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ATALAIA, Vila Nova da Barquinha, Portugal
Vivendo nesta terra há 30 anos vou perguntar à história e à tradição qual a origem desta localidade. Desejo saber quem neste atractivo sítio erigiu a primeira construção, quais as obras que foram nascendo, a sua idade e as mãos que as edificaram, quais os seus homens ilustres e os seus descendentes, quem construiu as estradas, os caminhos, as pontes e as fontes. Quão agradável será descobrir em cada pedra os nossos antepassados levantando com palavras o sonho do nosso futuro. Atalaia, 18-11-2007.

21.4.12

ATALAIA e MOITA (1930-1940)

Mão amiga fez-me chegar o n.º 1 do Boletim da Junta de Província do Ribatejo. Do mesmo retirei o texto abaixo que dou a conhecer ao público em geral e, em especial, aos moitenses e atalaienses.
Eis mais factos para as memórias destas duas localidades, Atalaia e Moita do Norte.


A freguesia de Atalaia, que tem a sua sede na vila do mesmo nome, tem por orago Nossa Senhora da Assunção. No ano de 1600 a sede da freguesia já tinha a categoria de vila. A freguesia é de 2.ª ordem, supondo-se que a sua criação remonta ao século XI.
População - 1.068 habitantes, sendo 532 varões e 536 fêmeas. O número de famílias é de 445.
Correios, telégrafos e telefones - Tem caixa posta rural na sede da freguesia, o mesmo se dando em Moita do Norte. Não há telégrafo nem telefone.
Localização - A vila de Atalaia está situada num monte. Dai lhe provém o nome porque deriva do árabe: Ata-laã, isto é, monte donde se pode vigiar (Atalaiar).
Lugares e lugarejos - Lugar: Moita, a 1.900 metros.
O maior aglomerado de habitações existe na sede da freguesia.
Feiras - No dia 20 de Janeiro tem lugar, na sede da freguesia, a chamada Feira da Atalaia. vulgarmente conhecida pela Feira dos Porcos por nela só se transaccionar gado suíno. Os velhos almanaques (os de 1700 e 1702, por exemplo). já mencionavam a Feira da Atalaya.
Mercados - Não se realizam.
Festas tradicionais - Em Atalaia há uma festa anual ao Senhor Jesus da Ajuda, comemoração imemorial. Esta imagem era, em tempos idos, muito venerada pelos habitantes. O tempo diluiu esse culto. As festas são organizadas por uma comissão de festeiros nomeada no terceiro dia da festa. Constam de arraial, reminiscência dos tempos primeiros, talvez da Igreja antiga, onde o culto tinha sempre uma parte profana de folguedos populares, de fogo de artificio, de jogos e cavalhadas. Influência árabe não era certamente, nem a aconselharia; temos de aceitar a influência romana que dominou na Península, culto a Ceres (festas religiosas e profanas), a Diana, etc. Estas festas, que duram três dias, realizam-se em Agosto, em dias variáveis.
Há outra festa tradicional no lugar da Moita, a Senhora dos Remédios, em dia variável, festa religiosa com folganças populares (bazares, jogos, chá, etc.).
Vias de comunicação - Não é sede de estação de caminho-de-ferro. As estações que lhe ficam mais próximas são as de Entroncamento, a 3 quilómetros, e a de Barquinha, a 2,5 quilómetros, e para as quais não há carreiras de camionete.
Distância às povoações mais próximas - A Tomar, 16,500 quilómetros; à Barquinha, sede do concelho, 2,5 quilómetros; à Golegã, 9 quilómetros; a Moita do Norte, 1.900 quilómetros; a Torres Novas, 9 quilómetros, e ao Entroncamento, 3 quilómetros. Na área da freguesia passa uma estrada nacional. a n.º 60, que se destina a Tomar. Portos fluviais, não tem. O Tejo fica à distância de 3 quilómetros e meio, tomando a direcção da Barquinha. Não tem automóveis de aluguer.
Produção - A sua principal produção agrícola é o azeite. Como produção industrial há algumas oficinas de olaria; a manipulação dos artefactos é ainda produzida pelos meios rudimentares, ancestrais mesmo; a única roda de pé sobre a qual assentam o barro amassado. Estas olarias existem desde tempos longínquos, exportando para as feiras e mercados de Tomar, Barquinha, Constância, Golegã, Torres Novas, etc. Há na freguesia duas azenhas (tipo primitivo) e 9 lagares de azeite, 2 na Moita e 7 na Atalaia. Possui também oficinas de pirotecnia que muito se têm desenvolvido. A produção que mais se tem desenvolvido e que predomina é a da oliveira. Não tem muitos terrenos incultos. A agricultura é feita por processos primitivos (o arado e a cava manual). Não existem baldios.
