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ATALAIA, Vila Nova da Barquinha, Portugal
Vivendo nesta terra há 30 anos vou perguntar à história e à tradição qual a origem desta localidade. Desejo saber quem neste atractivo sítio erigiu a primeira construção, quais as obras que foram nascendo, a sua idade e as mãos que as edificaram, quais os seus homens ilustres e os seus descendentes, quem construiu as estradas, os caminhos, as pontes e as fontes. Quão agradável será descobrir em cada pedra os nossos antepassados levantando com palavras o sonho do nosso futuro. Atalaia, 18-11-2007.

22.12.18

A Pesca em Payo de Pelle - Praia do Ribatejo


Resultado de imagem para Albrecht Dürer c. 1490-1493
Em 1462 (1) D. Afonso V impõe que os caniços dos canais da pesca dos sáveis no Tejo e no Zêzere fossem construídos de rama ou verga como as mantas da terra, com um palmo de largura e espaçados de dois dedos. Nesses caniços não se podia colocar esteiras ou outro objeto de forma a não matar as “savatelhas” (sabogas ou pequenos sáveis), que nadavam para o mar onde se criavam, e ter-se-iam de deitar vivas ao rio se ficassem presas nos caniços. Em Carta régia, D. Afonso, sustentou que acontecia que os sáveis que fugiam das “avargas e savaares e nassas” avançavam rio Tejo acima, onde desovavam, e que por agosto e setembro as “savatelhas” que se geravam seguiam pelos rios até ao mar onde se iam criar. Refere ainda que os que tinham canais faziam caniços de verga fechados e muito juntos e lançavam-lhes esteiras e redes miúdas dobradas, fazendo com que o pequeno peixe ao entrar nelas morresse provocando um desequilíbrio para o crescimento da espécie. Estes pequenos peixes eram vendidos como se fossem sardinhas, levando à diminuição de sáveis, ano após ano.Sabemos que D. Afonso V, em 1474, persistiu nesta questão e proibiu outras formas de apanhar os sáveis, impedindo os pescadores do rio Tejo de empregarem “bogueiros” (2) e “lavadas” (classe de redes) e que utilizassem “copéis” (3) nas redes, onde a semente do sável poderia morrer, pois estes eram feitos de redes de malha extremamente miúda impedindo a fuga de peixes muito pequenos e acabando por desequilibrar o ecossistema piscícola (4).
Apesar destas limitação, atuais cotas europeias de pescado, a maioria da população de Paio de Pelle, atual Praia do Ribatejo, desde tempos de antanho, dedicou-se à pesca:
“ Quase todos já de antiquíssimos tempos se tem empregado no serviço da pesca do que tiram muito maiores vantagens, do que na cultura de terras …” uma vez que os terrenos circundantes, pelo relevo e declive acentuado das propriedades rústicas (essencialmente no Zêzere) eram “bastantemente áridas e estéreis, e em que somente muitos braços, muitos gados, e muitos estrumes poderão concorrer para que elas dêem algum interesse ao lavrador”. O locais de pesca dos nossos antepassados, tal como na atualidade “ … é às vezes no rio Zêzere, e muito principalmente no Tejo … no pego de Almourol” Parte da população de Paio de Pelle emigrava para jusante do rio “onde chega a maré”. A sua atividade era exercida entre Vila Franca de Xira e Salvaterra de Magos e “pescam sáveis desde o Natal até ao Santo António, e mugens desde este tempo até ao S. Martinho. A imensa quantidade de varinas, e de chinchas (pequenas redes de arrastar), e de outras redes desta ordem, chamadas de arrastar, que desde o Alqueidão até a Barquinha se empregam na pesca dos sáveis no seu tempo competente faziam parte do cenário de antanho.   

Fontes:
Folha Informativa n.º 3, 2013, do Instituto Politécnico de Santarém
Memorias da Academia Real das Sciencias de Lisboa, Tomo VIII, 1823
Imagens de Albrecht Dürer c. 1490-1493 e da DGPC, 1862

1 História Florestal, Aquícola e Cinegética, vol. II (1439-1481), doc. 417 de 12 de Junho de 1462.
2. Sacos para apanhar bogas e outros peixes mais pequenos.
3. Sacos de rede miúda que se punham nas redes de arrastar.
4. História Florestal, Aquícola e Cinegética, vol. II (1439-1481)

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