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ATALAIA, Vila Nova da Barquinha, Portugal
Vivendo nesta terra há 30 anos vou perguntar à história e à tradição qual a origem desta localidade. Desejo saber quem neste atractivo sítio erigiu a primeira construção, quais as obras que foram nascendo, a sua idade e as mãos que as edificaram, quais os seus homens ilustres e os seus descendentes, quem construiu as estradas, os caminhos, as pontes e as fontes. Quão agradável será descobrir em cada pedra os nossos antepassados levantando com palavras o sonho do nosso futuro. Atalaia, 18-11-2007.

29.5.13

Rua do Sal

O traçado urbano da Barquinha cresceu junto do rio e em volta do seu cais. A partir do rio organizavam-se todas as outras artérias da Vila.
O desenvolvimento urbano deu-se a partir do século XVII e é consequência da decadência do porto de Tancos. A existência de um imposto de 50 rs por pipa, e 30 rs por carga, uma provisão régia com o propósito de ajudar a Misericórdia de Tancos, imposto que não era quebrado no porto da Barquinha, foi uma das razões da deslocação do comércio fluvial para a novel Vila.  Certo é que todo o comércio e transporte fluvial, que acontecia no Rio Tejo, desviou-se para o porto da Barquinha que passou a ser uma vila mercantil e alba. Os fluxos comerciais entre as Beiras, Ribatejo e Lisboa faziam-se, principalmente, pelo rio, levando e trazendo permanentemente produtos que aqui eram transbordados, comercializados e levados do e para o interior dos territórios adjacentes, como é exemplo o sal, o azeite, as madeiras, a retrosaria, etc.
A construção das casas na zona ribeirinha era feita à base de granito e de pedra. Também os cais dos prédios adjacentes eram destes materiais, base predilecta de construção dos nossos antepassados. O granito era explorado nas pedreiras da margem esquerda e direita junto de Almoroul. Na rua da Restauração, a mais perto do rio na parte sul, localizavam-se os cais onde atracavam os barcos por um canal  ou doca. Ainda hoje se podem vislumbrar os antigos poiais e escadas, sempre mais altos do que o normal curso de água para evitar a sua entrada no interior dos armazéns.
Surge o presente escrito a propósito de uma demolição que está a ocorrer numa casa na baixa da Barquinha num edifício da família Condeço transmitida por compra e venda a duas pessoas de nacionalidade italiana que notificadas editalmente não procederem à conservação/reconstrução do prédio.
Este edifício fora, em tempos de antanho, uma taberna com jogos tradicionais.
O quarteirão onde está a ser demolido este imóvel e onde está, também, o Centro Cultural é aquele que historicamente, em toda a zona baixa da Vila, mais nos confessa sobre a vida antiga do núcleo urbano barquinhense, local onde se privilegiou o comércio, a sua união com o rio, as suas vivências e até as suas cheias. É neste quarteirão que se perpetua os vestígios da nossa história cunhada de arquitectura e de urbanidade. É este quarteirão que nos conta que os barquinhenses viviam de frente para o rio e virados para sul, tradição olvidada num passado recente mas que, felizmente, está a renascer nas novas gerações para as quais o rio passou a ser um ponto nobre.
Neste quarteirão podemos vivificar as lajes de pedra calcária guarnecendo os pavimentos dos pisos térreos, vestígios da adaptação local à vivência das inundações que, frequentemente, e com a sua adversidade invadiam a Barquinha. Cheias que eram uma bênção, tal como no rio Nilo, pois com a fertilização dos campos nasciam os denominados “nateiros” nos quais se produziam abundantes cereais e produtos hortícolas.

Neste espaço urbano os pisos térreos eram ocupados com armazéns e comércio, quase sempre ligados à faina do rio. Um dos produtos mais comercializados era o Sal cujo topónimo deu nome à Rua (antiga Capelo e Ivens). Sabe-se que existiram dois importantes depósitos de sal, um no edifício da Família Pereira e outro no edifício da Família Condeço, edifício que foi agora destruído face à eminência de ruína.  

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