica, baseada em informações, que descreve esse estúpido
divertimento que teve um desenlace trágico e comovente. Trágico porque revelou uma
triste fotografia do carácter humano; comovente porque foi revestido da mais
cruciante e dolorosa amargura. As guerrilhas do célebre Madrugo, porém,
vigiavam os franceses e a desforra parece que foi cruel e sanguinolenta. Era a
guerra.
Cruzeiros e Alminhas - Havia um cruzeiro na Atalaia que
o camartelo destruiu há muitos anos, talvez há mais de sessenta. Parece que
constava duma cruz assente num pedestal com três degraus e erecto a pouca
distância da Capela de S. Sebastião, destruída ou demolida há poucos anos, e
situada na parte sul da vila (lado do Entroncamento). Não há os conhecidos
painéis ou azulejados comemorativos das Alminhas. Hoje há dois cruzeiros, um no
cemitério da Atalaia e, outro, em frente da porta da Capela do Senhor Jesus da
Ajuda.
Pontos de vista - Horizontes um pouco limitados, a
não ser na região oeste. Vastos terrenos de olivedo com a sua folha de
tonalidade escura. Ao longe, na direcção sul, a fita do Tejo. Bons ares, mercê
da esplêndida situação. Norte dominante. Sitio saudável.
Lendas - Não há lendas algumas. O que é
ponto averiguado é que existe ainda a tradição moirisca. Lenda? Não, apenas a
tradição que se repete através dos séculos. O nome da terra, como já vimos, é,
e bem vincadamente, moirisco. Da Atalaia, em 1147, foram os mouros expulsos por
D. Afonso Henriques. Todos nós sabemos que a dominação dos mouros não foi de
anos, mas de séculos, principalmente na parte média do Portugal dos nossos
dias. Hábitos, propensões, modos de agir são caracteristicamente mouriscos. O
cruzamento das raças ficou bem marcado através dos séculos. E pessoa alguma
foge à ancestralidade.
Homens notáveis - Residiu na vila de Atalaia
durante algum tempo o escritor Francisco Gomes de Amorim e no século XVIII a
família Manoel (Atalaia) durante o verão segundo a tradição oral.
Propriedades rústicas dignas de
menção - A Quinta
da Ponte da Pedra. Casa senhorial dos Morgados do Juncal (Falcão Trigoso). onde
sucederam grandes factos por ocasião da Guerra Peninsular.
Folclore - Nada de típico em trajos e costumes.
Versos mais típicos cantados pelas classes populares:
“ Oh! meu
lindo papagaio, empresta-me o teu vestido! - O meu vestido é de penas!
- Penas trago eu comigo ...”
Danças preferidas pelas classes
populares - Danças
típicas da região não há e crê-se bem que nunca as houve. Dança-se aqui o que é
importado.
Casas brazonadas - A Casa da Ponte da Pedra (Falcão
Trigoso).
Pelourinho - Havia um na Atalaia que em 1830
foi destruído pelo chamado camartelo civilizador ...
Conventos, estátuas, fontes
artísticas, padrões e obeliscos.
Não há .
A
freguesia nunca teve outra denominação e possuiu brasão.
Não
existem presentemente quaisquer elementos militares. De 1840 a 1846 houve
milícias e um capitão-mor de apelido Barbosa, homem decidido, cartista
esturrado, valente e desempoeirado de ideias. Parece que era natural da vila de
Atalaia ..
Legião Portuguesa. - Há filiados que recebem
instrução no Entroncamento
Mocidade Portuguesa. Não há.
Bibliografia:
Boletim da Junta de Província do Ribatejo / dir. ed. Abel da Silva. - Santarém
: J. R R., 1940.
1 comentário:
É bom deixar as marcas dos antepassados. Eu sendo da Asseiceira conheci muitos dos oleiros da Atalaia.
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