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ATALAIA, Vila Nova da Barquinha, Portugal
Vivendo nesta terra há 30 anos vou perguntar à história e à tradição qual a origem desta localidade. Desejo saber quem neste atractivo sítio erigiu a primeira construção, quais as obras que foram nascendo, a sua idade e as mãos que as edificaram, quais os seus homens ilustres e os seus descendentes, quem construiu as estradas, os caminhos, as pontes e as fontes. Quão agradável será descobrir em cada pedra os nossos antepassados levantando com palavras o sonho do nosso futuro. Atalaia, 18-11-2007.

1.4.10

A lenda de Almourol e Cardiga


No Séc. XV fervilhava em todo o reino o gosto pelas descobertas e pelo desconhecido. Em 23 de Abril de 1415, o espião castelhano Ruy Dias de Vega fazia um relatório ao rei D. Fernando I de Aragão dando-lhe a notícia dos preparativos da Armada que então se constituía em Portugal e nas margens do nosso rio Zêzere (Sesar): “EI Prior et los maestres mandan fazer senhas galeotas de sesenta rremos cada una, saluo el maestre de Santyago. Et fazenlas en el rryo de Sesar [Zêzere] que es cerça de Punete, et entra en Tajo aquel rrio a syete leguas de Santareno Et ellos estan todos en sus tierras, adereçando pela la partyda, que an todos de partyr con el rrey.»
É facto que os navios e os preparativos para as descobertas, como vimos atrás, fizeram-se nas margens do Zêzere e no concelho de Vila Nova da Barquinha. Nesses tempos as lendas ornadas pela fantasia oriental tinham arrepiantes seres mostrengos do fundo do mar, nas palavras de Fernando Pessoa " tectos negros do fim do mundo" e nos cabos Bojador e da Boa Esperança belzebus vagueavam no imaginário e até apareciam tentadoras princesas mouramas enfeitiçadas cobertas de oiro, grutas com o mesmo metal e pedras preciosos que pululavam na vox populi de antanho numa mística nunca antes atingida. Foi neste ambiente de lendas, de mistério, de encanto e busca do desconhecido que os homens do nosso concelho partiram para as descobertas.
Nesta Vila de Atalaia reza uma lenda, ainda hoje presente, que o túnel, com um tecto em abóbada, que existe entre a Capela do Senhor Jesus da Ajuda e o Depósito de água, é um túnel construído pelos Mouros e que o mesmo vai até ao Castelo de Almourol.
Mas não é desta lenda que quero falar mas na lenda de Almourol e Cardiga. Quiçá imaginário do povo ou fundo de verdade...
Estes dois nomes são bem conhecidos por todos nós e serviram de prefácio histórico ao descobrimento da Ilha de Santa Maria e de S.Miguel, nos Açores. Vamos, então, à lenda:
“ Sussurrava-se em Sagres que, há séculos quando os moiros foram senhores da península, era alcaide de um Castelo roqueiro, erguido a meio do Tejo, o sarraceno Almourol, que ali vivia com a sua mulher Cardiga e a filha Miraguarda, de olhos sonhadores e negros e de tanta beleza, que era capaz de cativar a alma de um cristão.E assim sucedeu.
Nas pelejas entre moiros e cristãos nas vizinhanças do Castelo, intrépido e romântico cavaleiro cristão, das hostes de Afonso Henriques, divisou nas ameias da fortaleza o moreno e encantador rosto da adepta do Islão de nome Miraguarda, filha de Almourol e Cardiga. E tão enfeitiçado ficou de suas raras graças e belezas, que se esqueceu que profanava a religião professada, ousando olhar cobiçosamente para a filha dos infiéis.
Mas o amor não consentiu estorvo , chegado à fala com Miraguarda cosido com as cortinas das barbacãs, planearam a fuga. E o amoroso cavaleiro raptou a moira encantada, levando-a para longes terras, cingida a si, em fogoso corcel. No momento da fuga, as hostes cristãs aproveitaram o ensejo para penetrar no Castelo, tomando-o aos Sarracenos.
Foi então que Almourol e Cardiga, não podendo suportar a afronta da dupla traição e o degradante cativeiro que lhes imporiam os assaltantes inimigos, decidiram subir à torre de menagem e precipitaram-se no Tejo. E assim puseram termo à cruciante dor que lhes avassalara as almas.
Os cadáveres dos 2 sarracenos, sobre nadando as águas do rio, foram Tejo abaixo impelidos pela corrente e internaram-se no oceano, perdendo-se entre as brumas e neblinas do além mar, onde, petrificadas, se transformaram, diz a lenda, em 2 ilhas de maravilha.
Quando os Portugueses, séculos depois, descobriram a ilha de Sta Maria, e 12 anos após a de S. Miguel, o povo tomou como verídica a lenda de antanho, dizendo que Sta Maria era o corpo da Cardiga e S. Miguel o do Almourol, transformados nas 2 ilhas encantadas.”
Curioso é que o descobridor dos Açores foi frei Gonçalo Velho Cabral, senhor de Pias, de Beselga e de Cardiga, comendador do Castelo de Almourol que em 1432 foi designado 1.º capitão donatário de Sta Maria, e em 1444 1.º capitão donatário de S. Miguel.
Certo é que a audácia e o rasgo das expedições portuguesas abriram uma nova visão do mundo e do mar, até aí alicerçada em mitos e lendas, que a pouco e pouco se foram desvanecendo.

Bibliografia: S. Miguel, a Ilha Verde, Guia de Portugal artístico, XIV Volume, Lisboa, 1952

2 comentários:

O Cidadão abt disse...

Olá!
Desconhecia...

Um tipo está sempre a aprender...

A única Lenda da Cardiga que cá o Cidadão abt ouvira contar era a do burro!

Lol!

Anónimo disse...

Divulguem o grupo da Quinta da Cardiga!

https://www.facebook.com/groups/440189559461934/?fref=ts