Comércio - A principal natureza do seu comércio é a olaria. Predominam os estabelecimentos mistos. As localidades com que mantém mais relações comerciais são Tomar; (olaria) e Barquinha (comércio em geral). Não tem farmácia.
Instrução - Em Atalaia há escolas para os dois sexos. Em Moita do Norte há uma escola mista com horário alternado. A freguesia de Atalaia é a que contém número menor de analfabetos entre as freguesias do concelho; se extrairmos as pessoas maiores de 55 anos, cuja educação primária foi descurada, nota-se que o número de analfabetos é sensivelmente inferior ao das outras freguesias do concelho.
Associações e instituições - Na Moita do Norte há uma Casa do Povo, criada em 28 de Março de 1934, que tem um grupo musical e uma instituição de assistência e previdência que lhe está anexa e cuja acção se tem feito sentir benéfica e valiosamente. Em Atalaia há um grupo musical e uma sociedade de recreio, na qual se têm realizado récitas, que vive de recursos próprios, isto é, de cotas mensais e do produto das diversões que organiza.
Monumentos - A belíssima igreja quinhentista de Atalaia (monumento nacional por decreto n.º1\1.453, de 19 de Fevereiro de 1926, é de três naves. No lado do Evangelho está o túmulo de D. José Manuel, 9.° filho de D. Luiz Manuel de Távora, 4.° Conde de Atalaia, com um epitáfio em latim de que a seguir se dá a tradução: D. José. Manoel I, Cardeal Presbítero da Santa Igreja Romana, Patriarca da Santa Igreja de Lisboa. Regeu o Patriarcado durante 4 anos, 1 mês e 19 dias. Viveu 72 anos, 6 meses e 14 dias. Faleceu no ano do Senhor 1758, no dia 9 do mês de Julho. Descanse em paz.» Este senhor faleceu na Atalaia e foi o 2.° Patriarca de Lisboa. Fora eleito em 1754 e feito cardeal em 1747. Na coluna do arco do cruzeiro da capela mor está a data 1528. O púlpito tem a data de 1674.
Factos notáveis - A freguesia de Atalaia foi uma das maiores vítimas das invasões francesa. Em 1810 e 1811, épocas dolorosas e amargas, foram assassinadas mais de 400 pessoas, segundo se verifica nos assentos paroquiais. Os soldados franceses cometeram imensos assassinatos na vila de Atalaia e no lugar da Moita. Todavia as guerrilhas não ficaram inactivas. Muitos soldados inimigos jazem nas charnecas e olivais assassinados por todas as formas. Tão importantes foram esses recontros que mereceram a investigação do Coronel de Engenharia Garcez Teixeira e do antigo Secretário da Administração do Concelho da Barquinha, Júlio de Sousa Costa, que publicaram nos Serões de Tancos.
“A.B.C” de Rocha Martins e na imprensa, crónicas interessantes sobre o assunto. A invasão francesa deu mais de 200 crónicas históricas ao segundo daqueles senhores. Os Serões de Tancos são um repositório dos grandes acontecimentos de então, sem auxl1io algum particular ou oficial.
As lutas do Constitucionalismo tiveram também a sua repercussão e foram publicadas crónicas sobre essas épocas em vários jornais do distrito. Tão importante é esse manancial que já estão completos três volumes, que ainda não viram a luz por falta de auxílio. É seu autor autor Júlio de Sousa Costa e parece que ainda se colherão apontamentos para mais um volume documentado. Pela Atalaia, na tarde de 16 de Maio de 1834, passaram fugidos da Asseiceira, onde se havia travado a batalha entre miguelistas e liberais, soldados derrotados nesse prélio. Vinham esfomeados, cansados e temendo as represálias. A alguns deram os habitantes de comer e beber mas tanto medo traziam que recebiam as vitualhas e iam comendo e sempre a fugir.
Também a freguesia não ficou insensível aos movimentos políticos do tempo de D. Maria II (1846·1848). Daí para o futuro não mais se interessou nas lutas partidárias. Só em 1908 e 1909 é que acompanhou o movimento republicano com muito entusiasmo.
Livros que se referem à freguesia - Ribatejo Histórico e Monumental de F. Câncio, e crónicas dispersas em jornais, artigos nos jornais da Chamusca, Entroncamento e outros.
Águas - Na Atalaia o abastecimento de águas é feito por uma fonte pública e um poço. Na Moita, por um chafariz a 800 metros. Está-se construindo um depósito de cimento armado para um poço, além de poços para a colheita da água para usos e lavagens.
Não tem qualquer água com propriedades medicinais. Na freguesia não há rede de esgotos nem é obrigatória a construção de fossas.
