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ATALAIA, Vila Nova da Barquinha, Portugal
Vivendo nesta terra há 30 anos vou perguntar à história e à tradição qual a origem desta localidade. Desejo saber quem neste atractivo sítio erigiu a primeira construção, quais as obras que foram nascendo, a sua idade e as mãos que as edificaram, quais os seus homens ilustres e os seus descendentes, quem construiu as estradas, os caminhos, as pontes e as fontes. Quão agradável será descobrir em cada pedra os nossos antepassados levantando com palavras o sonho do nosso futuro. Atalaia, 18-11-2007.

24.12.12

Desde quando existem templos religiosos na Vila da Atalaia?




1528 - Pilastra da Igreja



Desde quando existem templos religiosos na Vila da Atalaia?
Questão de difícil  resposta. 
Recuemos até ao reinado de D. Pedro I, anos de 1357 a 1367. Com a morte de D. Lourenço Rodrigues, bispo de Lisboa, em 1364, o rei manda proceder ao inventário do falecido. Ficamos a conhecer que “constituem rendimentos episcopais os direitos sobre vários templos da diocese, com particular incidência para as igrejas da cidade e do termo de Lisboa, da Azambuja, Alenquer, Almoster e das vilas e dos termos de Santarém (S. Salvador, S. Julião, S. Nicolau, S. Mateus, S. Martinho, Santo Estêvão, S. Lourenço e Santa Cruz de Santarém, Santa Maria de Marvila, S. Pedro da Arrifana, Almonda e Atalaia) … Dão também corpo a este levantamento o cadastro das igrejas onde D. Lourenço Rodrigues tinha arrendada a terça pontifical (Entre outras, as igrejas de Pederneira, Cós, Maiorga, Aljubarrota, Cela Nova, Évora de Alcobaça, Turquel, Santa Catarina de Póvoa, Alpedriz, Pontével, Almoster, S.Lourenço e S. Julião e S. Martinho de Santarém, S. Paulo de Salvaterra, Atalaia … “ (1)
Tal, já existia igreja na Atalaia ao tempo do falecimento do bispo de Lisboa, em 1364.
Mas onde se situaria esta consabido que a actual Igreja Matriz da Atalaia fora construída em 1528 como demonstra a gravação numa pilastra que ladeia o arco da sua capela-mor?
Podemos conjecturar que a nova igreja fora construída sobre a antiga o que era frequente à época. No Boletim da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (2) é levantada a hipótese de ter existido no chão da Igreja ou nas suas imediações outro templo de mais modesta construção a onde deve ter pertencido a imagem da virgem, escultura gótica do século XIV, que sempre se venerou na Atalaia.
Na minha singela opinião inclino-me para que a Igreja matriz fosse a ermida de S. Sebastião, situada no "Rocyo", a escassos 300 metros da actual igreja matriz, pois parafraseando o Prior Bernardo Marques de Carvalho, nos inquéritos paroquias de 1758 este assegura que aquela ermida “algum dia serviu de matriz”. Certo é que das pesquisas que efectuei não consegui chegar a nenhuma conclusão sustentável permanecendo esta questão no limbo como muitas outras da nossa terra.
Outra questão deveras curiosa é a questão da padroeira da Atalaia.
Hoje temos por designação que é Nossa Senhora da Assunção. Porém, a imagem de pedra, de boa escultura, atribuível a Diogo Pires, o Velho, que assenta numa mísula renascença (3), figura proeminente na sua capela-mor da Igreja da Atalaia é Nossa Senhora com o menino ao colo e, seguramente, não é a padroeira. Conforme escreveu Frei Agostinho da Santa Maria no Santuário Mariano, “a sua forma não diz com o mistério, porque tem sobre o braço esquerdo o Menino-Deus”. Assim, apesar da sua beleza, é descabido denominar-se de padroeira a imagem da escultura de pedra do altar-mor. Esta é, seguramente, Nossa Senhora da Atalaia. Singular é referir que nos painéis de azulejos inferiores há duas imagens da Virgem que caracterizam o novo oráculo e o antigo, Nossa Sr.ª da Rosário, o antigo, e Nossa Sr.ª da Assunção, o novo. Porque será que a Padroeira foi relegada para 2.º plano? Não sei responder. Certo é que a fundação e o povoamento de Portugal coincidiram com um grande devoção mariana motivada pelo ideal da idade média de exaltação da mulher, cujo exemplo perfeito era a Virgem Maria.
Por conseguinte seria lógico que Maria Santíssima fosse escolhida para padroeira de quase metade das igrejas das terras sucessivamente incorporadas no território português e que, também, a nossa Igreja da Atalaia lhe seja dedicada.


(1) SARAIVA, Anísio Miguel de Sousa – O quotidiano da Casa de D. Lourenço Rodrigues, bispo de Lisboa (1359-1364†): notas de investigação. Lusitania Sacra. Lisboa. 2005
(2) A Igreja Matriz da Atalaia, Boletim da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, n.º 24.  Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, Lisboa, 1941
(3) Diogo Pires-o-Velho notabilizou-se no campo da escultura, em Coimbra, executando  inúmeras esculturas de Nossa Senhora com o Menino.





1 comentário:

Rui Manuel Mesquita Mendes disse...

Muitos parabéns por esta nota sobre o património da Atalaia ....

Deixo só um comentário à questão da referência de “algum dia serviu de matriz”, que se dá à Ermida de São Sebastião ... esta nota não quer dizer necessariamente que a Ermida tivesse sido a antiga matriz, o mais provável é que, em algum tempo, por ex. na construção da nova matriz em 1528, ela substituísse a a antiga matriz enquanto a nova se construía ... tenho encontrado situações similares em outras localidades ... mas, claro, são tudo possibilidades!