Mão amiga fez-me chegar o n.º 1 do Boletim da Junta de Província do Ribatejo. Do mesmo retirei o texto abaixo que dou a conhecer.
"A freguesia de Praia do Ribatejo tem
por orago Nossa Senhora da Conceição.
A freguesia, que é de 2.ª ordem, era denominada de Paio de Pelle no tempo de D. Afonso Henriques, e Praia
do Ribatejo em 1927, por decreto n.º 14.269.
População
- 2.697 habitantes, sendo 1.515 varões e 1.182 fêmeas. O número de famílias é
de 539.
Correios,
telégrafos e telefones - Tem estação telégrafo-postal de 3.º classe, com
horário de serviço completo (das 8 às 20 nos dias úteis, e das l0 às 12 horas,
aos domingos e dias de feriado). Desempenha serviços de valores declarados,
encomendas postais, cobranças, vales, registos e Caixa Económica. A estação
telefónica tem horário de serviço completo (das 8 às 21 nos dias úteis, e das
10 às 12 horas, aos domingos e dias de feriado). Idêntico horário tem a rede
telefónica urbana. Há distribuição domiciliária.
Localização
- Está situada numa encosta, à beira do rio Tejo, na sua margem direita.
Lugares
e lugarejos - Praia do Ribatejo, Polígono, Paio de Pele, Madeiras, Fonte
Santa, Vale de Poços, Casais dos Pintainhos, Portela, Laranjeira, Figueiras,
Casalinho, Caneiro, Limeiras, Outeiros, Matos, Vale de Martinchel, Cafuz,
Fontinha, Casal do Jacinto.
O maior aglomerado de habitações
existe na sede da freguesia, havendo porém muitas habitações dispersas pela
área da freguesia.
Feiras
e mercados - Não se realizam na freguesia.
Festas
tradicionais - No dia 8 de Dezembro de cada ano realizam-se na sede da
freguesia, as festas a Nossa Senhora da Conceição.
Vias
de comunicação - Tem duas estações de caminho-de-ferro: Praia do Ribatejo e
Almourol, e ainda o apeadeiro de Tancos. Também lhe ficam próximas as estações
da Barquinha e do Tramagal. A estação de Praia do Ribatejo fica situada na sede
da freguesia. Há uma carreira de camionetes para Rio de Moinhos.
Distância às povoações mais próximas
– Barquinha; 9 Kms, por estrada nacional; Constância, 2 Kms.; Tomar e Abrantes,
17 Kms.; Golegã sede da comarca, 16 Kms, por estrada nacional.
Na área da freguesia passam a
estrada nacional 14.1.ª e o ramal de Santa Cita à estação de Praia do
Ribatejo.
Portos
fluviais - Pai-Avô, ao canto da Praia.
Carreiras
de camionete - Da estação da Praia do Ribatejo para a povoação de Rio de
Moinhos; de Abrantes a Tomar e Nazaré; a primeira serve a sede da freguesia, e
a segunda, além da sede da freguesia, Madeiras, Polígono, Casal dos Pintainhos
e Portela. - Não há automóveis de aluguer.
Produção
- Por ordem decrescente as suas principais produções são de natureza
industrial, agrícola e pecuária.
É centro industrial. As suas
indústrias mais importantes são serração de madeiras e fabrico de azeite. Há
também na freguesia duas moagens, duas azenhas, três fornos de fazer tijolo,
três destilações e doze lagares de azeite. A produção que mais se tem
desenvolvido é a do azeite. Há poucos terrenos incultos. A agricultura é feita
por processos antigos e pouco aperfeiçoados. As culturas que predominam são as
da oliveira e do pinheiro. Não existem baldios.
Comércio
– Madeiras, peixe, azeitona em conserva e para azeite, e comércio local de
víveres são os principais produtos do seu comércio. Mercearias e tabernas são
os estabelecimentos comerciais que predominam. Não tem farmácia.
Instrução - Em Praia do Ribatejo,
escolas para o sexo masculino e para o sexo feminino; no Polígono, escola
mista; em Madeiras, escola mista; em Portela da Laranjeira, posto de ensino,
misto; e em Limeiras, escola mista .
Associações
e instituições - Estão em organização o grupo musical .Jazz Melodia
Praiense, e o Grémio Recreativo Praiense.