Luz eléctrica - Na Moita do Norte há iluminação eléctrica, ao preço de 2$00 o Kilowate, fornecida pela Câmara Municipal da Barquinha e produzida pela Empresa Hidro-Eléctrica do Alto Alentejo. Na sede da freguesia a iluminação pública é a petróleo.
Condições geológicas - Terras: barrentas (80% a 85%) donde se extrai o barro para a indústria que é a única na terra: a olaria.
Rios e ribeiros - Cursos de águas dignos de figurarem nos mapas não há. Apenas ribeiros que secam no verão e que nem figuram nos mapas do Estado-maior.
Igrejas e capelas - Atalaia - A igreja matriz merece ser visitada. Possui belíssimos azulejos, século XVII.
Moita - A capela da Senhora dos Remédios, sem arquitectura. Reedificada, talvez, nos princfpios do século XVIII; sem ornamentação e estilo. Nesta capela deu-se, segundo a tradição oral dos velhos Barbosas e Farinhas um desacato que indignou a população da Moita. Soldados franceses, acenderam as velas dos altares e deram lá um baile. O que se passou depois com as pobres raparigas da Moita, que os franceses foram buscar à força às suas casas, é tudo quanto há de mais indigno. Há uma crónica, baseada em informações, que descreve esse estúpido divertimento que teve um desenlace trágico e comovente. Trágico porque revelou uma triste fotografia do carácter humano; comovente porque foi revestido da mais cruciante e dolorosa amargura. As guerrilhas do célebre Madrugo, porém, vigiavam os franceses e a desforra parece que foi cruel e sanguinolenta. Era a guerra.
Cruzeiros e Alminhas - Havia um cruzeiro na Atalaia que o camartelo destruiu há muitos anos, talvez há mais de sessenta. Parece que constava duma cruz assente num pedestal com três degraus e erecto a pouca distância da Capela de S. Sebastião, destruída ou demolida há poucos anos, e situada na parte sul da vila (lado do Entronca­mento). Não há os conhecidos painéis ou azulejados comemorativos das Alminhas. Hoje há dois cruzeiros, um no cemitério da Atalaia e, outro, em frente da porta da Capela do Senhor Jesus da Ajuda.
Pontos de vista - Horizontes um pouco limitados, a não ser na região oeste. Vastos terrenos de olivedo com a sua folha de tonalidade escura. Ao longe, na direcção sul, a fita do Tejo. Bons ares, mercê da esplêndida situação. Norte dominante. Sitio saudável.
Lendas - Não há lendas algumas. O que é ponto averiguado é que existe ainda a tradição moirisca. Lenda? Não, apenas a tradição que se repete através dos séculos. O nome da terra, como já vimos, é, e bem vincadamente, moirisco. Da Atalaia, em 1147, foram os mouros expulsos por D. Afonso Henriques. Todos nós sabemos que a dominação dos mouros não foi de anos, mas de séculos, principalmente na parte média do Portugal dos nossos dias. Hábitos, propensões, modos de agir são caracteristicamente mouriscos. O cruzamento das raças ficou bem marcado através dos séculos. E pessoa alguma foge à ancestralidade.
Homens notáveis - Residiu na vila de Atalaia durante algum tempo o escritor Francisco Gomes de Amorim e no século XVIII a família Manoel (Atalaia) durante o verão segundo a tradição oral.
Propriedades rústicas dignas de menção - A Quinta da Ponte da Pedra. Casa senhorial dos Morgados do Juncal (Falcão Trigoso). onde sucederam grandes factos por ocasião da Guerra Peninsular.
Folclore - Nada de típico em trajos e costumes. Versos mais típicos cantados pelas classes populares:
“  Oh! meu lindo papagaio, empresta-me o teu vestido! - O meu vestido é de penas!
- Penas trago eu comigo ...”
Danças preferidas pelas classes populares - Danças típicas da região não há e crê-se bem que nunca as houve. Dança-se aqui o que é importado.
Casas brazonadas - A Casa da Ponte da Pedra (Falcão Trigoso).
Pelourinho - Havia um na Atalaia que em 1830 foi destruído pelo chamado camartelo civilizador ...
Conventos, estátuas, fontes artísticas, padrões e obeliscos. Não há .
A freguesia nunca teve outra denominação e possuiu brasão.
Não existem presentemente quaisquer elementos militares. De 1840 a 1846 houve milícias e um capitão-mor de apelido Barbosa, homem decidido, cartista esturrado, valente e desempoeirado de ideias. Parece que era natural da vila de Atalaia ..
Legião Portuguesa. - Há filiados que recebem instrução no Entroncamento
Mocidade Portuguesa. Não há.

Bibliografia: Boletim da Junta de Província do Ribatejo / dir. ed. Abel da Silva. - Santarém : J. R R., 1940.

1 comentário:

afigaro disse...

É bom deixar as marcas dos antepassados. Eu sendo da Asseiceira conheci muitos dos oleiros da Atalaia.