Em 1462 (1) D. Afonso V impõe que os caniços dos canais da pesca dos sáveis no Tejo e no Zêzere fossem construídos de rama ou verga como as mantas da terra, com um palmo de largura e espaçados de dois dedos. Nesses caniços não se podia colocar esteiras ou outro objeto de forma a não matar as “savatelhas” (sabogas ou pequenos sáveis), que nadavam para o mar onde se criavam, e ter-se-iam de deitar vivas ao rio se ficassem presas nos caniços. Em Carta régia, D. Afonso, sustentou que acontecia que os sáveis que fugiam das “avargas e savaares e nassas” avançavam rio Tejo acima, onde desovavam, e que por agosto e setembro as “savatelhas” que se geravam seguiam pelos rios até ao mar onde se iam criar. Refere ainda que os que tinham canais faziam caniços de verga fechados e muito juntos e lançavam-lhes esteiras e redes miúdas dobradas, fazendo com que o pequeno peixe ao entrar nelas morresse provocando um desequilíbrio para o crescimento da espécie. Estes pequenos peixes eram vendidos como se fossem sardinhas, levando à diminuição de sáveis, ano após ano.Sabemos que D. Afonso V, em 1474, persistiu nesta questão e proibiu outras formas de apanhar os sáveis, impedindo os pescadores do rio Tejo de empregarem “bogueiros” (2) e “lavadas” (classe de redes) e que utilizassem “copéis” (3) nas redes, onde a semente do sável poderia morrer, pois estes eram feitos de redes de malha extremamente miúda impedindo a fuga de peixes muito pequenos e acabando por desequilibrar o ecossistema piscícola (4).
Apesar destas limitação, atuais cotas
europeias de pescado, a maioria da população de Paio de Pelle, atual Praia do
Ribatejo, desde tempos de antanho, dedicou-se à pesca:
“ Quase todos já de antiquíssimos tempos
se tem empregado no serviço da pesca do que tiram muito maiores vantagens, do
que na cultura de terras …” uma vez que os terrenos circundantes, pelo relevo e
declive acentuado das propriedades rústicas (essencialmente no Zêzere) eram
“bastantemente áridas e estéreis, e em que somente muitos braços, muitos gados,
e muitos estrumes poderão concorrer para que elas dêem algum interesse ao
lavrador”. O locais de pesca dos nossos antepassados, tal como na atualidade “ …
é às vezes no rio Zêzere, e muito principalmente no Tejo … no pego de Almourol”
Parte da população de Paio de Pelle emigrava para jusante do rio “onde chega a
maré”. A sua atividade era exercida entre Vila Franca de Xira e Salvaterra de
Magos e “pescam sáveis desde o Natal até ao Santo António, e mugens desde este
tempo até ao S. Martinho. A imensa quantidade de varinas, e de chinchas
(pequenas redes de arrastar), e de outras redes desta ordem, chamadas de
arrastar, que desde o Alqueidão até a Barquinha se empregam na pesca dos sáveis
no seu tempo competente faziam parte do cenário de antanho.
Fontes:
Folha
Informativa n.º 3, 2013, do Instituto Politécnico de Santarém
Memorias
da Academia Real das Sciencias de Lisboa, Tomo VIII, 1823
Imagens de Albrecht Dürer c. 1490-1493 e da DGPC, 1862
1
História Florestal, Aquícola e Cinegética, vol. II (1439-1481), doc. 417 de 12
de Junho de 1462.
2. Sacos para apanhar bogas e
outros peixes mais pequenos.
3. Sacos de rede miúda que se
punham nas redes de arrastar.
4. História
Florestal, Aquícola e Cinegética, vol. II (1439-1481)
Sem comentários:
Enviar um comentário