Nasceu
em 15 de Abril de 1771, em Atalaia, Vila Nova da Barquinha, e faleceu em 17 de
Junho de 1826, em Leiria.
Foi
engenheiro militar. Efetuou levantamentos topográficos em Trás-os-Montes e nos
castelos principais da fronteira portuguesa: Outeiro, Vimioso, Bragança,
Montalegre e Monforte, e executou a “Carta
topographica da parte da provincia de Trás os Montes compreendida entre o Douro
e o Sabor até Bragança”. Completou a planta de Bragança e de Chaves, com
muitas similitudes com a anteriormente levantada, que tinha anexa a do castelo,
três vezes mais detalhada.
Foi
responsável pela obra da Barra e do porto de Aveiro. O assoreamento estava a
matar a cidade e provocava uma grave insalubridade nas áreas pantanosas que não
deixam as águas do mar entrar no interior. Por estudos exaustivos levados por
si levados a cabo, em 3 de Abril de 1808, abriu a Barra, num local estrategicamente
definido. Com a construção do molho sul, sobre a sua direção, pretendeu
normalizar as correntes, a fim de manter o canal de acesso à Ria sempre
desimpedido, de modo a facilitar o escoamento das águas interiores. Estudou a
bacia da ria quanto às marés, a sua cartografia, o movimento das ondas e dos
ventos.
“D. José I, a 27 de Maio de 1756, atendendo
às reclamações dos nossos antepassados, resolveu criar a Superintendência da
Barra e lançar o imposto do real para ser pago por todas as Câmaras da Comarca
de Esgueira, a fim de se custearem as despesas com a abertura de uma nova barra
em São Jacinto.
Os trabalhos não
se puderam então fazer, devido a uma grande cheia: as ilhas e as salinas da
ria, os campos do Vouga e os bairros baixos de Aveiro ficaram inundados por
muito tempo; as águas represadas causaram enormes danos. Apenas em Janeiro de
1757 o capitão-mor de Ílhavo, que era o
aveirense João de Sousa Ribeiro da Silveira, foi autorizado a abrir um
regueirão na areia, onde antes, na Vagueira, tinha estado a barra; mas tudo
isto se tornava muito precário.
Doze anos após,
o Senado Municipal representou a El-Rei sobre a falta de estabilidade e de
segurança da barra; e a este pedido outros mais se seguiram, pois os
infortúnios ocasionados sobressaltavam constantemente a região. Os aveirenses e
a sua Câmara não desistiram das pretensões sobre a abertura de uma barra capaz;
por isso, a 16 de Abril de 1794, a Câmara encarregava o Dr. Manuel Joaquim
Lopes Negrão de conseguir do Príncipe Regente, mais tarde D. João VI, as
providências necessárias para a efectivação das desejadas obras.
Ante a miséria
geral e as doenças que dizimavam a população, a 2 de Janeiro de 1802, o
ministro D. Rodrigo de Sousa Coutinho, depois Conde de Olivares, encarregava os
engenheiros Coronel Reinaldo Oudinot e Capitão Luís Gomes de Carvalho de
separadamente procederem a estudas para a abertura da nova barra, os quais
desistiram do sítio da Vagueira e escolheram um outro perto de São Jacinto,
próximo da anterior localização no século XVI, a 17600 metros a norte da barra
velha. O Eng.º Oudinot enviaria ao Governo o seu projecto a 6 de Março; e a 17
de Abril o Eng.º Gomes de Carvalho remeteria a sua «Memória descritiva ou
notícia circunstanciada do plano e processo dos efectivos trabalhos hidráulicos
empregados na abertura da barra de Aveiro segundo as ordens de S. A. R. o
príncipe Regente Nosso Senhor».
Entretanto, os
homens de Aveiro estavam impacientes por via da insalubridade das águas
pantanosas da laguna, pelo prejuízo na feitura do sal e pelas inundações na
cidade. A própria Confraria de S. Miguel resolveu a 7 de Fevereiro de 1802, já
após aquela decisão superior, que, no primeiro ano depois da abertura da barra
nova, se desse a Sua Alteza Real a terça parte líquida do sal das suas
marinhas, «como prova de gratidão pela munificência que por essa obra havia
tido aquele Príncipe». E a 8 de Abril o Príncipe Regente ordenava a demolição
das antigas muralhas de Aveiro, que ameaçavam ruína, devendo utilizar-se a
pedra nas obras da barra; diríamos hoje que foi uma triste decisão que as
condições do tempo obrigaram a tomar.
Os planos
definitivos dos dois engenheiros, essencialmente idênticos, foram aprovados
pelo Príncipe D. João; recebida a comunicação em aviso régio de 5 de Julho do
mesmo ano, logo se começaram a executar os trabalhos. Em Dezembro de 1803,
estando eles em andamento, Oudinot foi transferido para a Ilha da Madeira, onde
faleceu em 1807; continuou a dirigir as obras o citado Eng.º Luís Gomes de
Carvalho.
Após porfiados
esforços, não sem graves desgostos e contrariedades, a abertura final da barra
nova, facto de excepcionaI importância para o progresso de Aveiro, realizou-se
no dia 3 de Abril de 1808, às sete horas da tarde. Do acontecimento lavrou-se
um auto, que tem a data de 15 de Abril e foi subscrito por Miguel Joaquim
Pereira da Silva; depois de referir os trabalhos preparatórios e a maneira como
se deu o rompimento da duna de areia, lê-se no documento: – «As águas que
cobriam as ruas da praça, desta / 28 / cidade, e os bairros do Alboi e da
Praia, abaixaram três palmos de altura dentro de vinte e quatro horas e outro
tanto em o seguinte espaço, e em menos de três dias já não havia água pelas
ruas [...] e toda a cidade ficou respirando melhor ar por estas providências
com que o Céu se dignou socorrê-la e a seus habitantes com esta grande obra da
barra».
(1)
Existe
uma rua em Aveiro com o seu nome: Eng.º Luis Gomes de Carvalho.
Tem
publicados vários projetos, estudos e obras.
Em
1820 fez um plano de melhoramento das condições de acesso à barra do Douro e
dirigiu a construção de um dique de 600 metros, na extremidade norte do
Cabedelo, hoje designado pelo seu nome (2).
Um notável engenheiro nascido na nossa terra e que pelo presente escrito dou a conhecer a sua obra.
(1)
Pe. João Gonçalves Gaspar, Aveiro e o seu Distrito, n.º 19, Junho de 1975
(2)
Jesus, Maria Eduarda Rodrigues Vieira. Morfodinâmica do Cabedelo da Foz do Rio
Douro. Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, 2003
Mapa
da Biblioteca Nacional de Portugal - CARVALHO, Luís Gomes de, fl. 1803-1829 - Mappa
da Ria de Aveiro para intelligencia do plano da abertura da nova barra / por
Luiz Gomes de Carvalho ; sculp. Queiroz. - Escala [ca 1:59000], 3000 Braças =
[11,20 cm]. - [Lisboa : na Impressão Regia, 1813]. - 1 mapa : gravura, p&b
; 23,70x67,20 cm, em folha de 26,60x69,50 cm
1 comentário:
Luís Gomes de Carvalho não morreu em Leiria mas no Porto, no Quartel do Ouro, na data indicada (assento na freguesia do Lordelo do Ouro, fl. 62 v), sendo aí sepultado.
Maria Helena Dias
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