Monumentos
- Castelo do Almourol e o Castelo de Santa Maria do Zêzere de que só restam
vestígios. O Castelo de Almourol foi reedificado por D. Gualdim Pais, em 1160 .
No século XII foi senhor de Almourol um emir árabe chamado Al-morolan. O
primeiro nome deste Castelo foi Muriela. D. Gualdim Pais deu foral aos
povoadores deste Castelo em 1170. Houve perto deste Castelo um mosteiro de
frades Capuchos da invocação de Nossa Senhora do Loreto. Fundado por D. Alvaro
Coutinho, senhor do termo do Almourol, e que residia no seu famoso Castelo.
Lançou ele a primeira pedra em 13 de Março de 1572 e em 1575 foi modificado o
mosteiro. Em 1865 foi inaugurada nova Igreja e mosteiro de boa construção,
pois as primeiras eram inferiores. Hoje encontra-se servindo de arrecadação de
objetos militares.
Livros
ou publicações que se relerem à freguesia - Extremadura Portuguesa, de Alberto
Pimentel, Serões de Tancos. etc .
Águas
- A freguesia é abastecida por meio de fontes, duas em Praia do Ribatejo,
uma na Laranjeira, uma nos Matos, uma na Galiana, uma no Seival e uma no
Loreto. Não há rede de esgotos nem é obrigat6ria a construção de fossas .
Luz
elétrica - Tem iluminação pública e particular, ao preço de 2$00 o
kilowate, fornecida pela Câmara Municipal da Barquinha e produzida pela
Hidro-Eléctrica do Alto Alentejo.
Rios
e ribeiros - Rio Tejo. Rio Zêzere, Ribeiros da Fonte Santa, de Valacois e
de Seival e Ribeira de Tancos.
Pontes:
Ponte romana que atravessa o Ribeiro da Fonte Santa; Ponte do Caminho de Ferro
sobre o Rio Tejo. Ponte sobre o Rio Zêzere, inaugurada em 1894.
Igrejas
e capelas - A atual Igreja Paroquial do Ribatejo foi iniciada em 1902. Foi
seu fundador Tomaz da Cruz, então industrial e proprietário na freguesia. A
antiga Igreja Paroquial estava situada num descampado, longe da povoação, e
ameaçava ruína. Tomaz da Cruz propôs-se construir uma igreja na Praia, sede da
freguesia. Doou o terreno para o edifico, concorreu com importante quantia, e
organizou uma comissão para angariar recursos. Esta comissão, que se compunha
de Tomaz da Cruz, presidente, e dos vogais Manuel Vieira da Cruz, António
Nunes, Sebastião Domingos de Oliveira e António Alves Borradas, começou os
trabalhos, e em pouco tempo estava construída a capela-mor e a sacristia. Os
atos do culto passaram a ser celebrados na nova capela. Morreu o fundador.
Ainda depois da sua morte, se construíram as paredes do corpo da igreja. Mas em
1910 veio a República, paralisaram as obras e as autoridades fecharam a capela.
Depois do 28 de Maio, a capela, devido aos esforços do Reverendo Padre António
Martins da Silva, então pároco da Barquinha, e do Sr. Júlio Vieira da Cruz, foi
entregue aos fiéis e aberta ao culto. Mas o templo não estava concluído.
Formou-se então nova comissão. A Casa Manuel Vieira da Cruz & Filhos,
importante firma industrial e agrícola do lugar, ofereceu para a conclusão da
igreja avultado donativo. A nova comissão, presidida pelo sócio da mesma
firma, Sr. Júlio Vieira da Cruz, tendo como vogais António Alves Barradas,
Pedro Nunes, João de Moura e Manuel Antunes, resolveu concluir a Igreja.
Presentemente a obra ainda não está terminada, mas já bastante está feito.
Cobriu-se o corpo da igreja, fez-se e pintou-se o teto, rebocaram-se e
caiaram-se as paredes no interior e no exterior, construiu-se a torre, o
baptistério, o côro e o soalho, e fez-se a instalação elétrica. Faltam dois
altares no corpo da igreja, os quais a comissão, com o auxilio do Estado,
espera ter concluído no corrente ano.
Na povoação das Limeiras, lugar da
freguesia, existe a Capela de S. João Baptista. Foi inaugurada em 1900, para
substituir outra que, por muito diminuta, não comportava mais que uma dúzia de
pessoas. Foi construída pelo povo do lugar, e seus vizinhos (Ramo de Cima). O
Estado auxiliou a construção com o subsidio de cem mil réis, moeda daquele
tempo.
