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ATALAIA, Vila Nova da Barquinha, Portugal
Vivendo nesta terra há 30 anos vou perguntar à história e à tradição qual a origem desta localidade. Desejo saber quem neste atractivo sítio erigiu a primeira construção, quais as obras que foram nascendo, a sua idade e as mãos que as edificaram, quais os seus homens ilustres e os seus descendentes, quem construiu as estradas, os caminhos, as pontes e as fontes. Quão agradável será descobrir em cada pedra os nossos antepassados levantando com palavras o sonho do nosso futuro. Atalaia, 18-11-2007.

12.1.13

Atalaia, Fevereiro de 1668



Cosme de Médicis, o terceiro Grão-Duque da Toscana, visitou Portugal no tempo em que ainda era príncipe herdeiro, em 1668-1669. A esta viagem se refere D. António Caetano de Sousa, na História Genealógica, tomo II, nos seguintes termos: 
«Príncipe benigno e mui estimador dos eruditos, mui afável com os estrangeiros, magnifico e de bons costumes. Sendo moço e príncipe herdeiro correu as principais côrtes da Europa e esteve na nossa de Lisboa. Era então príncipe regente D. Pedro 2.°. Aposentou-se no Colégio de S.to Antão dos Padres da Companhia. Foi o Pe. António Vieira o intermediário para que o Príncipe Regente o recebesse... ». 
De entre a numerosa comitiva do Príncipe, destacavam-se o Conde Lourenço Magalotti, que redigiu o relatório da viagem, e o pintor florentino Pier Maria Baldi, o artista «minucioso e fiel”, verdadeiro repórter fotográfico do tempo, que desenhava tudo quanto pelo caminho o impressionava, cidades, vilas, aldeias, estalagens e humildes pousadas (em cima, pintura da vila da Golegã e de Tomar).
“De Santarém à Golegã são quatro léguas e outras tantas, da Golegã a Tomar. Todo o caminho percorrido desde Lisboa até o mencionado lugar de Tomar é uma série quase ininterrupta de aldeias, vilas, jardins e casas, umas agrupadas, outras dispersas, que se estendem por uma larga faixa de terra entre os montes e o Tejo. Os campos não podemos nem pintá-los mais belos nem desejá-los mais férteis ou amenos: o trigo, o linho, as oliveiras, os pinhais, os pomares, as hortas e as pastagens, onde se vê toda a espécie de gado, juntos à frequência das construções e à abundância de população, à temperatura branda do ar e à maravilhosa variedade do terreno, aqui erguendo-se em suavíssimos outeiros, acolá estendendo-se em plainos uniformes banhados por frequentes e copiosas poças de águas pluviais que a terra retém, tudo isto forma um quadro extraordinariamente aprazível. As povoações que se encontram de Lisboa a Tomar são: Vila Longa, Alhandra, Vilafranca, Povos (que é do Conde da Castanheira, como acima se disse), Vila Nova da Rainha, Azambuja e a mencionada tapada de D. Fernando Manuel, duma légua de circunferência, mas ainda não totalmente fechada nem povoada de caça, Cartaxo, Santarém, Golegã e Atalaia, fora da qual se vê por acabar um grande palácio quadrado de boa e nobre arquitectura, e que é do Conde que tem por título o nome da dita povoação (1). Aqui os campos circunvizinhos não estão tão cultivados, mas em troca são maravilhosamente adequados a caçadas, sendo da esterilidade da terra abundante recompensa a multiplicidade dos animais que aí se encontram.
(1) Em 1668-69 era senhor da Casa da Atalaia D. Álvaro Manoel de Noronha, casado com D. Inês de Lima. Acusado pelo Santo Ofício teve de abandonar o reino, viajando pela Itália e Alemanha durante 12 anos. (In Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 806 - Auto 1666, estante 8, auto 38, maço 1, n.º 6)

Bibliografia:

Barata, José H. Cosme de Médicis e o Ribatejo. Separata de Biblos, Vol XXII, tomo 1, Coimbra, 1947
MAGALOTTI, Lorenzo, 1637-1712 - Viaje de Cosme de Médicis por España y Portugal (1668-1669) / edicion y notas por Angel Sánchez Rivero y Angela Mariutti de Sánchez Rivero. - Madrid : Sucesores de Rivadeneyra, [1933]

Agradecimento: À Prof.ª Manuela Poitout, que me facultou os elementos históricos.

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