O
acto de tombar as propriedades das ordens militares era essencial para uma boa
administração do seu património. A propriedade deveria ser identificada de
acordo com a sua tipologia e localização; indicadas as confrontações aos quatro
pontos cardeais; medida com uma vara (de 5 palmos, equivalente a 1,10m);
referida a tipologia contratual (aforamento em vidas ou enfiteuse perpétua);
estipular o foro respectivo e a data de vencimento do mesmo (geralmente festas
religiosas: Natal, S. João, entre outras); e, por último, a autoridade que
outorgou ou confirmou esse mesmo contrato (indicado se se tratava do Mestre
presente ou de um seu antecessor).
Em
1504, foi efectuada uma visitação às comendas da Ordem de Cristo e do Médio
Tejo. Daqui resultou a elaboração de tombos das suas propriedades. Esta
visitação / inventariação fora ordenada pelo Capítulo Geral da Ordem de Cristo
iniciou-se em 1503 e acabou em 1510.
Compulsando os Tombos da Ordem de Cristo,
vol. II, Comendas do médio Tejo, 1504 a 1510, sobre as Comendas de Dornes, Beselga, Sonegado, Alvaiázere, Sabacheira,
Ferreira do Zêzere, Pias, Casével, Pussos, Vila de Rei, Cardiga e de Almourol
verificamos que dos respectivos tombos não se vislumbra nenhum topónimo com o
nome da Barca, Porto da Barca, Porto da Bouça ou Boussa ou similar mas encontramos
por exemplo: Lagoa Fedorenta, Lameira, Pedregoso, etc.. Assim, afastamos a origem de qualquer lugar com toponímia semelhante a Barca ou Barquinha e retiramos a existência física de qualquer povoado com este nome antes de 1510 porque a prova documental, até à presente data, não nos deixa outra conclusão.
Mas ... avancemos
no tempo. No
Numeramento ou Cadastro Geral do Reino, de D. João III, feito entre 1527-1532, encontramos o número do corpo da vila da Atalaia, ou seja, no núcleo que
originaria um povoado. E encontramos os denominados casais, unidades rurais de
exploração de terra desagregadas da vila para efeitos fiscais. Na área da vila
da Atalaya havia, então, vinte e três e na área de Paio de Pele, actual Praia do Ribatejo, existiam 15 casais agrícolas dispersos. Segundo o Prof. José Alves Dias, cada
casal tinha, em regra, uma casa e um celeiro. Alguns possuíam também palheiros
e, mais raramente, adegas. As casas eram feitas de pedra e barro, madeiradas de
castanho, sendo uma parte coberta de cortiça e outras de telhas. Os palheiros
eram quase sempre cobertos de palha.
Pelo
Tombo dos bens e produção da comenda da Cardiga, ficamos a compreender a
organização económica de uma vila no nosso território. Vejamos o caso da Vila
de Paio de Pelle. Todos os casais produziam cereais: trigo (66%) e centeio
(34%). Dos quinze casais, dez cultivavam vinhas e oliveiras e oito continham
pomares: entre as árvores plantadas havia ameixoeiras, pereiras, laranjeiras,
figueiras e romanzeiras. Por este panorama de produtos podemos compreender a
existência de "celeiros" em quase todos os casais. Ao
lado dos terrenos cultivados, estavam os "matos maninhos" que serviam
para pastagens; corte de madeira, mato e lenha, para uso comum. Os
casais podiam estar acantoados em enfiteuse - isto é, perpetuamente - ou em
vidas quase sempre três.
Se os documentos dão-nos a conhecer a vida dos casais ficamos por saber a sua localização em concreto.
Teria
a Barquinha origem num casal ? No início do Séc. XVI quer o numeramento quer os tombos
não nos respondem a esta questão. Os
primeiros documentos conhecidos sobre a Barquinha datam de
finais do século XVI pelo que nos é impossível, por agora, compreender em
plenitude a matriz inicial de organização do seu povoado.
Antes
do desvio do rio Tejo, 1543 e 1544, existiam casais disseminados pelas ricas zonas
agrícolas antes de entrar na lezíria? Se sim, em que local? Junto do rio em
zonas inundáveis ou no sopé do vale?
Questões pertinentes que as fontes ainda não nos elucidaram.
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