A localização dos portos fluviais foi decisiva para
o desenvolvimento das comunidades ribeirinhas taganas. Os portos do Tejo
compreendidos entre Rossio ao Sul do Tejo e Azambuja são separados entre si por
distâncias mais ou menos iguais, nomeadamente os de Constância, Tancos, Barquinha,
Chamusca, Santarém e Valada-Salvaterra de Magos. Cada um destes portos deveu a
sua localização às áreas geográficas que serviu. Não surgiram ao acaso mas
antes pela complementaridade com a rede de acessos viários a cada uma dessas
mesmas áreas.
Não há por isso aleatoriedade mas rigor funcional
na definição dos factores de localização de cada um destes portos, quer porque
aí existiu anteriormente um vau, um acesso fácil ao leito, a confluência de
dois rios (como por exemplo o Tejo e o Zêzere), ou uma boa
profundidade das
águas num determinado ponto (como por exemplo em Valada e Salvaterra de Magos).
A localização do porto de Vila Nova da Barquinha,
tal como o de Tancos, foi junto ao leito maior do rio, e cresceu ao longo do
Tejo. O porto da Barquinha foi posteriormente vítima de um acentuado
assoreamento, o que obrigou à construção de embarcadouros que ligavam
perpendicularmente a Barquinha ao rio, sendo disso exemplo o porto da Barca –
referido pelo mestre José Marques -, o porto do Dr. Pombeiro e o porto situado
junto à Rua da Barca, muito perto da casa do calafate que aqui homenageamos, e que
ele tantas vezes referiu nas entrevistas que nos concedeu.
A forma como a urbanização evoluiu nestes portos
assemelha-se bastante... Na verdade, a evolução urbana em cada um destes
aglomerados seguiu o mesmo processo, dando origem a um cais, a ruas que seguem
o seu percurso paralelas ao rio, a largos que constituem nós de ligação destas
vias, e a travessas que unem essas ruas, constituindo um reticulado – se assim
se pode considerar – que obedeceu a uma lógica de racionalidade na organização
do espaço urbano e na articulação deste com o espaço do porto fluvial.
Como corolário refira-se o legado toponímico que
evoca a relação íntima da Barquinha com o seu rio e com as actividades a ele
ligadas: Rua da Barca – onde, nas palavras de mestre José Marques, tudo começou
-, Rua do Tejo, Rua do Sal, Rua Miratejo…
O Último Calafate da Barquinha – Memórias do Mestre José Marques, João Monteiro
Serrano, 2016
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