Pontos
de vista - Castelo de Almourol, Casal do Pote e Bôca do Rio Zêzere.
Um
pouco de história - A sede da freguesia foi cabeça de concelho, com Câmara,
juiz ordinário e mais empregados. É muito antiga e D. Manuel lhe deu foral em
Évora em Dezembro de 1519. O seu primeiro foral foi dado por D. Gualdim Pais,
Mestre da Ordem dos Templários, em 1180. Diz-se que o nome lhe vem de D.
Gualdim Pais, porém, pelo foral vem o nome de Paio de Pele. Esta freguesia
também se denominava de Santa Maria do Zêzere e foi comenda da Ordem do Templo
até 1311, e de 1319 até 1834, da Ordem de Cristo. Foi D. Afonso Henriques que
fêz doação desta vila à Ordem pela muita amizade a D. Gualdim Pais. Diz-se que
também tinha castelo, mas não há vestígios; dizem que foi demolido por ocasião
das invasões francesas. Deu foral a este castelo D. Gualdim Pais, em 1174. Foi
alcaide-mor e senhor do Castelo de Paio de Pele ou do Zêzere, D. Francisco de
Mascarenhas, da família dos Condes de Marialva. Por falta de sucessão, os bens
e rendas passaram para a Casa dos Condes de Cantanhede.
Folclore
- Trajos e costumes vulgares.
Casas
brasonadas, pelourinho, estátuas, fontes artísticas, padrões e obeliscos,
não há.
Conventos
- Convento do Loreto, junto ao Castelo de Almourol, Ordem dos Templários.
Atualmente pertence ao Ministério da Guerra (Escola Prática de Engenharia).
Pontos dignos de serem visitados -
Castelo de Almourol e Casal do Pote, com panoramas sobre o vale do Tejo, com
vastos horizontes, e Museu da Escola Prática de Engenharia.
Brazão
- Ignora-se se a vila teve brazão.
Unidades militares - Polígono
Militar de Tancos, Escola Prática de Engenharia.
Batalhão de Ponteneiros, Base Aérea
n.º 3, Hospital Militar e Pôsto Rádio. O Aero Club do Ribatejo tem a sua sede
em Praia do Ribatejo.
Há Legião Portuguesa e Mocidade
Portuguesa, não há."
Bibliografia: Boletim da Junta de Província do Ribatejo / dir. ed. Abel da Silva. - Santarém : J. R R., 1940.
3 comentários:
Existe um exemplar desse Boletim na Biblioteca Municipal de Torres Novas, assim como há da mesma editora "Ribatejo lendário e pitoresco", "Ribatejo: casos e tradições", "Ribatejo histórico e monumental" e "Subsídios para a história económica do Ribatejo", todos estes de Francisco Câncio. Todos são consultáveis apesar de não ser permitido o empréstimo.
Entretanto, uma pequena oferta, que adivinho que já conhecerá:
http://www.ceg.ul.pt/finisterra/numeros/1980-29/29_05.pdf (Os temporais de Fevereiro - Março de 1978)
e
http://www.ceg.ul.pt/finisterra/numeros/1978-26/26_07.pdf (Os temporais de Fevereiro de 1979 no Ribatejo e região de Lisboa)
Continue o bom trabalho. É sempre interessante encontrar informação nova sobre a nossa terra.
Disponível no Google books (e na íntegra, o que é muito mais preferível), encontrará ainda "História e memórias da Académia Real das Sciências de Lisboa, Volume 2;Volume 8", publicado em 1823, onde, na página 43, consta uma "Descripção economica de certa porção consideravel de territorio da comarca de Thomar, e proxima à margem direita do Tejo", com bastante e bem interessante informação.
QUEM SERIA O PAI-AVÔ,QUE DEU O NOME AO PEQUENO PORTO FLUVIAL,QUE EXISTIU NA NOSSA TERRA,E A SUA LOCALIZAÇÃO,JUNTO A PONTE DA PRAIA,JUNTO A GALIANA,JUNTO AO CASTELO DE ALMOUROL,JUNTO AO LORETO,NA BOCA DO RIO,NA CONFLUENCIA DOS RIOS TEJO E ZEZERE,AINDA NÃO VI NADAESCRITO ACERCA DESTE PORTO FLUVIAL.
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