No século XI, na área actual do concelho de Vila Nova da Barquinha, após um primeiro momento de carácter defensivo, surge por parte dos monarcas a determinação de conquista de solo e, obviamente, a (re) construção de torres de vigia e fortificações.
Esta novel política ofensiva e estratégica advém da desagregação gradual do Califado.
Igualmente, é decidida uma forte investida contra os muçulmanos, com especial empenho após a conquista de Lisboa em 1147.
Em 1169, D. Afonso I confirma à Ordem do Templo a doação que lhe fizera, em 1159, do Castelo de Tomar e seus termos e da Igreja de Santiago de Santarém, doando-lhe também os castelos do Ozêzere, da Cardiga e territórios adjacentes. Esta doação, no período da segunda reconquista peninsular, data em que sucedem conquistas significativas aos infiéis, é consequência de forte acção bélica e novas políticas de todos os reinos cristãos da Península Ibérica.
A luta faz-se contra a incursão e expansão muçulmana na Península e em contra ataque, através das cruzadas no Oriente, em sucessivos avanços e recuos, atingindo o seu auge nas fronteiras junto do rio Tejo.
Neste tempo, todas as classes sociais associam-se à luta e daí retiram os seus imensos privilégios. Não podemos descurar que a ocupação do território e a (re) construção de castelos passava, também, pelo repovoamento do território conquistado.
A Ordem do Templo e os seus cavaleiros tinham nas terras que hoje habitamos um papel determinante. Construíram a sua primeira sede em Ceras, no ano de 1159, e posteriormente em Tomar, no ano de 1160. Neste período, assistiu-se à construção e reconstrução de fortalezas em grande escala. Por exemplo, em 1170, Gualdim Pais, reedifica o Castelo de Almourol “ …nas proximidades o Castelo de Ozêzere na foz do Zêzere, seguindo-se a fundação dos lugares de Golegã e Casével. A acção dos cavaleiros do Templo passou a exercer-se ao longo da área do rio Zêzere defendendo parte do Tejo, Tomar, Santarém, e Lisboa. Assim, os acessos a Coimbra e Santarém passaram a ser defendidos pelas linhas dos castelos de Tomar e Torres Novas, e de Almourol, Ozêzere e Cardiga, ligados por algumas torres de vigia como o da Atalaia na margem direita do Zêzere, e pelos castelos de Torre (Punhete, actual Constância/1158), Pias (1160), Dornes (1160), Ferreira (1160), Castro Carretão (1160).” (1).
O Castelo de Ozêzere fora doado à Ordem do templo para reconstrução em 1151, seguindo-se Torre (Constância) em 1158. Doação que tinha em vista a defesa dos vales do Zêzere e Nabão essencialmente devido à sua riqueza agrícola. Gualdim Pais reconstruiu os castelos de Ozêzere, na Praia do Ribatejo, e na Cardiga (2). Na Bula de Adriano IV (Papa de 1154 a 1159) consta que os templários fundaram os Castelos de Pombal, Tomar, Ozêzere e Almourol.
Da pesquisa efectuada e do que me foi dado a conhecer, existem escritores que defendem que o local de Ozêzere é um morro junto ao rio Zêzere, onde hoje se situa a actual vila de Constância, como o faz, por exemplo, José Manuel Capelo que, contudo, refere: “… existem estudiosos que afirmam – e possivelmente com toda a razão!... – que Ozêzere era Paio de Pele (o seu castelo e casas) num morro próximo onde hoje se ergue a Vila de Praia do Ribatejo” (3).
Compulsando a obra do Professor João José Alves Dias (4) verificamos que defende a localização do castelo na Praia do Ribatejo, Vila Nova da Barquinha, com uma argumentação substancial - os termos das doações - ou a identificação de demarcação física do território à data de 1169.
Onde, afinal, se poderia ter localizado o castelo?
Certamente, num morro onde se situa o actual cemitério da Praia do Ribatejo, tese que é também defendida pelo Centro de Interpretação de Arqueologia do Alto Ribatejo.
(1) Furtado, Teresa Pinto, “O Castelo de Almourol monumento e imaginário” (texto policopiado): 1996.
(2) Costa, Frei Bernardo, pp. 115 a 219, Doação do primeiro foral à povoação de Ozêzere em 1174. Idem, pp. 196 a 199, doação da Cardiga à Ordem, em Outubro de 1169.
(3) Capelo, José Manuel, Codex Templari, Os Mistérios Templários à Luz da História e da Tradição, 2007.
(4) Dias, João José Alves, Paio de Pele: a vila e a região do século XII ao XVI, Assembleia Municipal de Santarém, 1989.
Fotografia de Serrano Rosa
2 comentários:
Excelente espaço sobre a história da Atalaia e das suas gentes!
Bom trabalho de pesquisa e todo nós ficamos mais enriquecidos culturalmente.
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