Questão
de difícil resposta.
Recuemos
até ao reinado de D. Pedro I, anos de 1357 a 1367. Com a morte de D. Lourenço
Rodrigues, bispo de Lisboa, em 1364, o rei manda proceder ao inventário do
falecido. Ficamos a conhecer que “constituem rendimentos episcopais os direitos
sobre vários templos da diocese, com particular incidência para as igrejas da
cidade e do termo de Lisboa, da Azambuja, Alenquer, Almoster e das vilas e dos
termos de Santarém (S. Salvador, S. Julião, S. Nicolau, S. Mateus, S. Martinho,
Santo Estêvão, S. Lourenço e Santa Cruz de Santarém, Santa Maria de Marvila, S.
Pedro da Arrifana, Almonda e Atalaia) … Dão também corpo a este levantamento o
cadastro das igrejas onde D. Lourenço Rodrigues tinha arrendada a terça
pontifical (Entre outras, as igrejas de Pederneira, Cós, Maiorga, Aljubarrota,
Cela Nova, Évora de Alcobaça, Turquel, Santa Catarina de Póvoa, Alpedriz,
Pontével, Almoster, S.Lourenço e S. Julião e S. Martinho de Santarém, S. Paulo
de Salvaterra, Atalaia … “ (1)
Tal,
já existia igreja na Atalaia ao tempo do falecimento do bispo de Lisboa, em
1364.
Mas
onde se situaria esta consabido que a actual Igreja Matriz da Atalaia fora
construída em 1528 como demonstra a gravação numa pilastra que ladeia o arco da
sua capela-mor?
Podemos
conjecturar que a nova igreja fora construída sobre a antiga o que era
frequente à época. No Boletim da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos
Nacionais (2) é levantada a hipótese de ter existido no chão da Igreja ou nas
suas imediações outro templo de mais modesta construção a onde deve ter
pertencido a imagem da virgem, escultura gótica do século XIV, que sempre se
venerou na Atalaia.
Na
minha singela opinião inclino-me para que a Igreja matriz fosse a ermida de S.
Sebastião, situada no "Rocyo", a escassos 300 metros da actual igreja
matriz, pois parafraseando o Prior Bernardo Marques de Carvalho, nos inquéritos
paroquias de 1758 este assegura que aquela ermida “algum dia serviu de matriz”.
Certo é que das pesquisas que efectuei não consegui chegar a nenhuma conclusão
sustentável permanecendo esta questão no limbo como muitas outras da nossa
terra.
Outra
questão deveras curiosa é a questão da padroeira da Atalaia.
Hoje
temos por designação que é Nossa Senhora da Assunção. Porém, a imagem de pedra,
de boa escultura, atribuível a Diogo Pires, o Velho, que assenta numa mísula
renascença (3), figura proeminente na sua capela-mor da Igreja da Atalaia é
Nossa Senhora com o menino ao colo e, seguramente, não é a padroeira. Conforme
escreveu Frei Agostinho da Santa Maria no Santuário Mariano, “a sua forma não
diz com o mistério, porque tem sobre o braço esquerdo o Menino-Deus”. Assim,
apesar da sua beleza, é descabido denominar-se de padroeira a imagem da
escultura de pedra do altar-mor. Esta é, seguramente, Nossa Senhora da Atalaia.
Singular é referir que nos painéis de azulejos inferiores há duas imagens da
Virgem que caracterizam o novo oráculo e o antigo, Nossa Sr.ª da Rosário, o
antigo, e Nossa Sr.ª da Assunção, o novo. Porque será que a Padroeira foi
relegada para 2.º plano? Não sei responder. Certo é que a fundação e o
povoamento de Portugal coincidiram com um grande devoção mariana motivada pelo
ideal da idade média de exaltação da mulher, cujo exemplo perfeito era a Virgem
Maria.
Por
conseguinte seria lógico que Maria Santíssima fosse escolhida para padroeira de
quase metade das igrejas das terras sucessivamente incorporadas no território
português e que, também, a nossa Igreja da Atalaia lhe seja dedicada.
(1) SARAIVA, Anísio Miguel de Sousa – O quotidiano da Casa de D. Lourenço Rodrigues, bispo de Lisboa (1359-1364†): notas de investigação. Lusitania Sacra. Lisboa. 2005
(2) A Igreja Matriz da Atalaia, Boletim da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, n.º 24. Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, Lisboa, 1941
(3) Diogo Pires-o-Velho notabilizou-se no campo da escultura, em Coimbra, executando inúmeras esculturas de Nossa Senhora com o Menino.
(1) SARAIVA, Anísio Miguel de Sousa – O quotidiano da Casa de D. Lourenço Rodrigues, bispo de Lisboa (1359-1364†): notas de investigação. Lusitania Sacra. Lisboa. 2005
(2) A Igreja Matriz da Atalaia, Boletim da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, n.º 24. Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, Lisboa, 1941
(3) Diogo Pires-o-Velho notabilizou-se no campo da escultura, em Coimbra, executando inúmeras esculturas de Nossa Senhora com o Menino.
1 comentário:
Muitos parabéns por esta nota sobre o património da Atalaia ....
Deixo só um comentário à questão da referência de “algum dia serviu de matriz”, que se dá à Ermida de São Sebastião ... esta nota não quer dizer necessariamente que a Ermida tivesse sido a antiga matriz, o mais provável é que, em algum tempo, por ex. na construção da nova matriz em 1528, ela substituísse a a antiga matriz enquanto a nova se construía ... tenho encontrado situações similares em outras localidades ... mas, claro, são tudo possibilidades!
Enviar um comentário